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[GAIDENS] AS CRÔNICAS DE ATHENA


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Índice dos Gaidens:

 

Saga e Kanon — Caminhos Diferentes para o mesmo Destino

Editado por Leandro Maciel Bacelar
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apresentações...

 

 

O ano é 1985. Das mais obscuras profundezas do Tártaro, os Titãs são colocados em liberdade por um desconhecido. Alheio a isso, o Santuário de Athena se vê em meio a muita tensão com inúmeras crises acontecendo praticamente ao mesmo tempo. Além de lidar com a ameaça dos inimigos declarados, outros estão a espreitar nas sombras, aguardando apenas o melhor momento para agirem...

 

 

Em as Crônicas de Athena, Titãs e Deuses lutarão pela hegemonia sobre todas as coisas que existe. No meio desse embate de proporções cósmicas, Athena e seus sagrados Cavaleiros, buscarão salvaguardar a humanidade e manter viva a chama do ideal que os une.

 

A margem de tudo isso passado, presente e futuro se encontrarão, revelando entre tantas coisas: a origem das primeiras Guerras Santas de Athena, como a Deusa teria ascendido ao poder obtendo de seu pai Zeus a responsabilidade de governar a raça humana.

 

A você que está neste momento lendo essas palavras e que tenha por alguma razão se interessado por esse projeto, gostaria de agradecê-lo por sua atenção e ilustre visita.

Sou o Leandro.

 

Apesar de ser um membro recente desse Fórum já venho aqui como visitante há bastante tempo.

 

Como tenho uma vida profissional e pessoal bastante agitada ocorreu de toda essa demora para formalizar minha estada por aqui.

 

É com grande satisfação que me incorporo a vocês que compõem essa grande família e espero de alguma forma contribuir para a perpetuação desse sonho do qual agora, de certa forma, também faço parte.

 

Já que estamos falando de ‘sonho’, é com orgulho que venho trazer a essa Fórum as Crônicas de Athena.

 

Um sonho antigo, idealizado a custas de muito esforço e perseverança.

 

A história que a permeia abarca uma reinvenção do universo de Saint Seiya incorporando elementos de todas suas franquias e estabelecendo padrões próprios.

 

Inclusive, as mitologias que servem como base e plano de fundo para as histórias acabaram por sofrer alterações — algumas bastante significativas.

 

Outra coisa interessante com relação às mitologias e demais crenças é a junção das mesmas num contexto geral para Saint Seiya, tendo obviamente como base, à grega que é o alicerce da obra.

 

Os textos estarão divididos em Livros e Gaidens que devem ser postados como capítulos sempre as sextas-feiras quando estiverem à disposição do público.

 

Nos Livros poderá ser encontrado toda trama que norteia a história principal.

 

Já os Gaidens trarão esmiuçados os antecedentes de alguns personagens e eventos que orbitam aquilo que acontece nos Livros.

 

Ainda sobre a história...

 

Não me considero em si o autor dela, seria muita pretensão da minha parte.

 

Confio a mim apenas uma pequena parcela de sua realização, sou como alguém que se serviu do muito que já existia e apenas lapidou e organizou as ideias conferindo-as um toque pessoal.

 

Tudo que os leitores irão acompanhar nas Crônicas foi inspirado em tantas outras obras.

 

Inclusive com passagens de textos retirados e condicionados de franquias como Bleach, Naruto, Fate... HQs... livros de autores consagrados como Tolkien, Anne Rice, Dan Brow... e até mesmo de outras Fanfics como a Middle Age.

 

Aqui abro um parênteses, pois foi a Middle Age que me forneceu a maioria dos parâmetros do qual lancei mão. Desde técnicas, nomes, diálogos e tudo que considerei proveitoso foram de certa forma usados como alicerce para as Crônicas de Athena.

 

Não há em mim a vergonha de ter lançado mão de usar tantas outras obras como referência e até mesmo me apossar de suas ideias e nem considero tal ato como limitação, se bem que não contestarei aquele que assim pensar.

 

Muitos acharão que as Crônicas é uma mera cópia ou arremedo, bem, vou deixar que o tempo defina isso.

 

Pois agora começa as Crônicas de Athena!

 

 

 

“E se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes (ISAAC NEWTON).”

 

Boa leitura a todos.

 

 

 

 

 

 

GAIDEN SAGA E KANON (CAMINHOS DIFERENTES PARA O MESMO DESTINO)

 

Índice dos Capítulos:

 

Parte 1 — Uma Armadura para Dois

 

Parte 2 — Gêmeos em Batalha

 

Parte 3 — A Força de Castor

 

Parte 4 — A Liderança de Pólux

 

Parte 5 — Pérfida Aliança

 

Parte 6 — Contraparte

 

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — primeira parte

 

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — segunda parte

 

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — terceira parte

 

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — quarta parte

 

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — quinta parte

 

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — sexta parte

 

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — sétima parte

 

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — oitava parte

 

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — penúltima parte

Editado por Leandro Maciel Bacelar
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Parte 1 Uma Armadura para Dois

 

Noite. Ano Terrestre de 1973.
Santuário. Casa de Gêmeos.

 

 

Durma.”

A voz era gentil e ao mesmo tempo soava autoritária.

Saía dos lábios de Saga, mas parecia pertencer a outra pessoa.

Ele estava completamente sozinho nas dependências particulares da terceira casa zodiacal.

Sob seu corpo ainda trajava a esplêndida Armadura de Ouro de Gêmeos, algo que por muito tempo foi seu maior objeto de desejo e que agora não passava de um fardo.

Justaro, o servo que cuidava daquela morada, o havia recebido com toda reverência naquela mesma noite após ele ter tido uma exaustiva conferência pessoal com o Grande Mestre a respeito de sua consagração como Cavaleiro de Ouro, a trágica morte de sua mentora e a punição imposta ao seu irmão Kanon.

O velho homem o conduzira pelas acomodações da casa até um cômodo suntuoso em uma parte próxima aos fundos.

O aposento estava selado por um portal duplo reforçado. Era adornado em alto-relevo com a imagem imensa de dois irmãos gêmeos.

Como era de se esperar, Justaro abriu a porta, mas não entrou.

As mansões que compunham as Doze Casas naturalmente já eram proibidas a qualquer um que não fosse o Cavaleiro de Ouro que as guardava, com a única exceção aplicável aos servos que mantinham a moradia em ordem e atendiam aos desejos e necessidades de seu guardião.

Mas dentro de cada casa zodiacal havia um aposento em que nem mesmo os servos podiam entrar sem permissão:

Era o Salão Sagrado.

 

Local onde cada Cavaleiro de Ouro repousava e deixava sua sagrada Armadura.

Saga havia agradecido Justaro e em silêncio adentrara.

O servo fechou a porta e se retirou para providenciar algo para ele comer.

Dentro do quarto a urna dourada de Gêmeos já estava colocada no altar de seu repouso.

A cama em que ele dormiria estava disposta em outro canto, era pintada de branco com um cortinado.

Ao olhar para ela, Saga tinha ouvido aquela estranha voz vinda dele mesmo que insistira para que ele descansasse.

 

Junto da voz veio subsequente uma onda de exaustão, e por um ínfimo instante ficou a acalentar que talvez o sono pudesse lhe trazer algum sossego, proporcionar, quem sabe, uma breve fuga daquele horror que era sua vida.

Reagiu corajosamente ao impulso e continuou a andar pelo quarto.

Caminhava discretamente, tomando todo o cuidado para que seus passos soassem baixos e imperceptíveis.

Não pôde deixar de se maravilhar com o ambiente a sua volta.

O Salão Sagrado era imenso e muito luxuoso.

As paredes de mármore eram revestidas de paurosa e havia alguns espelhos emoldurados que se elevavam até o teto.

Viam-se arcas pintadas, cômodas, urnas gregas e cadeiras estofadas delicadamente expostas com esmero nos nichos do aposento.

Pequenas coleções de livros jaziam em estantes com portas de vidro.

Um imenso e ostentoso candelabro feito de ouro insinuava-se imponente no teto, lançando uma luz cálida em todo o ambiente.

Era envolto por um painel que se projetava do teto e retratava com fidelidade as galáxias e o local onde permanecia a constelação de gêmeos.

Em um dos cantos havia duas altas e estreitas portas envidraçadas que se abriam para um pequeno jardim particular, onde canteiros de lírios exalavam um poderoso perfume.

 

Por uma porta larga, que ficava na outra extremidade, Saga adentrou num imenso banheiro revestido pelo mesmo mármore branco do Salão Sagrado.

Havia muitas velas aromáticas para a iluminação e cada peça disposta parecia ter sido trabalhada com o devido requinte.

Mais uma vez ficou impressionado diante de tanto luxo e conforto.

No entanto a banheira em si foi o que mais o deixou abismado.

Ali, diante de uma parede envidraçada que refletia sob tons de ébano o local, jazia toda de mármore negro com água já quente fumegante.

Provavelmente Justaro já havia deixado tudo preparado de antemão.

Olhava ainda com interesse a banheira.

Ela era construída como uma pipa imensa, e tinha tamanho suficiente para várias pessoas se banharem juntas.

Notou que havia ao lado, disposto num beiral, uma pilha de toalhas incrivelmente brancas e com aroma agradável.

Em outro ponto encontrava-se também frascos com ervas e flores secas cujo cheiro ele sorveu com deleite.

Tinha ainda outros recipientes menores onde ficavam óleos que Saga imaginou servir para a realização de unguentos.

Percebeu de esgueira num espelho, sua própria imagem refletida, e pela primeira vez dera se conta de como estava imundo.

 

Trazia muita sujeira em seu corpo e algumas manchas ressequidas de sangue.

Voltou a olhar para a banheira e ficou por um breve instante a imaginar como seria agradável se lavar ali, chegou até mesmo a tocar na superfície da água aquecida e a fechar os olhos se entregando aquela sensação.

Os minutos arrastaram-se até que ele voltou imergir em seu sofrimento interno que estava esmagando sua alma.

Ele se retirara do banheiro e voltara para o quarto.

Uma suave brisa sobrenatural atravessou o longo aposento e foi de encontro à sua vestimenta dourada.

De maneira sutil o vento balançou a capa alva presa as suas costas.

Se assim pudesse ficar pelo resto da eternidade, como se ele mesmo não existisse, como se nada daquilo tivesse acontecido, assim Saga o faria.

 

 

 

Quatro horas atrás.

 

 

 

Enquanto o sol se preparava para deitar no horizonte, tingindo de cores aberrantes o céu, a vida encenava mais um de seus dramas no alto daqueles rochedos que formavam falésias diante da imensidão azul e encrespada do mar Egeu.

Havia três pessoas no palco para a dramatização.

Na verdade dois deles perpetrariam o ato principal, a outra era uma mera coadjuvante, quase uma espectadora, ou juíza, daquilo que estava para acontecer.

A excitação dos dois garotos de pele alva amorenada pelo sol, altos para sua idade, com pouco mais de doze anos, de olhos e cabelos negros azulados, desgrenhados até um pouco além do queixo, era quase palpável tamanha sua intensidade.

Seriam eles os responsáveis pela tragédia que se sucederia.

Ao menos para eles, aquele era um momento decisivo de suas vidas.

Uma ocasião pelo qual haviam sonhado e aguardado ardentemente.

A coadjuvante daquele drama estava apenas a observá-los em silêncio, parecia, como sempre, os estar avaliando, medindo, julgando-os...

Trajava sob sua figura baixa, magra e ereta uma velha e surrada túnica de cor negra desbotada que se arrastava pelo chão.

Seu rosto ocultava-se nas sombras lançadas pelo capuz que compunha o traje e pela Máscara de Silêncio inerente aquelas que serviam as fileiras de Athena.

As mãos e antebraços, as únicas partes do corpo que hora ou outra se mostravam visíveis ao se projetar das longas mangas à medida que esta gesticulava, revelava uma pele clara, bastante manchada e enrugada, com algumas chagas ressequidas, o que denunciava a idade consideravelmente avançada da mestra e que ela possivelmente sofria com alguma doença celular degenerativa.

Os outros dois mais jovens eram os irmãos gêmeos Saga e Kanon.

Ambos levavam em seus rostos a inocência de suas tenras idades, misturada à maturidade forçada àqueles que já presenciaram os incontáveis horrores da vida.

Vestiam um conjunto simples e surrado de calças e blusa de algodão de cor parda.

Em seus punhos e braços existiam faixas que envolviam toda a musculatura rígida.

 

Mesmo sendo gêmeos e vestindo-se de maneira tão semelhante, a diferença entre eles era notória.

A primeira vista era impossível dizer quem era quem. Mas bastava um olhar mais atento para as sutis diferenças entre os dois irmãos saltarem aos olhos.

Saga tinha sempre um semblante calmo e ponderado, algo que muitas vezes era erroneamente tratado por aqueles a sua volta como apatia ou tristeza.

 

Seu comportamento se moldava no altruísmo e em gentilezas para com todos.

Havia nascido numa das famílias abastadas de Rodório, um vilarejo próximo ao Santuário, e desde muito pequeno treinava pela honra de um dia poder se tornar um dos sagrados Cavaleiros de Athena.

Aparentemente acalentava em seu coração ideais de justiça e amor ao próximo.

Contudo, nutria também uma aversão pelo mundo ser da forma como era; Saga abominava o sofrimento, a maldade e as tantas diferenças que apartava as pessoas. Não aceitava de modo algum qualquer argumento que as justificasse. E no seu intimo, estava mais que disposto a por um fim nessas coisas, custasse o que custasse.

Kanon por sua vez era o completo oposto.

Egoísta ao extremo e até certo ponto cruel, constantemente ostentava uma postura altiva e um comportamento um tanto violento e agressivo.

Assim como seu irmão treinara desde muito pequeno.

Mas Kanon nunca esteve interessado em ideais ou se preocupava com virtudes como honra e bondade.

Queria ser agraciado com o título de Cavaleiro apenas para se tornar invejado, temido e reverenciado.

A Armadura seria um troféu, algo que atestaria sua inigualável força e superioridade perante os demais.

Desde o começo, mostrara uma tenacidade impressionante no emprego do Cosmo e das artes destrutivas que o envolve, em alguns pontos, aparentemente maior do que a de Saga, que sempre estivera mais preocupado em adquirir conhecimento e sabedoria, e a trabalhar o próprio caráter.

Caminhos diferentes para o mesmo destino!

 

Saga mirava o irmão tentando encontrar cumplicidade.

Algo que denotasse a certeza que sua irmandade permaneceria mesmo após um deles ter adquirido a Armadura, que não haveria rancor ou mesmo inveja, deveria haver sim, união, porém, o olhar que recebia de volta de Kanon, com suas íris negras, estava repleto de asco, rudeza e até mesmo, ódio.

Escutem-me bem jovens Aspirantes a Cavaleiros!

Começou a falar a velha Amazona com sua voz falha e arrastada.

— Desde tempos imemoriais os sagrados Cavaleiros de Ouro tem sido a elite máxima dos exércitos de Athena...

 

“Verdadeiros paladinos da justiça que induzem ao pavor as hostes adversárias.”

“Sob o traje dourado que um de vocês irá envergar hoje repousa a glória e o fardo de ser a maior força que caminha pela Terra.”

 

Saga suava copiosamente.

Muito nervoso ele continuava buscando algum tipo de resposta mais branda da parte de Kanon, que impaciente, começava a queimar seu Cosmo.

— Mestra...

Chama ele inseguro ao ver que está havia chegado ao fim do seu discurso.

— Sim?!

Nós só não íamos lutar na próxima primavera?

— De fato. Mas mudei de ideia. Preferi testar a força de seus espíritos quanto à ansiedade.

— Para mim tanto faz...

Com ares de desdém, Kanon dá de ombros e se intromete na conversa.

 

— Hoje ou daqui um ano... não importa... eu vou vencer de qualquer jeito.

CHEGA!

Interrompe autoritária a anciã, elevando a voz, algo que a faz pigarrear e tossir violentamente; após controlar o acesso, e afastar com um gesto Saga que viera em seu auxilio, em tom mais ameno, acrescenta:

— Estou farta...

 

A voz soou baixa, como a um murmúrio, enquanto a velha Amazona ainda arquejava.

 

— Farta dos dois e de suas briguinhas tolas.

 

Cassandra tomou fôlego e se refazendo aos poucos, prosseguiu:

 

— Desde o momento que vieram a esse mundo, até conseguirem se colocar de pé, eu os treinei...

 

“Os suportei em minha companhia.”

“Dia após dia ensinei tudo o que sabia sobre o mundo, artes da guerra e o... Cosmo.”

 

“Não vou esconder que ambos são merecedores do título de Cavaleiro de Ouro dado a dádiva do imenso poder com o qual já nasceram, e seria fabuloso para Athena e o Santuário os terem a sua disposição...”

Na face de Kanon fica explícito seu desconforto por sua mentora comparar sua força com a do seu irmão. Achava aquilo um absurdo. Ele era o mais forte. Já tinha provado inúmeras vezes.

 

O jovem Aspirante rangeu os dentes, os exibindo, involuntariamente, numa careta feroz.

 

Ele iria aniquilar qualquer força opositora a sua supremacia.

 

Nada no universo seria mais forte do que ele.

 

Qualquer traço de poder, por mais insignificante que fosse, seria sumariamente eliminado.

 

Somente o poderio de Kanon subsistiria!

 

— Contudo, a mesma grandiosidade que os cercam opõem-se uma a outra, algo tão controverso e aterrador que poderia ocasionar num grande mal vindouro... — Continuava a falar a anciã.

 

“Em suas visões do futuro o Grande Mestre soube disso, e inicialmente pretendia executá-los, mas mediante a um pedido pessoal meu, reconsiderou.”

 

“Prometi a Shion que dentre um de vocês eu faria elevar-se a verdadeira grandiosidade travestida de bondade e justiça.”

 

“E que o outro, a grandiosidade em forma de mal e desgraça, seria extirpado.”

 

“Bom...”

Este momento é chegado.”

 

Silêncio.

 

— Apenas um será o Cavaleiro de Ouro da Casa de Gêmeos, ao outro está reservado à morte.

— Então é só isso?!

 

“Preciso apenas derrotar, de novo, e dessa vez matar, o meu querido irmãozinho?!”

Ironiza Kanon com um largo sorriso jocoso não dando aparentemente a mínima para aquilo tudo que sua Tutora havia revelado.

— Se conseguir e não pense que será tão fácil como das ultimas vezes.

 

Retruca Saga, enquanto parte de sua mente pesava cada palavra dita por aquela que o conduzira até aquele fatídico momento.

 

No seu âmago, sente uma onda de repulsa e ódio por ela e Shion disporem e decidirem de tal forma sob seu destino e o de seu irmão.

 

Quem lhes dera esse direito?!

Por um instante tudo ficou quieto novamente.

Somente o som da brisa marinha e da túnica de Cassandra esvoaçando, eram audíveis.

De súbito, Kanon, brinda a todos com mais um de seus sorrisos e explode seu Cosmo, já desperto, de tal modo que todo o local parece ressentir.

 

O solo treme já exibindo algumas fissuras. As águas do mar se encrespam ainda mais e o próprio céu dava a impressão que iria desabar.

— Magnífico...

 

Prossegue o jovem Aspirante ainda descrente.

— Então, de fato, tudo se resume a uma simples vitória sobre Saga...

“Além de conseguir com isso a sagrada Armadura de Ouro de Gêmeos ainda me verei livre do fardo de ter uma cópia mal feita minha perambulando por aí.”

Melhor impossível!”

Gargalha alto, enquanto seu corpo já assumia uma postura ameaçadora.

— Mestra, por favor...

Saga estava quase suplicando.

— Isso não faz sentido... nem é correto... como pode exigir que nós... irmãos... assassinemos um ao outro em prol de uma visão que nem sabe ao certo se vai ou não se cumprir?

— Deixe de drama, irmãozinho...

 

Interveio o outro.

— Que se dane as razões...

 

“Aquela Armadura me pertence desde o início e se para confirmar o óbvio é preciso matá-lo, para mim será a realização de algo que já venho cogitando há muito tempo.”

— Pare com isso, Kanon... não precisa ser assim e...

Mas será, Saga!

 

“Goste você ou não disso.”

Dessa vez quem interrompe é Cassandra.

— E muito me decepciona ver você, um erudito nos costumes do Santuário, conhecedor de sua hierarquia e história, se atrever a questionar as predições do Grande Mestre e minhas ordens...

 

“Será que se esqueceu do seu lugar?!”

 

— Mestra...

Envergonhado, o jovem articula algo em defesa própria, mas a voz debochada e maldosa de seu irmão se intromete mais uma vez:

— Sabe mestra, sua decepção em relação a esse fraco irá aumentar consideravelmente daqui a pouco... vou derrotá-lo, de novo, só para confirmar o que eu já cansei de dizer em todos esses anos:

“Bastava apenas eu como Aspirante à Cavaleiro de Ouro de Gêmeos!”

Chega Kanon!

Grita Saga, colérico e profundamente ofendido.

 

— Eu não sou fraco, nunca fui... e nem tenho qualquer intenção de macular as leis e costumes de Athena... apenas não quero isso... não precisa ser assim e...

— E você é um idiota que só pensa nessas bobagens de justiça e honra.

O que?!

— É isso mesmo seu cretino!

“Você não tem espírito de guerreiro, é um maricas que pensa que o mundo deveria ser cor de rosa.”

“Vive com essa ilusão ingênua de que um dia haverá paz e igualdade para todos sob essa terra maldita.”

Sonha com um mundo sem guerras!”

“Estou farto de suas conversas sobre bondade.”

A voz de Kanon fervia em tom baixo, os olhos cintilando de ódio e repulsa.

— Suas conversas fiadas sobre o bem e o mal, sobre certo ou errado, e a morte, oh sim, a morte, o horror, a tragédia...

Palavras cáusticas.

Nascidas da corrente sempre crescente do ódio, como flores desabrochando na chuva, as pétalas se abrindo e caindo no chão.

— C-Cala a boca...

Saga estremece encurvando-se para frente um pouco; algo em seus olhos e cabelos parece destoar. Era como se suas colorações naturais quisessem, de alguma forma, alterar-se.

 

Como se desejasse conter tal acesso, ou mesmo ocultá-lo, uma de suas mãos é levada ao rosto; os dedos polegar e médio se distanciam trêmulos, revelando, em meio a fios de cabelo, hora negros azulados, hora argentos, um dos olhos.

 

Kanon estava sendo fitado por aquela única órbita ocular e em toda sua vida jamais se esqueceria da sensação:

 

Sob aquela íris sanguinolenta, onde enxergava refletida sua própria imagem, se sentiu insignificante como a um inseto.

 

Era como se toda sua altivez e convicção o deixassem.

 

Sem essas coisas se viu perdido.

 

Abandonado como a uma criança chorosa quando está é privada da segurança do amor de seus pais.

 

Tudo desvaneceu como a um desagradável pesadelo quando o olho se fechou. E depois de aberto novamente, o carmesim vivo que antes figurava, havia dado lugar à negritude habitual das vistas de Saga.

 

Seu irmão havia voltado a ser quem era e por alguma razão, Kanon se sentia muito aliviado e até mesmo grato por aquilo.

V-Você e nem ninguém, tem o direito de me julgar e de zombar de meus ideais...

 

Dizia Saga, num sincero desabafo, movendo para longe, a mão, ainda trêmula, que havia repousado sob a face.

 

— E será que é tão cego ao ponto de não perceber o que está em jogo aqui?!

 

“De como nos veem como algo abominável e pretendem nos fazer destruir um ao outro pelas nossas próprias mãos?!”

— Já disse que nada me importa...

Kanon dá um sorriso enviesado.

 

Tentava mascarar sua confusão ante a transformação que seu irmão acabara de sofrer diante de si.

— Só estou interessado na Armadura e em chutar a sua bunda... de novo...

Continuou.

 

— Você não é homem para isso.

— Não?!

— Não... NÃO É!

Saga desperta a intensidade do seu Cosmo igualando o seu poder com o do irmão que o estava medindo de cima a baixo.

 

— Veremos então — Sibila, Kanon.

 

Sem nenhum dos dois perceber, a mestra, que a tudo havia observado, inclusive a assustadora metamorfose momentânea de Saga, desaparecera, com seu VIAJANTE DO ESPAÇO, em meio a inúmeros saltos dimensionais que abrira Pontes de Einstein-Rosen(1), teleportando-se, surgindo mais ao longe, distante a vários quilômetros deles, se guiando apenas pelos seus Cosmos.

 

Sabiamente havia de antemão evacuado toda aquela região.

 

Num raio de dez quilômetros não havia o menor vestígio de qualquer vida humana.

 

Como sempre, isso vai acabar bem rápido...

Diz Kanon, convicto entre dentes, os joelhos flexionando semelhante a molas.

— Será mesmo?!

Retruca Saga em tom desafiador, completamente refeito, com o corpo também se arqueando.

Um combate sem precedentes estava prestes a começar.

 

 

(1): Sendo uma atribuição topológica hipotética do continuo espaço-tempo, as Pontes de Einstein-Rosen (também vulgarmente chamadas de Buracos de Minhoca) são atalhos que permitiriam aparecer e desaparecer de um ponto a outro no espaço e em alguns casos, até mesmo no tempo.

Editado por Leandro Maciel Bacelar
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  • 3 semanas depois...

LEMBRE A HISTÓRIA

 

Parte 1: Treinados por Cassandra, Saga e Kanon se veem frente a frente numa batalha onde apenas um deles deverá sair com vida. Em jogo, além da própria sobrevivência, a posse da valiosa Armadura de Ouro de Gêmeos.

 

 

 

Parte 2 Gêmeos em Batalha

 

 

Noite. Ano Terrestre de 1973.
Santuário. Casa de Gêmeos.

 

 

Foi um dia muito cansativo, nós deveríamos descansar.”

Insistiu a mesma estranha voz que era na verdade sua, mas que parecia tão nitidamente pertencer à outra pessoa.

Ao som desta, Saga emergiu dos seus tortuosos devaneios de outrora.

Dessa vez, respondeu balançando negativamente a cabeça.

Queria falar algo sobre sua Mestra e principalmente trazer a tona o que havia ocorrido com seu irmão.

Dizer que não podia deixar Kanon preso naquele lugar amaldiçoado.

No entanto, antes que pudesse verbalizar alguma coisa, seus cabelos começaram a ser sobrenaturalmente tingidos de prata. Os olhos se arregalaram e nestes havia uma nuvem etérea de sangue que estava se alastrando por toda negritude habitual da íris.

Trêmulo e arqueado, como que tomado por uma agonia exasperante, o Cavaleiro de Ouro de Gêmeos cambaleou semelhante a um bêbado trôpego, esbarrando numa cômoda, fazendo com que a delicada urna repousada nesta, desestabilizasse e viesse ao chão.

 

Sobressaltado, ele tenta agarrar o objeto em meio a sua queda, mas acaba falhando desgraçadamente em seu intento.

 

Saga olha para o amontoado de cacos e inadvertidamente desata a rir.

 

Ria com gosto.

 

Depois do surto, passou a segurar ambos os lados da cabeça; os dedos se cravando como garras no couro cabeludo.

 

Sentiu aquele brado se elevando de novo de dentro dele, aquele urro que afastava tudo de seu caminho.

Trincou os dentes para detê-lo.

— A-Afasta-se de m-mim...

 

Como que se zombasse dele, uma risada contida escapava como um silvo, vinda do interior de sua própria garganta. Em sua face, os contornos demoníacos de um sorriso tremulavam tentando vencer o esforço que mantinham os lábios finos encerrados.

Saga não podia deixar que ele assumisse novamente o controle.

 

Já havia perpetrado desgraças demais naquele dia.

 

 

 

 

De volta as lembranças de Saga.

Pouco menos de quatro horas atrás.

 

 

Pareciam dois mísseis em rota de colisão.

 

Voavam rente ao solo.

 

Seus corpos sendo pouco mais que borrões indistinguíveis.

 

Em suas esteiras, abrindo-se semelhante a um leque, contínuos arcos de pressão ondulavam o mundo que passava velozmente em volta, fazendo com que este, entrasse em profundo colapso.

 

Por um instante, como que por mágica, tudo perde sua mobilidade, e as figuras, antes indecifráveis, se revelam como sendo a dos irmãos gêmeos Saga e Kanon.

 

Naquele cenário estático, e pouco provável, os garotos eram os únicos a se moverem.

 

Faziam isso como se estivessem em câmera lenta.

 

Seus corpos deixando, a cada quadro de ação, um resíduo espectral que, quando avançavam, ganhava materialidade, e depois, desvanecia para dar origem a outro vulto holográfico que prosseguia com o ciclo.

Estavam a ponto de se colidirem quando, como que munidos pelo mesmo pensamento e determinação, arremeteram furiosamente seus punhos na direção um do outro.

Durante o derradeiro percurso, os membros quase chegam a se resvalar, atingindo por fim, o rosto de cada um deles.

 

Nesse fatídico instante tudo fica quieto.

 

O mundo passa a girar cada vez mais célere.

 

Tingindo-se abruptamente de negro com contornos alvos.

 

Até tudo se confundir como num caleidoscópio.

 

Sucede então o estrondo.

 

Algo tão avassalador que tímpanos desavisados se destroçariam caso estivessem próximos demais.

 

Ao largo, na cidade de Atenas na Grécia, com a eminência do anoitecer, muitos conseguem ouvir, mesmo em meio a balburdia urbana, o portentoso clamor.

 

No Santuário não há quem não o ouça.

 

De volta ao local, o curso temporal já havia retomado sua normalidade, e o que se vê após o alarido, é uma monumental abóbada de pressão, que como uma gigantesca flor desabrochando, se expandia até o limite extremo e final de sua ruptura.

 

Tamanha é sua força que tudo em seu caminho é varrido, expurgado forçosamente de seus alicerces.

 

Mesmo a inexorável massa aquática recua semelhante a paredões, revelando as profundezas ocultas do Egeu.

 

Há quilômetros dali, detida numa ampla elevação rochosa próxima a costa, Cassandra, envolta numa película de Cosmo, que estava agindo como a um balsamo, têm seu corpo decrépito inadvertidamente açoitado por um irresistível vácuo que primeiramente tenta jogá-la para trás e que depois, como a um redemoinho, tenta sugá-la.

 

Resistir a isso exige da anciã uma demanda de força que a deixa de joelhos e ofegante.

 

O capuz que envolvia e ocultava as feições da velha Amazona fora retirado, tencionado para trás, e depois para frente, semelhante à túnica negra que a vestia.

 

A máscara que usava era encimada por uma rala cabeleireira branca que vinha escorrendo oleosa até o queixo. Está expunha, em meio a falhas, partes do crânio com chagas ressequidas.

 

Já refeita, a Tutora de Saga e Kanon conserta a postura e ajeita sua indumentária.

 

Em nenhum momento havia cessado de acompanhar pelo Cosmo, o desenrolar do embate de seus pupilos que prosseguia a toda:

 

O rochedo onde anteriormente estavam não mais existia.

 

Seus destroços despencavam na direção de um abismo, atingindo com violência, as rochas e as águas revoltas do mar Egeu lá embaixo.

Sob o maior dos escombros, uma rocha de dezenas de toneladas, a mais ou menos duzentos metros do fundo, se encontrava a figura austera dos dois meninos de pele clara e cabelos negros azulados curtos e desgrenhados.

Contrariando toda lógica possível, eles pareciam não se importar com o fato de estarem em queda livre e que em mais alguns instantes seus corpos frágeis se arrebentariam contra as rochas no final daquele pavoroso precipício.

Inicialmente, após a explosão irradiada pelo choque titânico de seus punhos, ambos continuaram atacando.

Tanto um como o outro estavam empenhados numa confrontação física onde despejavam verdadeiras avalanches de socos e chutes.

A maioria desses ataques eram efetivos e atingiam com precisão e inclemência o alvo.

Os dois, mesmo envoltos por uma aura cósmica defensiva, já exibiam diversas escoriações e sangravam em alguns lugares.

Muitos relâmpagos, atraídos como moscas pelo conflito incessante de seus Cosmos dourados que emitiam flashs de luz a intervalos erráticos, recortavam o ar e explodiam as rochas desprendidas ao redor deles.

O escombro onde estavam empoleirados ameaçava ruir a qualquer instante.

Podia se enxergar nele inúmeras fissuras e fragmentos cada vez maiores que se soltavam a cada nova troca de golpes dos irmãos.

Mas vejam só!

“Acho que meu querido irmãozinho andou escondendo de mim o jogo todo esse tempo.”

 

Bradava Kanon tentando forçar um sorrisinho ao mesmo tempo em que se desvencilhava de um chute lateral de Saga e usava a perna ainda estendida do irmão como alavanca para alçar voo.

— Que foi "irmãozinho"?!

“Pensei que havia dito que acabaria com isso rapidamente?!”

Retrucou Saga tentando imitar os trejeitos jocosos do irmão.

 

Enquanto falava, um dos braços era apontado na direção de Kanon, e todo o membro, num lapso, se convertia num espasmo de luz.

 

Como se tivesse sido refletido por um prisma, a luminescência fragmenta-se, vencendo por um instante a resistência do ar, dispersando-se em incontáveis feixes, que em menos de um piscar de olhos, riscava todo o espaço interposto entre eles.

 

Tudo em seu caminho era irremediavelmente fatiado como se os finos traços reluzentes fossem verdadeiros lasers.

 

Nem tanto quanto os golpes desferidos na velocidade da luz, mas sim aquilo que havia dito Saga, causara em Kanon uma indignação extrema.

 

Ainda no ar, ofendido e agora irado, ele morde o lábio inferior à medida que seu corpo passara a reter cosmicamente parte da gravidade a sua volta e a estava aumentando.

 

Logo aquilo atinge limites além dos toleráveis, e o peso absurdo recém-adquirido do Aspirante, passa a inacreditavelmente furar a realidade.

 

Ao mesmo tempo, partia das retinas de Kanon a imagem avançando dele até onde estava Saga.

 

Além da figura do irmão, e a do próprio mundo onde atuavam, enxergava-se também a refração luminosa que mortalmente vinha abraçá-lo.

 

Súbito, uma película cósmica passa a delinear todo cenário refletido.

 

Ela forma uma espécie de rede intrínseca que ia se afunilando; estreito a frente de Kanon e extremamente largo à suas costas.

 

Como uma folha se dobrando, o espaço-tempo entre os irmãos se alinha dando a impressão que um estava em baixo e o outro acima; a improbabilidade da cena em si assemelha-se com a de uma imagem sendo espelhada num lago; e por uma brevidade, a distância entre eles, passa a não mais existir.

 

Como a um lampejo, Kanon desaparece.

 

" VIAJANTE DO ESPAÇO!"

 

É possível ouvi-lo dizer antes do seu sumiço desconcertante.

 

Toda ação acontecia quase que simultânea a miríade de raios o alcançando.

 

Se servindo de uma Ponte de Einstein-Rose, ele gera um atalho na realidade que, além de salvá-lo da investida de Saga, o faz reaparecer acima deste.

 

O irmão, por sua vez, estava recolhendo o braço após a deflagração de seu ataque e fica notoriamente sobressaltado quando se dá conta do ocorrido.

 

— Não fique me tirando...

Sibilou Kanon com o braço erguido acima da cabeça; antebraço dobrado na direção do patamar rochoso; punho cerrado; dedos sendo comprimidos além do necessário; algo que fazia os músculos de toda aquela região dilatar e as veias agitarem.

 

A intenção era nítida:

 

Pulverizar o irmão!

 

Para Saga não havia escapatória.

 

A menos é claro que conseguisse um subterfúgio.

 

Algo que detivesse, por um único instante que fosse, a investida do irmão e lhe fornecesse o átimo de tempo que precisava para lançar mão da mesma manobra de teleporte curto que lhe serviria agora de evasiva — VIAJANTE DO ESPAÇO — utilizada anteriormente por Kanon.

 

Em resposta a essa sua necessidade, o seu outro braço, refulgindo em Cosmo, coloca-se a frente, agindo como um escudo.

 

Nesse caso: um subterfúgio!

 

O membro acaba decepado e enquanto se elevava no ar, perdendo-se em meio ao caos que sobreviera, com um risco escarlate jorrando, colorindo de vermelho vivo as rochas e o próprio espaço, a figura de Saga teleportava-se, escapando por um triz da aniquilação.

 

O imenso patamar rochoso arruína-se após a investida tempestuosa de Kanon.

 

Primeiro vem à onda de choque que se derrama do punho antes deste verdadeiramente tocar o alvo o que faz tudo a sua frente, inclua Saga, desaparecer em meio a uma explosão de rochas e pó.

 

Em seguida, vem o punho de fato se cravando no escombro arruinado e depois o pouso do corpo do jovem Aspirante que, devido ao seu incalculável peso cinético, gera uma assustadora cratera.

 

Muito pouco, ou nada, podia ser visto em meio a toda deformação que vitimou o pedaço de rocha.

 

O seu colapso definitivo obriga Kanon a saltar por entre fragmentos menores para que não seja engolido pela devastação perpetrada pelo seu próprio poder.

 

Ele sorri satisfatoriamente enquanto pousa num ponto seguro da beirada da encosta, e de lá se permite vislumbrar descontraidamente os últimos vestígios das rochas sendo devoradas pelas águas agitadas do Egeu.

 

O pretenso Cavaleiro de Ouro de Gêmeos olha para o próprio punho.

 

E depois lança um olhar fulminante para algo que estava as suas costas.

 

Saga...

 

O nome do irmão é cuspido de seus lábios como se fosse algo sendo regurgitado.

 

— No fundo sempre não passou de um incômodo para mim...

Mais ao longe, sendo fitado por Kanon, de pé numa elevação rochosa, vê-se a figura de Saga.

 

Arfava muito.

 

Rosto embebido de suor.

 

Pálpebras se fechando numa apatia latejante causada pela perda gradual de sangue.

 

Segurava o local da hemorragia onde seu membro havia sido arrancado.

 

— K-Kanon...

 

Ele chama pelo irmão, mas é deliberadamente ignorado e atropelado pela conclusão das palavras deste que antecedem aquilo que estava por vir.

E eu não sou nada tolerante com incômodos...

 

Kanon se vira abruptamente.

 

Conclamando a plenos pulmões aquilo que deveria, ou não, colocar um ponto final naquele embate e endossar qual dos irmãos ficaria com a aclamada Armadura de Ouro de Gêmeos.

EXPLOSÃO GALÁCTICA!

Seu Cosmo se avulta semelhante a uma capa sendo aberta, envolvendo tanto Saga, como o mundo onde estava, exibindo em seu interior escabroso, os contornos indivisíveis do firmamento.

 

Neste, toda uma galáxia sofria com seu eclipsar!

Editado por Leandro Maciel Bacelar
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LEMBRE A HISTÓRIA

 

Parte 1: Treinados por Cassandra, Saga e Kanon se veem frente a frente numa batalha onde apenas um deles deverá sair com vida. Em jogo, além da própria sobrevivência, a posse da valiosa Armadura de Ouro de Gêmeos.

 

Parte 2: O combate entre Saga e Kanon tem seu início. Depois de uma troca titânica de golpes, Saga se vê em desvantagem tendo um dos braços amputados pelo irmão que, inclemente, e decidido a por fim no embate, dispara contra ele, todo o terror de sua EXPLOSÃO GALÁCTICA.

 

 

 

Parte 3 A Força de Castor

 

 

EXPLOSÃO GALÁCTICA!

Acompanha a voz trovejante, que em nada parece pertencer a um menino de pouco mais doze anos, um movimento brusco, e ofensivo, de braços que faz a galáxia retida no interior daquele universo em miniatura, invocado ali pela liberação massiva do Cosmo de Kanon, que havia sobrepujado momentaneamente à realidade em volta de Saga, entrar em colapso como que atingida pela mais inclemente das cóleras divinas.

 

A detonação conjunta dos astros celestes procede em uníssono e só pode ser descrita por aqueles que têm o infortúnio de a contemplarem como a visão profética do que seria o próprio Armagedom.

 

Destroços planetários, alguns, pasmem, com tamanho de edifícios, embebidos em chamas, deslocam-se em meio à vastidão sideral, vindos de todas as direções imagináveis, ao encontro de seu alvo, tendo estes, poder destrutivo mais que suficiente, para aniquilar toda uma grande cidade.

Na face do perpetrador daquele flagelo estava impresso seu júbilo.

 

Um contentamento que ganhava contornos quase insanos.

 

Ele parecia não se importar que aquilo que acabara de fazer daria cabo em definitivo da vida de seu irmão.

 

Mas há um lapso de remorso.

 

Uma lágrima solitária que teimosamente escorre.

 

Contudo, a convicção perversa de Kanon, como sempre, reprime o arroubo, e este mascara o que sente se permitindo apenas o balsamo de saber que a destruição de Saga seria rápida...

 

Indolor!

 

Tudo levava crer que o irmão seria mesmo fulminado, já que permanecera todo tempo estático; aparentemente resignado ante aquilo que o destino lhe reservara, mas algo inesperado acontece:

A realidade alterada por Kanon é subitamente debelada e engolida por uma distorção ainda maior.

Não era só o local em torno de Saga...

 

Nem em volta de Kanon...

 

Mas tudo...

 

Tudo:

 

Rochedos, mar, céu...

 

Todo o cenário em si transformara-se no firmamento!

A galáxia destroçada lançada por Kanon se perde dentro de um globo luminoso que, primeiro, diminuto, originou-se com o recolhimento da distorção espacial, e depois, retido na palma da mão de Saga, foi lançado por este, dobrando, triplicando de tamanho até assustadoramente alcançar uma extensão que superava os cinquenta metros.

 

A esfera arrasa toda a área como se fosse um anjo da morte, propelindo-se perigosamente na direção de Kanon, aniquilando a tudo o que tocava, independente de ser vivo ou não.

Assim como o mundo que o rodeava, Kanon vislumbrou, incrédulo, seu poder supremo ser consumido, junto ao poder de seu irmão, na forma do abraço titânico da Força de Castor que segundo o mito, recebera de Hefestos, um braço de ferro com o qual podia esmagar qualquer coisa, até mesmo as galáxias.

— I... I-Isso é a... EXPLOSÃO GALÁCTICA?!

 

Balbucia.

 

— Des... Des-Desde quando você aprendeu a c-controlá-la?!

Ele fitava o dínamo pulsante que se agigantava diante de si, fascinado, sentindo o impulso de fugir, mas incapaz de se mover.

Uma sensação de vazio, perda e término abatiam-se impiedosamente sobre ele esmagando toda a habitual empáfia do seu ser.

O eco do globo de antimatéria(1), consumindo tudo em seu caminho, calava o som desarticulado da sua voz.

 

Era como se o universo clamasse ao seu redor.

Uma miscelânea de brilhos e pulsos; cores aberrantes que mente, intelecto, humano algum, seria capaz de compreender, ou mesmo, conceber; potentíssimos ventos cósmicos envoltos em chamas tão intensas que ao simples contato de suas labaredas, tudo se desintegrava.

 

O simples e irresistível toque da morte...

EXPLOSÃO GALÁCTICA!

A técnica de poder bruto definitiva entre os mais tenazes dos Cavaleiros de Athena.

A força suprema e absoluta de Gêmeos que podia produzir em um ponto específico o real poder provindo da aniquilação de toda uma verdadeira galáxia.

 

Nada que viesse contra aquilo poderia subsistir.

 

Aquela maldita esfera poderia atravessar o planeta de um polo ao outro sem que nada a detivesse.

 

Penetraria até mesmo nas entranhas escaldantes do Sol!

E apenas Saga tinha acesso e o poder necessário para controlar aquela monstruosidade.

A Kanon, que outrora pensava ter conseguido dominar o poder supremo da EXPLOSÃO GALÁCTICA, só restava à inveja e o rancor por descobrir que sua técnica não passava de um mero arremedo.

Ele sequer tem tempo de verbalizar seu ultraje.

 

Ou maquinar uma fuga.

A torrente de energia destrói a tudo, inclusive, extravasa para outros Planos da realidade, tornando impraticável a fuga por entre as dimensões do seu VIAJANTE DO ESPAÇO, derretendo rochas e incinerando ao próprio ar e em seu silêncio aterrador, o Aspirante só tem um mísero instante para se arrepender da maneira irascível que sempre encarou a vida e ao irmão, mas ele, como é de hábito, não o faz, apenas abre mais os olhos e os braços para acolher a morte.

Kanon jamais vai dar esse gostinho para Saga.

O irmão não o verá entrar em desespero.

Sumindo na destruição gerada por Saga, Kanon, apenas o amaldiçoa.

Nem seus gritos ele permitirá serem ouvidos.

E seu olhar de ódio será o ultimo a desaparecer.

No entanto, quando a esfera estava a ponto de se colidir com ele algo inusitado acontece:

A gigantesca massa de antimatéria estaca.

 

Seu brilho irresistível ofusca em meio a uma tensão que passa a permeá-la.

Depois ela vai se encolhendo depressa, aspirando a si mesma, até tornar-se um cisco que desaparece.

Em meio a um silêncio sufocante, Kanon desaba.

 

De joelhos, ofegante, sem ainda crer que permanecia vivo.

No ultimo e derradeiro instante, Saga havia detido e feito desaparecer todo o horror de sua EXPLOSÃO GALÁCTICA, poupando assim, a vida de seu irmão.

Até aonde a vista podia alcançar, a paisagem havia se transformado em uma imensa clareira fumegante.

 

Pequenos veios de magma efervescente recortavam o solo.

Nuvens negras se erguiam em rolos do chão calcinado. Uma forte brisa soprava fria agora vinda do mar.

Derrotado, Kanon não sabia o que era mais humilhante:

 

Ter sido vencido pelo irmão ou a vida poupada por este?!

Lágrimas do mais puro ódio e vergonha molhavam sua face num pranto silencioso.

 

Passos são ouvidos e ele se surpreende ao ver uma sombra erguer-se sobre sua figura.

Confuso, e limpando com as costas das mãos as lágrimas, levanta o olhar e contempla a imagem serena de Saga a lhe fitar.

 

— Irmão...

 

“Você esta bem?”

A mão, que outrora segurava o local onde Kanon lhe arrancara o braço, e que lançara depois a EXPLOSÃO GALÁCTICA, fora lhe gentilmente oferecida para que pudesse se colocar de pé.

 

Kanon notou, de canto de olho, que do ferimento da amputação, não provinha mais qualquer sangramento.

 

Para mais um de seus desgostos, deduziu que, em algum momento, o irmão usara habilidades de cura por intermédio do Cosmo, para estancar a hemorragia.

— Estou sim, “irmão”...

Responde Kanon imitando o tom cálido de voz de Saga, aceitando a mão que lhe era ofertada em seu desamparo.

— E como eu sabia...

 

Uma pausa.

 

— E sempre soube...

 

Sorriso.

 

— Você continua sendo um completo... idiota.

 

A mão que segurava a de Saga passa irradiar um pulso energético.

O que?!

 

Depois, está arremessa seu corpo para o alto.

 

EXPLOSÃO GALÁCTICA!

Um golpe traiçoeiro:

Kanon arrebata inadvertidamente Saga com todo esplendor de seu Cosmo, primeiro fazendo-o propelir como a um foguete em chamas pelo céu devido à condenação de uma galáxia, depois, o enterrando numa cratera monumental que lhe serve de outeiro.

 

Saga perde a consciência de imediato, mergulhando, em meio a espasmos por todo o corpo, no escuro caudaloso da mais profunda dor.

Sua mente sequer conseguiu testificar tamanha agressão, assim como suas sinapses, que só deram conta de não agir para evitar o que poderia ser descrito como a mais excruciante das agonias.

O sangue do jovem Aspirante de pele alva e cabelos negros azulados tinge horrivelmente o chão, espalhando-se numa grande poça.

 

Em meio ao que restou de suas vestes, alguns ossos, que haviam sido destroçados, se revelam por entre a carne queimada e encharcada de sangue.

 

C-Consegui...

 

Kanon se levanta com a mão ainda fumegante.

 

Olhos atentos.

 

Cravados na imagem combalida do irmão.

 

Quando percebe que este jamais se levantará outra vez, permite-se relaxar.

 

— Consegui...

 

Repete para si mesmo.

 

— CARALHO...

 

“EU CONSEGUIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!”

O vento traz pequenas gotículas de uma chuva vindoura que molham os cabelos e lábios finos do guerreiro impiedoso.

Ele fecha os olhos e sorri em contentamento genuíno.

 

F-Finalmente...

 

“Finalmente a Armadura é minha!”

 

Depois de um tempo do mais puro regozijo ele se vira para um ponto mais além da clareira, onde vê sua Mestra, Cassandra.

 

Mas não é na figura da velha Amazona que ele detém sua visão.

 

Em suas retinas negras cintilam um vulto dourado daquilo que estava ao lado de sua Tutora:

 

A tão cobiçada urna com a Armadura de Ouro de Gêmeos!

 

Kanon alarga ainda mais o sorriso e abre os braços como se quisesse abraçar o mundo e... diz... na verdade, proclama:

 

Vem!

 

Em resposta, o ícone na forma dos gêmeos Castor e Pólux deixa a urna de seu repouso e se desfaz.

 

Fragmentando-se em variadas peças:

Elmo, braço, placa peitoral, cinturão, pernas e afins.

Como que cavalgassem os ventos, deixando em seu rastro pequenos vaga-lumes cintilantes, as partes da Armadura vão de encontro ao seu escolhido.

Kanon esta imerso em êxtase.

 

As peças estão vindo na sua direção!

Ele fecha os olhos.

 

Esperando ansioso o momento que seu corpo será abraçado pela Armadura de Ouro de Gêmeos.

Mas para seu eterno desgosto esse momento nunca virá.

 

As peças passam por Kanon, fundindo-se ao corpo moribundo de Saga que jaz na cratera.

 

E é em meio a uma quietude sepulcral que sua voz ecoa desarticulada, ao ponto que seu coração batia descompassado:

O-O que está ha-havendo?

Indaga, encarando estarrecido o irmão inconsciente que trajava agora a sagrada Armadura de Ouro de Gêmeos que por direito deveria ser sua.

— A vestimenta determinou o vencedor, Kanon...

 

Cassandra, com sua voz frágil, e em tom lacônico, se pronuncia.

 

— N-Não... i-isso não é justo...

 

“Eu estou de pé ao fim do combate!”

 

Os dentes haviam se trincado e os olhos pareciam-se com pequeninas fendas.

 

— A vitória me pertence... aquela Armadura... É MINHA!

 

Berrou a plenos pulmões essa ultima parte, apontando em riste, o dedo acusador para Saga com o robe dourado que agora o cobria.

 

Salivava muito e respirava pesadamente como se o ar lhe faltasse.

— Engana-se, Kanon...

 

Cassandra cruzara os braços.

 

— De certo que se sagrou vencedor deste duelo...

 

“Apesar de, particularmente achar, que seus métodos são deploráveis, isso até mesmo para os meus padrões.”

 

“Contudo...”

 

“Você perdeu a guerra contra o que há de mais vil em seu interior.”

 

A anciã havia descruzado os braços e seu Cosmo a estava permeando, fazendo com que seu surrado manto, se agitasse.

 

As costas de seu pupilo, sem que esse aparentemente percebesse, uma fenda estava sendo aberta graças a uma Ponte de Einstein-Rosen, e como um predador faminto e sorrateiro, se insinuava, dilatando-se para que pudesse agarrá-lo.

 

Ca-Cale-se...

 

Sibilou o Aspirante, movendo apenas o olhar, agora homicida, na direção de Cassandra.

 

Está por sua vez pareceu não se intimidar e continuou a falar ao mesmo tempo em que preparava o bote.

— Durante todo o tempo não era eu a juíza do embate, mas sim, a sagrada Armadura que a tudo assistia...

 

Cassandra estava agora lhe apontando a mão que lentamente, e de forma quase teatral, ia se fechando.

 

Acompanhava sua ação, o fenômeno dimensional, que estava prestes a abocanhar a figura desavisada de Kanon.

— E a Armadura escolheu aquele com o verdadeiro coração de Cavaleiro de Athena:

 

“Saga!”

 

Faltava muito pouco para a mão da anciã se fechar.

 

— Não a você, Kanon, o preterido...

 

“A grandiosidade travestida de mau!”

 

Os dedos da mão se detiveram sem aviso em seu percurso, flexionados e tensionados, semelhantes a garras.

 

— E neste momento...

 

“Eu mesma encerro por aqui esse drama...”

 

“Já que faltou a seu irmão a coragem necessária para fazê-lo.”

 

Uma pausa.

 

Desapareça, Kanon!

 

“Que seu corpo, mente e espírito se perca no mais completo nada que existe entre as dimensões erráticas que se interpõem entre os três Planos de Existência...”

 

“E semelhante a uma nave espacial, perdida e deixada à deriva no cosmos, que você vagueei eternamente sem jamais conseguir encontrar o caminho de volta para esse mundo:”

 

“CÁRCERE PERPÉTUO!”

A mão de Cassandra, enfim, se fecha e sua arapuca dimensional se avulta afoita, infelizmente em vão, por sobre sua vítima.

 

Como a um facho de luz, a imagem de Kanon propele-se, evitando o bote por um triz; sua mão materializou-se no pescoço de sua Tutora no instante seguinte, sem que essa pudesse perceber, e esta foi cruelmente arrastada por dezenas... centenas de metros... abrindo, em meio aos espasmos transbordantes de Cosmo, uma vala que ia penetrando no solo até ambos se chocarem contra um paredão rochoso que se formara.

 

— Por um acaso é surda, velha desgraçada...

 

O outro punho de Kanon estava ameaçadoramente erguido, cerrado e pronto para a ação.

 

EU MANDEI CALAR A BOCAAAAAAAAA!

 

A pressão exercida no pescoço de Cassandra é intolerável. Mesmo o poderoso Cosmo da Amazona, na plenitude de sua aura defensiva, é incapaz de debelá-lo.

 

Impossibilitada de respirar, começa a sentir os ossos daquela região estalarem.

 

Com sua fraca visão já embotando, e sangue vertendo farto pela boca, narinas e ouvidos, ela começa a deslizar rumo à inconsciência da morte.

 

Sentindo o desfalecimento daquela que o treinou, Kanon abranda a força e até mesmo desiste de socá-la.

 

Um sorriso cruel brincava agora em seus lábios.

 

— Sabe, Mestra...

 

“Eu sempre tive a curiosidade de saber como é o rosto por de trás dessa máscara que usa.”

 

Kanon levara a mão até a Máscara de Silêncio de Cassandra e começara a removê-la.

 

— Lembro-me agora que, em momentos de descontração, eu e Saga ficávamos tentando adivinhar.

 

“Eu sempre dizia que a velha Cassie deveria se parecer com o cão chupando manga.”

 

Pa-Pare!

 

Ordena, Cassandra.

 

Tal violação a traz de volta a consciência.

 

Com as mãos trêmulas, agarrava o antebraço do seu pupilo, tateando-o quase às cegas.

 

— Pare, K-Kanon...

 

Contudo, sua interpelação não passava de uma bravata.

 

Ela bem sabia que não tinha forças, e nem mais autoridade, para detê-lo.

 

Porém, para sua surpresa, Kanon havia retrocedido com a ação.

 

Seu sorriso ainda estava lá e se mantinha assustador, entretanto sua expressão denotava preocupação.

 

Era como se algo em sua mente houvesse passado a incomodá-lo.

 

Seu olhar tinha ido dela para onde estava Saga.

 

Aquele não era o momento propício para diversão — Confabulava, consigo mesmo, em reprimenda Kanon.

 

Sua Armadura de Ouro estava de posse de outro, pior, com seu irmão, e ele deveria recuperá-la!

 

 

 

(1): A antimatéria é basicamente o contraponto da matéria, ou seja, seu mais completo oposto. Composta de antipartículas, que possuem a mesma característica das partículas (massa e rotação) convencionais, no entanto com carga elétrica contrária. É o caso do pósitron, também conhecido como antielétron, que tem carga positiva. Ou do antipróton, que, diferente do próton, é negativo. O conceito de antimatéria foi proposto pelo físico inglês Paulo Dirac em 1928. Ele revisou a equação de Einstein, considerando que a massa também poderia ser negativa. Sendo assim, a fórmula ficaria: E=+ou-mc2. Com base na teoria, a comunidade científica passou a estudar o tema mais a fundo e descobriu uma potente fonte de energia, com 100% de aproveitamento. Hoje, o grande desafio é conseguir produzi-la em grande quantidade, já que ela não é encontrada em nosso planeta.

Editado por Leandro Maciel Bacelar
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LEMBRE A HISTÓRIA

 

Parte 1: Treinados por Cassandra, Saga e Kanon se veem frente a frente numa batalha onde apenas um deles deverá sair com vida. Em jogo, além da própria sobrevivência, a posse da valiosa Armadura de Ouro de Gêmeos.

 

Parte 2: O combate entre Saga e Kanon tem seu início. Depois de uma troca titânica de golpes, Saga se vê em desvantagem tendo um dos braços amputados pelo irmão que, inclemente, e decidido a por fim no embate, dispara contra ele, todo o terror de sua EXPLOSÃO GALÁCTICA.

 

Parte 3: Saga confronta a EXPLOSÃO GALÁCTICA de Kanon com uma versão única e muito mais aterradora dessa mesma técnica. Sua EXPLOSÃO GALÁCTICA, inclusive, teria tirado a vida de seu irmão caso ele não a tivesse detido. Kanon retribuí o ato misericordioso do irmão com uma investida covarde que põe fim ao combate e deixa Saga a beira da morte. Cassandra, a mestra dos dois, surge uma vez mais em cena, trazendo consigo a urna da Armadura de Ouro de Gêmeos que por sua vez, elege Saga, e não Kanon, como o seu portador. Em meio a consternação de Kanon pelo ocorrido, Cassandra tenta aprisioná-lo numa outra dimensão, mas acaba facilmente dominada pelo seu ex-pupilo.

 

 

Parte 4 A Liderança de Pólux

 

— Q-Que... merda... é ess...?!

 

Kanon, o pretenso Cavaleiro de Ouro de Gêmeos, não chega a terminar sua indagativa, que, diga-se de passagem, mais se parecia com uma imprecação.

 

Em meio a devaneios de desmembrar Saga, enquanto tirava deste, a Armadura que era sua por direito, o interrompe, vindo as suas costas, um flash de luz.

 

O que sente, a principio, é um calor escaldante.

 

Algo que incinera quase que de imediato, parte de suas vestes, e deixa chamuscada a carne aonde o brilho dolorosamente o banha.

 

Por sorte estava de costas, caso contrário, o clarão teria também fritado suas retinas.

 

Sobreveio a luz uma baforada de chamas, que semelhante a uma abóbada, agigantava-se, gerando uma sucessão de rupturas, que fendiam os céus, à medida que ganhava terreno; passou está por ele, lançando-o ao ar juntamente com partes desprendidas e calcinadas do solo.

 

Cassandra, em meio a um estado que precedia a inconsciência, deslizara da mão de Kanon que a mantivera até então presa, agarrada severamente pelo pescoço.

 

O seu pupilo, que outrora a afligia, ironicamente a salva das chamas, seu corpo interpondo no caminho como se este fosse uma barricada.

 

Lentamente, a velha Amazona vai ao chão.

 

Já a figura de Kanon...

 

Bom...

 

Esta se perdera em meio ao desvanecer do inferno flamejante que num raio de mais ou menos quinhentos metros propelira-se e ceifara o que encontrara pelo caminho.

 

Antes de desmaiar, a Tutora dos jovens gêmeos teve a certeza, de mais ao longe, contemplar a imagem moribunda de Saga, em pé.

 

Contudo, o que a anciã não percebe é a silhueta mais baixa de outra pessoa juntamente com a de seu pupilo, amparando-o por um dos braços, dando-o suporte.

 

O Cosmo que vinha deste indivíduo era tão surpreendente, e monstruoso, quanto ao dos dois irmãos.

 

Mesmo o ar, parecia deter-se a sua volta, na mais nítida amostra de respeito...

 

E medo!

 

— Quem é você?

 

Kanon estava de volta!

 

Mesmo afogando-se em meio às chamas que o tinham consumido vorazes, conseguira, graças ao seu VIAJANTE DO ESPAÇO, teleportar-se.

 

Sua imagem sofrível era semelhante aos dos desgraçados que conseguiam sobreviver às agruras de um incêndio.

 

Seu irmão costuma me chamar de Máscara da Morte.

 

Kanon media de cima em baixo a figura do garoto magricela e de pele sinistramente pálida.

 

Aparentava ser mais novo que ele e ao irmão.

 

Deveria ter oito...

 

Dez anos no máximo!

 

Kanon não tinha certeza.

 

Vestia-se todo com couro negro.

 

Uma farta pelugem alva escapava do interior da jaqueta que envolvia seu pescoço.

 

Seus olhos cor de azeviche pareciam perpetuamente cansados.

 

As pálpebras desciam um pouco como se a qualquer momento ele fosse pegar no sono.

 

Mas o que de fato incomodara Kanon naquele pirralho era o sorriso de escárnio que não afrouxava.

 

E claro, havia também o seu mau cheiro.

 

Algo pútrido como o de cadáveres em decomposição.

 

Ternamente, Máscara da Morte acomoda o corpo desfalecido de Saga no chão, deixando as costas do mesmo, repousada numa pequena saliência rochosa.

 

Kanon ainda estava decidindo o que fazer quando viu, para o mais completo de seus estarrecimentos, o garoto inclinar-se para então beijar o seu irmão.

 

Ao ponto que Máscara da Morte mantinha os lábios colados nos de Saga, sem que fosse percebido, regurgitava para o seu interior uma pequena porção de VERMES DA SEPULTURA.

 

Estas pequenas, e abjetas, crias de Hades, eram as responsáveis por decompor os corpos dos mortos, mas também podiam reconstituir tecidos e órgãos a partir de suas secreções.

 

Numa de suas muitas viagens ao submundo, Máscara da Morte incubara dentro de si próprio algumas dessas criaturas, juntamente com uma rainha da espécie, já que sem essa os demais eram incapazes de procriar ou mesmo subsistir por muito tempo.

 

Graças a eles, Máscara da Morte detinha agora uma suposta imortalidade!

 

E podia decompor os corpos dos seres viventes com esses vermes ou mesmo reestruturá-los.

 

Bastaria alguns instantes para o irmão de Kanon ser completamente estabelecido, e inclusive o membro que fora perdido, seria também devolvido ao seu lugar.

 

— I-Isso... isso...

 

“Isso é nojento!”

 

Exclamou Kanon quando o beijo estava sendo encerrado.

 

Era necessário.

 

Disse laconicamente Máscara da Morte aprumando-se e enfiando as mãos nos bolsos de sua jaqueta.

 

Depois, acrescentou em tom lascivo, lançando um olhar de esgueira para a figura de Saga no chão:

 

— Mas confesso que sempre nutri essa vontade.

 

Mal terminara a frase e a cabeça cônica de um portentoso raio agigantou-se a sua frente.

 

A colisão foi imediata...

 

E catastrófica.

 

Destroços fumegantes ergueram-se erráticos para todas as direções.

Uma espessa nuvem negra de pó e fogo insinuava-se, cobrindo por completo as figuras de Máscara da Morte e de Saga.

Qualé a sua?

 

As mãos unidas de Kanon, em forma de concha, postadas baixas e uma para cada lado, miravam os alvos; nelas, mais energia estava sendo concentrada.

 

Primeiro vem aqui intrometer-se e me ataca sem mais e nem menos...

 

Outro disparo.

 

Depois fica de viadagem com meu irmão...

 

Mais outro.

 

E outro.

 

Uma sucessão infindável de disparos.

 

Pedras, areia e sedimentos desaparecem nas explosões.

 

Terra e céu ecoam enquanto um imenso cogumelo chamejante erguia-se imponente, galgando em direção ao firmamento.

 

Ao fim daquele bombardeio, Kanon se mostra bastante ofegante.

 

Lentamente abaixa os braços, que frouxos, pendiam ao lado do corpo.

 

Mais uma vez permiti-se a contemplação jubilosa das amostras de seu terrível poder.

 

Nada lhe conferia mais êxtase do que aquilo.

 

Desejava ansioso por ver como ficara os corpos de suas vítimas.

 

Mais precisamente o que havia restado destes.

 

Leva um tempo demasiado até que a fumaça baixe.

 

Aos poucos as chamas iam deixando de arder.

 

E o que primeiramente enxerga após isso são só as pernas, e parte da pélvis, do Máscara da Morte, ainda teimosamente de pé.

 

Ante a essa visão escabrosa seu sorriso doentio alargou-se um pouco mais.

 

Agora aguardava por ver em que estado ficara o seu falecido irmãozinho.

 

Claro que a Armadura de Ouro que este trajava, que a propósito lhe pertencia, deveria ter atenuado grande parte do dano, inclusive poderia até mesmo estar danificada.

 

Ante aquele pensamento, Kanon se repreendeu por não ser mais cuidadoso.

 

Uma Armadura destruída de nada lhe serviria.

 

Ele leva um susto quando inadvertidamente sua atenção é direcionada para um gorgolejar, seguido de uma erupção fervilhante de vermes, que fora expurgada do que restara do corpo mutilado do Máscara da Morte.

 

A massa pulsante de vida ajuntava-se e davam rapidamente os contornos do que Kanon destruíra a pouco com o seu poder.

 

Basta uns poucos segundos e o garoto baixo e magricela estava recomposto, sem exibir qualquer mácula em si, que não fosse em suas vestes, e na perda das mesmas da cintura para cima.

 

P-Puta-que-pariu...

 

O irmão de Saga engole seco.

 

— Mas que tipo de monstro é você?

 

— O do tipo Cavaleiro de Athena, sabe...

 

“Algo que jamais você o será, Kanon...”

 

VERMES DA SEPULTURA!

 

Máscara da Morte infla o tórax nu, dilatando-o de maneira inumana.

 

Parecia estar tomando um imenso fôlego.

 

Ele então se curva para frente na mesma direção onde estava Kanon, que por sua vez, receoso, havia recuado dois passos e feito seu Cosmo manifestar-se.

 

Da boca escancarada do Máscara da Morte é vomitado uma torrente absurda dos mesmos vermes que outrora o havia regenerado.

 

Como um rio percorrendo os ares, a massa incalculável e pulsante de vida colidiu-se com a EXPLOSÃO GALÁCTICA lançada, quase que ao mesmo tempo, por Kanon.

 

Por um átimo, os poderes ficaram dependurados; detidos em suas trajetórias; impedidos de chegarem ao término de seus destinos e cumprirem satisfatoriamente com o intento de seus perpetradores.

 

Bichona...

 

Dissera Kanon com um travo de superioridade na voz.

 

Sua mão estava apontada para o mesmo local onde acontecia o embate.

 

— Tá mesmo achando que eu vou deixar essas suas nojeiras me tocarem?!...

 

“Observe enquanto eu as reduzo a nada juntamente com você, desgraçado...”

 

Gargalhava à medida que percebia que o peito, outrora anormalmente inflado do Máscara da Morte, regredia ao seu normal e com isso, a quantidade de vermes regurgitados, estava a diminuir drasticamente.

 

Por consequência, a EXPLOSÃO GALÁCTICA de Kanon ia ganhando cada vez mais terreno, aproximando-se mortalmente do seu alvo.

 

Quero ver se poderá recompor-se assim que não restar mais nada dessa sua carcaça miserável!

 

Os destroços planetários avançam, incinerando os últimos vermes em seu caminho, e de fato, teriam aniquilado Máscara da Morte, caso algo não os detivesse:

 

Primeiro, toda carga destrutiva pareceu ficar congelada no tempo, pairando numa desconcertante imobilidade.

 

Depois, tudo que antes estava estático foi sugado para uma mão estendida, ganhando a forma de um globo.

 

Sobre os contornos cósmicos longitudinais e latitudinais dessa esfera, era possível contemplar a EXPLOSÃO GALÁCTICA confinada em miniatura.

 

CONTENÇÃO BLAZAR(1)!

 

A mão então se fechou, dando um fim ao globo e a devastação de Kanon contido neste.

 

Sa... Saga?!

Murmura Kanon por entre os dentes, tomado de ódio, incredulidade e pavor.

 

— De fato, trata-se do próprio...

 

Quem se pronuncia é Máscara da Morte.

 

Sua calma contrasta com a tensão do momento.

 

— Sua intromissão se faz desnecessária, meu adorado...

 

“Não que eu não a aprecie...”

 

“Muito pelo contrário.”

 

Uma pausa.

 

Mas acontece que eu tinha tudo sobe controle.

 

Completara em meio a sorrisos.

 

— Percebi...

 

Retorquiu o vulto dourado de pé ao seu lado.

 

Ele havia retirado o elmo com faces ambíguas, e em seguida, emendara:

 

— Mas pensei que seria o que você faria se estivesse em meu lugar.

 

Alheio a essa conversação, Kanon tentava entender o que estava acontecendo.

 

Seu irmão que deveria estar morto apresentava-se sem qualquer um dos ferimentos que ele lhe afligira.

 

De algum modo fora curado!

Saga estava intacto como se nunca tivesse sofrido o menor dos arranhões.

 

Exibia até mesmo o braço que outrora fora amputado.

 

O membro, vale ressaltar, estava revestido pela sagrada Armadura de Ouro de Gêmeos que também se apresentava incólume.

Havia aqui e acolá no traje, algumas manchas ressequidas de sangue e fuligem, e estes eram os únicos indícios que testificavam o que Saga sofrera.

Algo também estava diferente na figura de seu irmão.

Seu Cosmo, antes sereno e benevolente, agora ardia com majestade e desdém.

Os cabelos antes negros, agora estavam em tons argentos.

E seus olhos.

Ah seus olhos!

Estes foram o que fizera Kanon amargamente se lembrar que minutos atrás contemplara, por um instante, aquela mudança hedionda em Saga.

Ele dá um estratégico passo para trás quando o Cosmo do irmão o atinge fisicamente, empurrando-o.

De início tudo que vislumbra é um clarão irradiando do punho direito do Cavaleiro de Ouro de Gêmeos.

Em seguida, sente seu corpo ser arrebatado por alguma força invisível que o suspende no ar.

 

Fachos de luz o atravessam, fazendo-o rodopiar.

 

Fundem-se então num único e poderoso raio de ação que tragicamente, o fulmina.

 

Descontrolado, o corpo de Kanon é devolvido novamente ao solo, se arrastando, criando um sulco por conta do impacto impressionante.

Ele não tem qualquer controle ante à queda, sendo nada menos que um joguete nas mãos daquela força que o estava abatendo.

 

Tudo que pode fazer é torcer para que aquilo terminasse logo e que de alguma forma fosse lhe permitido sobreviver aquele martírio.

 

Que... que... poder... ele tem...

Murmura, engasgando com o próprio sangue, tentando debilmente se levantar.

 

Só consegue o intento na segunda, e dolorosa, tentativa.

 

Indiferente a agonia sentida por ele, Saga caminha em sua direção com um semblante totalmente transformado.

Em nada lembra o gentil e afável irmão; o companheiro de treinos que Kanon adorava espancar e que nunca o derrotou.

Agora, diante dele, quem se apresenta era apenas o Cavaleiro de Ouro de Gêmeos, detentor das dádivas concedidas por Castor: que podia, com sua força inigualável, esmigalhar até mesmo as galáxias.

 

E Pólux; que graças a sua liderança inata poderia, mediante a uma ordem sua, fazer com que qualquer poder lançado contra este, se detivesse e findasse.

 

Kanon estremece.

 

Recuando diversos passos.

 

— D-Desgraçado...

 

Sua ofensa é punida por outro fulgor que, mais uma vez, se derrama do punho mortífero de Saga.

Dessa vez, sem nenhuma distração para atormentá-lo além da severa dor que o acometia, Kanon esperava confiante, contrapor a investida do irmão, livrando-se dela por intermédio de uma fuga pelas dimensões.

 

Já tinha realizado, naquele dia, algo parecido.

 

Como daquela vez, tinha em mente surpreendê-lo com um contra-ataque.

 

Seria pouco provável que Saga conseguisse conter, mesmo tendo em mãos a Liderança de Pólux, uma EXPLOSÃO GALÁCTICA executada a queima-roupa.

 

No entanto, dessa vez, algo sai errado.

 

A refração de raios alcança Kanon antes dele se teleportar por uma Ponte de Einstein-Rosen.

Em meio aos lasers que o atravessa, seu corpo, já bastante ferido, é lançado no ar a mais de dez metros do chão, descrevendo um arco, vindo este a se chocar de maneira violenta e desastrada contra o solo que em sua dureza característica o acolhe.

Mas a determinação de Kanon é algo admirável.

Mesmo diante da mais extrema dor, ele se põe de pé mais uma vez, o corpo vacilando, lutando contra toda a agonia que o devorava e impedia que ficasse de pé.

— E-Eu não e-entendo?!...

Murmura, cuspindo alguns dos dentes junto com uma quantidade farta de seu próprio sangue.

— Na verdade...

 

“Entende sim!”

“O caso é que não quer aceitar...”

 

Quem lhe responde é Máscara da Morte.

 

De uma distância segura, sentado numa rocha, balançava as pernas soltas no ar como uma criança.

 

Sua expressão divertida irritava Kanon.

 

Como ele desejava lhe torcer o pescoço.

 

— Daquela vez que fora alvejado por seu irmão, muito pouco dos ataques dele alcançaram verdadeiramente a velocidade da luz...

 

“O que permitira que você, Kanon, escapasse.”

 

“Mas veja bem...”

 

“Saga fizera aquilo propositalmente.”

 

“Ou seja, contivera deliberadamente seu poder para que você não corresse o risco de acabar se ferindo pra valer.”

 

— I-Isso é... m-mentira...

 

Havia pouco, ou nenhuma, convicção na voz de Kanon.

 

— Eu sempre fui o mais f-forte!

 

Como que fizesse troça dele, Máscara da Morte desatou a rir.

 

Depois rebateu:

 

— Mentira?!

 

“O mais forte?!”

 

“Devo lembrá-lo de como foi, a pouco, quando as EXPLOSÕES GALÁCTICAS sua e a de Saga se colidiram?!”

 

Silêncio.

 

— E a CONTENÇÃO BLAZAR?!

 

Novo silêncio.

 

— Me diz se é capaz de reproduzi-la?

 

Kanon estava corado.

 

Imerso no mais caudaloso dos constrangimentos.

 

Como explicar para aquele insolente miserável que seu irmão podia ser sim mais poderoso que ele, mas que se mostrava inferior por não poder exercer devidamente aquela força que detinha.

 

Quanto à técnica defensiva de Gêmeos, ele nunca dera importância para um poder que visava apenas proteção.

 

Se defender era para covardes!

 

Apenas os fracos precisavam daquele tipo de resguardo.

 

E outra...

 

Para que necessitaria de proteção contra eventuais ataques inimigos quando tinha em seu arsenal o VIAJANTE DO ESPAÇO, que o permitia lançar mão de teleportes curtos para eventuais esquivas, e uma técnica, EXPLOSÃO GALÁCTICA, que poderia, num único instante, aniquilar o alvo e até mesmo fazer desaparecer uma grande cidade?!

 

— Está perdendo seu tempo, Máscara da Morte...

 

Quem havia se pronunciado agora era Saga.

 

Ante a sua voz e presença, Kanon, mesmo em meio a devaneios, parece se encolher.

 

— Meu irmão é o tipo de pessoa que vê, mas não enxerga.

 

“E agora ele pagará pelos seus erros.”

 

 

(1): Tratam-se de corpos celestes associados em sua natureza com os Buracos Negros. O Blazar sofre um dos mais violentos fenômenos do universo, sendo uma fonte de energia bastante compacta e variável, que tem um poder de atração que transcende os dos Buracos Negros usuais. São eles também, membros de um grupo maior de galáxias ativas.

Editado por Leandro Maciel Bacelar
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  • 1 mês depois...

LEMBRE A HISTÓRIA

 

Parte 1: Treinados por Cassandra, Saga e Kanon se veem frente a frente numa batalha onde apenas um deles deverá sair com vida. Em jogo, além da própria sobrevivência, a posse da valiosa Armadura de Ouro de Gêmeos.

 

Parte 2: O combate entre Saga e Kanon tem seu início. Depois de uma troca titânica de golpes, Saga se vê em desvantagem tendo um dos braços amputados pelo irmão que, inclemente, e decidido a por fim no embate, dispara contra ele, todo o terror de sua EXPLOSÃO GALÁCTICA.

 

Parte 3: Saga confronta a EXPLOSÃO GALÁCTICA de Kanon com uma versão única e muito mais aterradora dessa mesma técnica. Sua EXPLOSÃO GALÁCTICA, inclusive, teria tirado a vida de seu irmão caso ele não a tivesse detido. Kanon retribui o ato misericordioso do irmão com uma investida covarde que põe fim ao combate e deixa Saga a beira da morte. Cassandra, a mestra dos dois, surge uma vez mais em cena, trazendo consigo a urna da Armadura de Ouro de Gêmeos que por sua vez, elege Saga, e não Kanon, como o seu portador. Em meio a consternação de Kanon pelo ocorrido, Cassandra tenta aprisioná-lo numa outra dimensão, mas acaba facilmente dominada pelo seu ex-pupilo.

 

Parte 4: Máscara da Morte surge em meio ao campo de batalha e com seus VERMES DA SEPULTURA restabelece Saga de seus gravíssimos ferimentos, inclusive, recuperando seu braço perdido. Kanon o brevemente confronta e durante esse tempo, Saga, trajado com a Armadura de Ouro de Gêmeos, se coloca de pé, e totalmente transformado, passa a afligir ao irmão com seu imensurável poder.

 

 

 

Parte 5 Pérfida Aliança

 

Sa... Saga... espere...

 

Um apelo.

 

— Pode haver uma aliança entre nós...

 

A expectativa crescente, tal qual o desespero, faziam a voz embargar, e ter, em picos erráticos, tons de veemência.

 

— O-Ouça...

 

Tomando fôlego.

 

— Você pode até mesmo continuar com a Armadura de Ouro de Gêmeos...

 

O coração soava descompassado.

 

O suor pegajoso que vertia das têmporas, juntamente com os olhos injetados, davam ao jovem, de pouco mais doze anos de idade, ares febris.

 

Eu não a quero mais.

 

Nem ao som daquelas palavras finais o ar soturno do vulto dourado tinha se alterado, como uma sombra, vinha caminhando, segurando em uma das mãos o elmo de sua vestimenta, deslizando para aquilo que parecia ser, um encontro predestinado.

 

O som metálico de suas botas retinindo contra o chão irregular era a única coisa a macular seu silêncio.

 

— S-Saga...

 

Continuou Kanon em meio a um novo apelo.

 

— Ir-Irmão...

 

O braço trêmulo estendeu-se a frente do corpo num gesto claro, e afoito, para que o outro se detivesse.

 

Tudo isso em vão, diga-se de passagem.

 

— Nós dois juntos somos invencíveis...

 

Poderíamos forçar o Santuário a nos servir.”

 

“Controlar os Cavaleiros e implantar uma nova ordem.”

 

“A-Afinal temos em mãos o poder...”

 

ESTE poder!”

 

Kanon força um sorriso em meio à enxurrada de palavras.

 

— Este poder que paira sobre todas as coisas...

 

Acrescentou um pouco mais calmo.

 

— Que faz com que todas as mentiras se tornem verdades...

 

Esta verdade que destrói!”

 

Inerte no sentido das próprias palavras, meio como que perdido em algum delírio de grandeza, apontava para o mundo devastado ao redor deles:

 

O solo enegrecido; o ar pesado em meio ao cheiro desagradável do ozônio queimado; testemunhas sofríveis do resultado da confrontação de sua inigualável força com a do seu irmão.

 

Verdadeiramente, poucos dentre aqueles que caminhavam sobe a Terra, poderiam lhes fazer frente.

 

Kanon recua ao ver que de nada iria adiantar continuar falando.

 

Um insuportável formara-se na sua garganta no momento que uma minúscula, porém radiante, esfera, provinda do agrupamento súbito de inúmeros feixes avermelhados, se materializara na mão direita de Saga.

 

Permanecia, tal qual, suspensa alguns poucos centímetros, sem ser tocada.

 

— P-Por que está agindo assim?!

 

“Será que não percebe que eu o estou aceitando do meu lado?!”

 

Frustração.

 

— Dividindo contigo meus anseios... o Santuário... e o mundo que logo me pertencerão...

 

Ira.

 

Para o inferno com você, Saga... até mesmo minha Armadura estou lhe entregando...

 

“O que mais pode querer de mim?!”

 

“RESPONDAAAAAAAAAAAAAAAAAARGHHHHHHHHHHH!”

 

A pouca distância que separava os gêmeos é percorrida quase que instantaneamente; e Kanon, em meio ainda ao seu desabafo, não vê quando o irmão o alveja:

 

O pequeno globo luminoso trazido por este é arremessado lateralmente num movimento apertado de arco.

 

Converteu-se de imediato num fino, e solitário, traço incandescente, que transpassara de ponta a ponta o crânio, afligindo internamente o cérebro, ceifando definitivamente as conexões nervosas que ligavam o corpo a mente.

 

Diante de tamanha agressão, o irmão de Saga se dobra acometido por uma agonia intolerável, sua visão apagando-se por completo.

 

Cambaleante, as mãos tateavam o invisível; para surpresa de Kanon ainda continuava consciente, mas acabava de ficar cego.

 

De costas para ele, seu irmão parecia ainda mais indiferente.

 

Majestoso.

 

Por isso Saga dissera que você via, mas não enxergava...

 

Uma risadinha contida como a dos loucos.

 

— E agora nem vê pode mais.

 

A pequena figura sentada na rocha não se conteve e explodiu em gargalhadas.

 

Kanon não precisou de muito para se recordar, de que a desagradável risada, pertencia ao Máscara da Morte.

 

— Primeiro foi tolo em se ater somente aquilo que sua Tutora havia lhe passado...

 

O garoto falava em meio a risinhos cruzando e descruzando as pernas soltas no ar.

 

A cena deixou de enquadrá-lo para mirar a anciã inconsciente e esparramada no solo.

 

Não estava tão longe deles o corpo desfalecido de Cassandra.

 

— Já o meu adorado Saga foi além...

 

Parara de rir.

 

Mas não de falar.

 

— Ele desenvolveu o legado de Gêmeos como nenhum outro antes dele ousara em fazer...

 

“Elevando seu poderio a um novo patamar.”

 

Máscara da Morte parecia fascinado.

 

Arrebatado por um sentimento que poderia descrevê-lo como...

 

Apaixonado!

 

— Basta ver a grandiosidade de sua EXPLOSÃO GALÁCTICA e de sua CONTENÇÃO BLAZAR...

 

“E também no poder que ele detém como Cavaleiro de Ouro de Gêmeos e que acabou de condená-lo as trevas eternas:”

 

“PUNIÇÃO QUASAR(1)!”

Então este era o nome daquilo que o havia cegado.

 

Kanon consertou a postura trincando os dentes.

 

O ódio que coloria agora sua face, o fazia se esquecer, momentaneamente, do medo e da agonia.

 

— E em segundo...

 

Máscara da Morte não calava a boca?!

 

— Como pode oferecer aquilo que não lhe pertence?!...

 

Uma das sobrancelhas erguera-se como em desafio...

 

Ou troça.

 

— O Santuário... o mundo... ou mesmo a Armadura de Ouro de Gêmeos...

 

“Nada dessas coisas são de sua propriedade e...”

 

— P-Poderia, por favor... CALAR A BOCA?!

 

Kanon já havia tolerado por demais toda aquela infâmia.

 

Saga...

 

Máscara da Morte...

 

Que fossem todos para o inferno!

 

— Deixe-me termin...

 

O menino sentado na rocha não chega a concluir sua frase.

 

É forçosamente silenciado por um fúlgido disparo, que provindo de uma das mãos de Kanon, explode literalmente sua cabeça, o lançando de costas para trás.

 

Obrigado.

 

O irmão de Saga saboreia o resultado do que fizera mesmo sabendo que aquilo fora inútil.

 

Dado a regeneração provinda dos vermes que aquele miserável trazia em seu interior, logo sua maldita cabeça seria recolocada no lugar.

 

Ele também sabia do quão inconsequente poderia ter sido aquela sua ação.

 

Afinal acabara de desprender um pouco da curta, e valiosa, reserva de Cosmo que ainda lhe restava.

 

Contudo, só pelo fato do Máscara da Morte ter parado de falar já compensava os riscos do que tinha feito.

 

Sem aquele falatório insuportável conseguira pensar numa alternativa que, apesar de não garantir sua vida, faria o irmão e seu comparsa, virem consigo até o inferno.

 

— S-Saga...

 

Havia se virado para onde sabia estar à figura quieta e implacável do seu irmão.

 

— Mesmo sendo gêmeos e tão parecidos fisicamente...

 

“Sempre existiu um abismo entre nós...”

 

Seu Cosmo passa a arder para aquilo que seria sua investida derradeira:

 

Pretendia ele lançar pela última vez, sua:

 

EXPLOSÃO GALÁCTICA!

 

Mas dessa vez não alvejaria com ela, diretamente o irmão...

 

Atingiria o solo abaixo deles...

 

A destruição que se propagaria daria fim, primeiro a ele próprio, e depois, a quem mais estivesse no caminho.

 

Não temia que a CONTENÇÃO BLAZAR o detivesse como anteriormente.

 

Ele bem sabia, de antemão, que a técnica em si era eficiente, em seu cancelamento, quando harmonizava o Cosmo do agressor depositado em sua investida com a do usuário, fazendo ambos, vibrarem numa mesma frequência.

 

Saga não teria como sintonizar seu Cosmo com a de sua EXPLOSÃO GALÁCTICA já que essa se dispersaria ao golpear o solo.

 

— Somos como o céu e a terra...

 

“O inferno e o paraíso...”

 

“A luz e a trevas...”

 

O BEM E O MAL!”

 

A realidade em torno deles começava a assumir os traços do universo.

 

Pareciam eles, insignificantes, ante a beleza e imponência dos astros que desapontavam da escuridão eterna do firmamento.

 

— Somos como Cain e Abel...

 

“Irmãos amaldiçoados pelo destino.”

 

“Eternos inimigos...”

 

“Fadados a cair pelas mãos um do outro...”

Os braços erguidos para o alto capturavam a realidade distorcida, e as sucessivas explosões dos planetas contidas nela, que assemelhavam em sua beleza, com a de fogos de artifício.

 

Tudo isso é então arremessado para baixo, com o intuito de despejar no solo, toda aquela devastação apocalíptica.

 

— Eu me recuso a perecer em suas mãos...

 

“Dessa forma, que seja você então a morrer pelas minhas...

 

“Que seja eu, teu algoz...”

 

“Que vá para o inferno com sua fraqueza e estupidez...”

 

“Pereça juntamente com esse universo destroçado:”

 

EXPLOSÃO GALÁCTICA!”

 

Kanon aprenderia naquele dia, dentre tantas coisas, que mesmo os planos mais bem engendrados, nem sempre saiam da forma como eram concebidos.

 

Muitas vezes, haveria algo inesperado no caminho.

 

Lições, essas, valiosas para quem no futuro tornar-se-ia o regente do império submarino de Poseídon!

 

Como um escudo, o que seria um altar cósmico se materializa no pequeno espaço existente entre a técnica deflagrada de Kanon e o solo.

 

DESCENSÃO DA OFERENDA!

 

Em meio ao som potente daquela voz, detida no ar, sem conseguir tocar o chão, tremulava os contornos daquilo que outrora fora uma galáxia.

 

À medida que estava sendo repelida, também ia se dissolvendo.

 

— M-Mas... o que...?!

 

— Não necessariamente “o que”, mas quem...

 

Máscara da Morte havia se colocado de pé.

 

E como esperado, sua cabeça, retornara.

 

Assim como seu habitual falatório.

 

Seu rosto estava voltado para um sujeito as suas costas.

 

Com os olhos fechados, e sorriso, demonstrava um genuíno contentamento.

 

Se pudesse também vê-lo, Kanon enxergaria a figura digna de um homem com ares de fidalgo.

 

Tinha este um farto bigode castanho bem aparado que o tornava aparentemente mais velho do verdadeiramente o seria.

 

Vestia-se impecavelmente com uma indumentária característica dos Soldados de Athena que eram atribuídas somente a Cavaleiros, quando estes, dentro dos limites do Santuário, apresentavam-se, sem estar trajando suas armaduras.

 

A insígnia argenta da Deusa da Sabedoria as costas da suntuosa capa que compunha o traje, indicava a qual classe hierárquica pertencia.

 

Estava ele, naquele momento, com os braços estirados, semelhante a Cristo pregado na cruz.

 

Havia em seu belo rosto uma expressão contida de dor.

 

E do seu ser, uma nuvem púrpura exalava.

 

O cheiro inconfundível de sangue se misturava pestilento ao ar.

 

Era aquele o preço pago pelo feito de ter detido a EXPLOSÃO GALÁCTICA de Kanon.

 

— Olá, senhor Nikol(2)...

 

O saudou, Máscara da Morte ainda com o sorriso no rosto e postando ao seu lado.

 

Os braços mirrados e pálidos estavam dobrados ao redor da cabeça, as mãos acomodando a nuca.

 

Nikol retribuiu sua mensura com um aceno, e até tinha em mente uma reprimenda pelo garoto estar trajando vestes "civis", aliás, o que havia restado delas, ao invés de, como ele, estar com uma indumentária apropriada para quando não tivesse de Armadura, mas, sua atenção naquele momento estava toda direcionada para a figura dos dois gêmeos.

 

Dada a circunstância extremamente favorável, poderia ele, eliminar facilmente Kanon ali e agora, devolvendo contra este, a partir do DANO REVERSO, o resquício do poder que ainda restava, e estava a desaparecer, da técnica do jovem Aspirante.

 

No entanto, precisava da permissão de Saga para fazê-lo.

 

E sem ela, não ousava agir.

 

Kanon sentia o Cosmo que provinha daquele sujeito que interviera.

 

A voz lhe era vagamente familiar, tanto quanto o Cosmo, que apesar de nem de longe estar à altura do seu, conseguira miraculosamente deter sua EXPLOSÃO GALÁCTICA, e frustrar aquilo que era sua ultima cartada para aquele impasse.

 

Estava sendo, realmente atípico, aquele dia.

 

E um tanto desagradável.

 

Diante de tantos acontecimentos e revelações agora se deparava com mais um dos aliados de seu irmão.

 

Percebeu que Saga o derrotara até nisso.

 

Enquanto ele julgava ser sua força suficiente para seus propósitos, e não precisar com isso, de nada e de ninguém, Saga, prudentemente, cercara-se de outros que o seguia.

 

Estes pareciam estar ao lado de seu irmão sem que esse os estivesse sujeitado.

 

Kanon pensava ser aquilo um erro.

 

Não acreditava em qualquer relação que fosse sem que essa partisse da escravidão.

 

Derrotado, sem mais forças, opções e esperança, ele se deixa cair de joelhos.

 

Veio então sobre si, a sombra do irmão.

 

É assim que eu desejava vê-lo...

 

Disse-lhe, com um sorriso, frio e amargo.

 

Despojado de tudo...

 

Como que açoitado por sua voz, Kanon aperta os olhos fechados, cravando os dedos no solo, ajuntando e pressionando um punhado de terra.

 

Algumas gotas de lágrimas lhe escapam e molham suas mãos.

 

— A pouco você, em seu monólogo, falou em morte...

 

Fachos rubros eram atraídos para o centro de uma das palmas da mão aberta de Saga, e do ajuntamento destes, um “quasar” estava sendo preparado.

 

— Não haverá mortes por aqui hoje meu irmão, pelo menos, não para você...

 

Ainda de cabeça baixa, Kanon é covardemente afligido por um traço agudo, que ao transpassar sua testa, abstraia mais um dos seus sentidos.

 

— A ti reservo uma dolorosa punição...

 

Mais uma vez o corpo contorcera-se diante de tamanha violação.

 

Formigava, e para o mais completo horror de Kanon, descobriu-se que não mais podia sentir as sensações vindas de si próprio e as do mundo que o cercava.

 

Mesmo a dor havia desaparecido.

 

Veio um terceiro, quarto...

 

Um quinto ’quasar’.

 

E logo Kanon estava estirado no chão.

 

Seus cinco sentidos haviam sido removidos!

 

Apenas sua mente e Cosmo persistiam, num corpo que agora não era mais que uma casca vazia.

 

Sobreveio por um átimo, o silêncio.

 

E a noite que rapidamente se elevava diante do dia que estava se findando.

 

Máscara da Morte e Nikol, cada qual a sua maneira, observavam a figura quieta de Saga agarrar Kanon pelos cabelos, e arrastá-lo em direção a prisão do Sunion.

 

 

 

 

(1): O quasar está entre os mais luminosos corpos celestes presentes no espaço. É também, a maior fonte de emissão energética do cosmo. Um único quasar chega a ser maior que muitas dezenas de estrelas, no entanto, apesar de toda essa sua magnitude, não chega a ser tratado como uma galáxia propriamente dita.

 

(2): O nome Nikol foi retirado da obra Gigantomachia escrita por Tatsuya Hamazaki.

Editado por Leandro Maciel Bacelar
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LEMBRE A HISTÓRIA

 

Parte 1: Treinados por Cassandra, Saga e Kanon se veem frente a frente numa batalha onde apenas um deles deverá sair com vida. Em jogo, além da própria sobrevivência, a posse da valiosa Armadura de Ouro de Gêmeos.

 

Parte 2: O combate entre Saga e Kanon tem seu início. Depois de uma troca titânica de golpes, Saga se vê em desvantagem tendo um dos braços amputados pelo irmão que, inclemente, e decidido a por fim no embate, dispara contra ele, todo o terror de sua EXPLOSÃO GALÁCTICA.

 

Parte 3: Saga confronta a EXPLOSÃO GALÁCTICA de Kanon com uma versão única e muito mais aterradora dessa mesma técnica. Sua EXPLOSÃO GALÁCTICA, inclusive, teria tirado a vida de seu irmão caso ele não a tivesse detido. Kanon retribui o ato misericordioso do irmão com uma investida covarde que põe fim ao combate e deixa Saga a beira da morte. Cassandra, a mestra dos dois, surge uma vez mais em cena, trazendo consigo a urna da Armadura de Ouro de Gêmeos que por sua vez, elege Saga, e não Kanon, como o seu portador. Em meio a consternação de Kanon pelo ocorrido, Cassandra tenta aprisioná-lo numa outra dimensão, mas acaba facilmente dominada pelo seu ex-pupilo.

 

Parte 4: Máscara da Morte surge em meio ao campo de batalha e com seus VERMES DA SEPULTURA restabelece Saga de seus gravíssimos ferimentos, inclusive, recuperando seu braço perdido. Kanon o brevemente confronta e durante esse tempo, Saga, trajado com a Armadura de ouro de Gêmeos, se coloca de pé, e totalmente transformado, passa a afligir ao irmão com seu imensurável poder.

 

Parte 5: Como punição, Saga, bem lentamente, começa a extirpar os cinco sentidos de Kanon, que até esboça uma reação, mas acaba sendo contido por Nikol que, semelhante ao Máscara da Morte, se revela no campo de batalha e mostra-se como um dos aliados de seu irmão. Ao fim, Kanon, completamente derrotado e submisso, é arrastado por Saga até a prisão do Sunion.

 

 

Parte 6 Contraparte

 

Noite. Ano Terrestre de 1973.
Santuário. Casa de Gêmeos.

 

 

AFASTA-SE DE MIM!

 

Como que obedecendo, uma considerável massa etérea de Cosmo deixou o interior de Saga, fazendo com que a transformação que o acometia, dissipasse.

 

Percorria os ares, na forma de inúmeros veios, o Cosmo expulso, convergindo à frente do Cavaleiro de Ouro de Gêmeos, até reunir-se, originando uma espiral que não tardou em culminar numa figura humanóide.

 

Fale mais baixo, ou o servo te escutará.”

 

— DANE-SE...

 

Abriu o punho, Saga, e jogou tudo que estava numa cômoda no chão.

 

— QUE VÃO TODOS PARA O INFERNO, MAS QUE VOCÊ NÃO CHEGUE MAIS PERTO DE MIM!

 

O som de vidro e louça se quebrando encheram o Salão Sagrado.

 

A aparição, que detinha os mesmos contornos físicos de Saga, contudo, desprovida de feições, deu um passo em sua direção.

 

E mais outro.

 

Parecia determinada em ir ao seu encontro.

 

— Estou lhe avisando, NÃO SE APROXIME!

 

Saga lhe apontou a mão, e desta, um facho reluzente irradiou, fulminando impiedosamente o espectro, que desaparecera de imediato, consumido pela luz.

 

Não me trate assim.”

 

Eu não podia evitar.”

 

Disse-lhe baixinha uma voz, que em verdade era sua, acariciando-o em tom de reconciliação.

 

Assustadoramente, a face de Saga, refletida em um dos espelhos do aposento, assumira uma feição triste e sedutora ao pronunciar aquelas palavras.

 

No instante seguinte, sua expressão voltara ao que era antes.

 

O Cavaleiro de Ouro de Gêmeos podia sentir a tristeza, e a quase derrota naquela voz que o assombrava.

 

Sentia a dor por ele, Saga, ter derramado sobre si, o seu ódio.

 

E podia sentir também aquela frieza e passividade que era como algo profundo enraizado no cerne de sua alma.

 

Não podíamos evitar.”

 

Novamente a voz.

 

— Oh, mas claro que você poderia.

 

Falou, Saga, disposto a prosseguir com o extravasamento de toda raiva e indignação que o corroia.

 

— Sabe muito bem que poderia...

 

Fez uma pausa.

 

Você tinha o poder, o conhecimento...

 

Prosseguiu, o Cavaleiro de Ouro de Gêmeos, sua voz tornando-se cada vez mais colérica.

 

Kanon por sua vez, não compreendia...

 

Ao pronunciar o nome do irmão, diversas lembranças deste, e com este, vieram uma vez mais a tona.

 

De forma desordenada, as imagens misturavam-se na mente de Saga.

 

Lágrimas passaram a fluir sem controle.

 

— Você poderia tê-lo feito enxergar o quanto estava errado. Foi sua maldita frieza que quis preservar. Sua preciosa concepção de verdade!

 

Virou-se delicadamente.

 

E viu num grande espelho o reflexo de si próprio.

 

Seus olhos, ainda marejados, se moveram suavemente.

 

A dor expressa era terrível.

 

Parecia-se, Saga, com um anjo despido de toda sua glória.

 

Mergulhado na tragédia, perdido no horror, mas ainda sim, inegavelmente belo.

 

Estava à beira de alguma incrível emoção explícita que não conseguiria controlar.

 

O Cavaleiro de Ouro de Gêmeos tinha medo desta emoção.

 

Sua contraparte não.

 

Percebia esta a sua dor através de seu imenso e fascinante poder, que em muito, o superava.

 

Por sua vez, Saga não a sentia.

 

E tão pouco se importava com ela.

 

Só o que interessava era o fato do seu amado irmão estar apodrecendo numa prisão imunda e indigna.

 

Culpado por um crime que não havia cometido!

 

Ele queria voltar lá e desfazer tudo que fora feito.

 

Abraçar Kanon e protegê-lo de tudo.

 

Ele sempre esteve no nosso caminho, precisava ser removido.”

 

Saga cerrou os dentes e sua face transfigurou horrendamente numa máscara amarga de ódio.

 

Eu poderia tê-lo matado, mas não o fiz por você.

 

— Você não fez nada disso por mim, fez para si próprio, e apenas me usou como vem fazendo até então.

 

A raiva, somada a indignação, tinham retornado a voz do Cavaleiro de Ouro de Gêmeos.

 

— Mas eu compreendo tudo muito bem...

 

O tom agora era de derrota ou simplesmente de mera aceitação.

 

— Na verdade, sempre compreendi...

 

Os olhos de Saga haviam se fechado.

 

Ele parecia constrangido.

 

Como se algo o envergonha-se profundamente.

 

— A passividade em mim foi o centro de tudo, o verdadeiro mau...

 

As mãos foram levadas ao rosto e lentamente o Cavaleiro de Ouro de Gêmeos foi se dobrando.

 

Ficando de joelhos.

 

Esta foi a minha maior fraqueza: preferi fechar os olhos quanto às atrocidades que você cometia, desde que elas de certa forma, me favorecessem. Assim eu não precisava sujar as minhas mãos com aquilo que julgava errado, mas que em meu intimo, tinha certeza que precisava ser feito.

 

Podia se enxergar as lágrimas vertendo, passando do rosto para as mãos.

 

— Foi por isso que deixei você se aproximar de mim... por isso, deixei que me tornasse o que sou, quando sabia que não era correto. Por isso deixei Kanon se enveredar pelos caminhos que trouxeram sua ruína, mesmo sabendo que aquilo era errado e que eu devia ter feito alguma coisa para ajudá-lo...

 

As mãos de Saga deixaram trêmulas, o rosto.

 

Dedos se fechando.

 

Comprimindo-se.

 

— Fiquei parado enquanto você arquitetava todo seu maldito ‘teatro’ para destruí-lo... humilhá-lo...

 

Tinha, o Cavaleiro de Ouro de Gêmeos, consertado a postura e se colocado de pé.

 

— E se não bastasse, atribuíra a ele, o assassinato de nossa Tutora, quando em verdade, a mando seu, fora Máscara da Morte, o perpetrador...

 

Lá fora, um forte relâmpago riscara o céu.

 

— Sabia que estava errado...

 

Começava a chover.

 

Mas sabia que devia ser feito!

 

A expressão, outrora perturbada do jovem, de pouco mais doze anos de idade, era agora de determinação.

 

— Bem, mas digo-lhe que não mais permitirei que isso continue. Não sou mais aquela criatura passiva e fraca que teceu o mau até que a teia ficasse vasta e forte, enquanto eu continuava paralisado a achar que aquilo era necessário. Acabou-se...

 

Saga começa elevar seu Cosmo.

 

— Agora sei o que devo fazer. E estou lhe avisando, pela piedade que demonstrou hoje para com meu irmão naqueles rochedos, não ouse tentar me deter... OUTRA DIMENSÃO!

 

Movimentando os braços ele cria uma ruptura na realidade.

 

Esta, como se fosse à entrada de um local sendo desobstruída por portões, se sobrepõe ao espaço que violara, reivindicando para si tudo que havia nele, inclusive a figura do Cavaleiro de Ouro de Gêmeos, que em meio aos escombros do Salão Sagrado e parte de sua mobília, desaparece no interior daquele estranho fenômeno, quando este contraí-se.

 

O irmão de Kanon estaria de fato fadado a vagar eternamente no vazio que interpõe os três planos existenciais, contudo uma risada doentia ecoa do fundo de seu ser.

 

Não!

 

A sua contraparte vem mais uma vez à tona e decidi agir, mas Saga tenta, com todas suas forças, repeli-la.

 

As coisas não podem acabar desse jeito!

 

— Sim, podem. E é assim que tudo terminará!

 

A cena que se vê é aterradora.

 

Em meio ao nada, o corpo do Cavaleiro de Ouro de Gêmeos cruzava as dimensões como um verdadeiro cometa que singrava o firmamento.

 

Sua imagem parece dividida.

 

A transformação física que alterava seus olhos e cabelos havia afetado apenas a parte esquerda de seu corpo.

 

De um lado, envolto por um Cosmo dourado, está Saga.

 

Do outro, envolto por um Cosmo carmesim, estava a sua contraparte.

 

Então é isso que quer, Saga?! Deseja mesmo se matar?!

 

Sim! Somente a morte pode evitar toda tragédia que você tem em mente perpetrar.

 

Eu não permitirei que leve adiante esta loucura. Nós... EU... sacrifiquei demais para chegar até aqui... não posso permitir que você ponha tudo a perder agora.”

 

— A decisão já foi tomada, e você não pode fazer nada quanto a isso.

 

Ah, mas eu posso... e eu o farei... pelo bem de nós dois estou disposto a fazer aquilo que for necessário... Saga, se não posso te convencer com argumentos, usarei então a força!”

 

— Ótimo! Lutaremos então até o fim.

 

Não seja tolo, acha mesmo que pode me enfrentar?!

 

Indaga a contraparte, seu olho rubro estreitando-se.

 

Sim! Eu disse que colocaria um fim em tudo e estou disposto a enfrentá-lo para que isso aconteça.

 

A personalidade mais forte vencerá o combate!

 

— Um desafio que não estou disposto a perder.

 

Bravata de alguém sem bem ou mal!

 

Abstrações que não afetam a força de vontade.

 

Saga... você não pode prevalecer diante de sua metade sombria...

 

Súbito, os dois corpos se detêm, e uma esfera cósmica de proporções consideráveis, se forma, ao redor de ambos, brilhando com a força de uma estrela que acabara de nascer.

 

Eu sou o animus puro, Saga! Sou as profundezas das quais viram a grandiosidade.

 

Você é destruição e cobiça, de cujas cinzas fênix alguma há de nascer.

 

Todas as cidadelas são erguidas sobre as ruínas do que já existiu antes...”

 

A esfera começa a se dilatar adquirindo traços colossais.

 

Essa é a lei de todos os mundos. Das chamas jorra o aço temperado!

 

Não! Seu fogo arde com virulência... metal calcinado é o produto de sua criatividade.

 

O bem e o mal são parceiros eternos na estrada da vida. Sem essa união o ser humano é capaz apenas de reles consciência. Saga... você já não está sentindo minha vontade negra sobrepujar seus esforços inúteis?!

 

— O que eu sinto é o vazio de palavras sem convicção. Degeneração tal qual a sua jamais reunirá os recursos mínimos para sobressair a sua natureza vil.

 

Veremos!

 

A esfera atinge um nível crítico e começa a desestabilizar.

 

De seu interior, um feixe de luz intermitente se propele em direção ao vazio.

 

Em seguida, aparece mais outro.

 

E outro.

Logo os feixes não param de surgir até se tornarem milhares.

 

Abra seu espírito para mim Saga, seja novamente um só comigo!

 

NÃO!

 

A esfera, finalmente entra em colapso, explodindo.

 

No ponto exato da detonação, havia agora um campo gravitacional tingido em seu interior por um negro tenebroso, do qual nem mesmo a luz, escapava de sua imensurável sucção.

 

Será que não vê o quanto esta sendo tolo?!

 

No centro daquele buraco negro, a figura de Saga, incólume, graças a uma aura que estava agindo como uma célula de sobrevivência, ardia em labaredas que mesclavam o dourado e o rubro.

 

— É você que me julga tolo, por deduzir, erroneamente, minha incapacidade de enxergar através das intenções de seus atos.

 

Do que esta falando, Saga... eu sempre te amei, sempre fiz tudo por você... por nós!... e se alguma vez escondi algo foi para protegê-lo... para evitar situações desagradáveis como essas, que estamos passando agora, e que acabam só servindo para nos separar.”

 

Cale-se! Você não passa de um mentiroso que vem me manipulando para me usar em seus interesses doentios.

 

Você permitiu isso, Saga... e agora a pouco afirmou que também me usava...

 

Serviu-se de mim para realizar aquilo que nunca tivera coragem de fazer...

 

A metade do rosto que competia a Saga, apesar de não parecer indignada ante o peso das acusações de sua contraparte, demonstrava certa tensão.

 

Você se diz passivo, Saga, quando na verdade não se trata de nada disso...”

 

A contraparte sorri.

 

Na verdade você se fez de sonso porque lhe era conveniente... confesse que nunca acreditara verdadeiramente no bem ou no mal... que sempre vira neles ferramentas hábeis para atingir seu principal objetivo.”

 

Foi assim com seu irmão e também com sua mestra...

 

Se porta desse jeito, inclusive, comigo.

 

— Cala essa boca.

 

Disse finalmente Saga.

 

Me calar?!... mas eu pensei que estávamos sendo sinceros um com o outro aqui?!... senão porque todo esse melodrama?!

 

— M-Monstro, você está subvertendo minhas razões...

 

Estou?! Oras, seja mais sincero consigo mesmo, Saga... isso que acabou de dizer a pouco é apenas parte da verdade... no fundo você acredita que apenas seu poder e sabedoria podem trazer a paz para este mundo... o que você quer é ser a autoridade única e máxima sobre todas as coisas para conseguir, assim, impor a sua vontade e visão de felicidades eternas.”

 

Mais uma vez a risada demoníaca da contraparte ecoa em júbilo.

 

E você ainda me chama de monstro...”

 

Saga... a verdade é que, de certa forma, todos somos monstros...”

 

“A diferença é que são poucos, como eu, que conseguem ser completamente sinceros a respeito.”

 

Mais risos.

 

A metade do corpo que compete a Saga esmorece.

 

Ele queria ordenar para que a sua contraparte se calasse, mas não encontrava forças para isso.

 

Seu Cosmo oscilava, ameaçando se extinguir.

 

Algumas certezas amargas vinham à tona:

 

Quantos outros haveria de sacrificar para alcançar o propósito que almejava?!

 

Já tinha imolado Kanon e Cassandra.

 

Kanon...

 

O irmão que o odiava.

 

Seu eterno rival e porque não dizer, marionete.

 

Útil para que a posse da Armadura de Ouro de Gêmeos estivesse assegurada e sua grandeza e altruísmo fossem melhores reconhecidos.

 

Afinal, a bondade sempre careceu do mal para se fazer notória...

 

Aclamada...

 

Necessária!

 

Tanto quanto as estrelas precisam da noite para que seu esplendor possa ser admirado.

 

Cassandra...

 

Aquela que o conduzira até o posto de Cavaleiro de Ouro.

 

E o mais importante...

 

A responsável por ele e o irmão permanecerem vivos, mesmo quando seu odioso pai o queriam mortos, imbuído com a desculpa que eles carregavam consigo, algum tipo de maldição.

 

Saga sempre soube não se tratar de nada disso.

 

Shion via neles o testamento de sua vergonha.

 

De sua falência moral.

 

Era do conhecimento de poucos, que o Grande Mestre vivia se deitando, às escondidas, com algumas das servas do Santuário, e no caso de sua mãe, com algumas esposas dos aldeões de Rodório.

 

Cassandra, que sempre havia servido Athena como Tutora, descobrira o ocorrido quando a irmã lhe confidenciara o segredo, inclusive, lhe revelando que estava grávida de Shion.

 

Por sorte, o esposo, um respeitável e abastado comerciante local, não desconfiava de nada.

 

Mesmo assim, provavelmente por temer algum tipo de escândalo, o Grande Mestre declarara a morte das crianças ainda no ventre da mãe.

 

Dissera que havia visto em suas visões do futuro, a partir das estrelas, que eles eram o precursor de um grande mau e precisavam, portanto, ser extirpados antes que isso ocorresse.

 

Sua decisão só foi revogada quando Cassandra foi ter com ele.

 

Provavelmente a velha Amazona o tinha ameaçado.

 

E mesmo o mais alto na hierarquia das hostes de Athena teve que ceder ao pedido da Tutora já que silenciá-la poderia, talvez, expô-lo ainda mais.

 

A verdade, às vezes, ostenta uma face grotesca.

 

Disse-lhe sua contraparte, num tom cúmplice, como que se aquilo que estava falando fosse um segredo sendo partilhado, tirando-o de seus devaneios.

 

“Uma face que todos os espelhos julgam horrenda demais para refletir.”

 

“Negra demais para ser percebida.”

 

Saga sentia seu corpo cada vez mais pesado.

 

O suor escorria abundante e a sensação de desconforto era intolerável.

 

Tantas verdades...”

 

Prosseguia, sem se alterar, sua contraparte.

 

“A realidade do que você é agora, Saga, do que já foi...”

 

“Como elas coexistem?”

 

Havia agora genuína compaixão na voz.

 

Será que o presente será sempre refém do passado?”

 

Herói ou canalha?”

 

Santo ou pecador?”

 

Autêntico ou impostor?”

 

Bom ou mau?”

 

Preto ou branco?”

 

Será que não há espaço para tons de cinza?!

 

A voz fez-se silêncio, e ao redor da figura dourada que tanto Saga e a contraparte partilhavam, emoldurada essa, pelo branco da capa que trazia presa as suas costas, ouvia-se apenas o estrondo causado pelo buraco negro, que permanecia tragando tudo para seu interior sombrio.

 

Tantas indagações e tão poucas respostas...”

 

Retomara a palavra, a contraparte, encaminhando-se, para aquilo que deveria ser o desfecho de tudo aquilo.

 

Um fardo demasiado pesado para um único ser humano carregar, digerir.”

 

Defeituoso, imperfeito...”

 

E no fim, isso é realmente o que você é Saga, um homem...”

 

Apenas um homem!

 

Lentamente a voz vai morrendo junto com o Cosmo do Cavaleiro de Ouro de Gêmeos que se apaga por completo.

 

O corpo, do jovem, que voltara a totalidade do que sempre fora, desfalece.

 

Lágrimas banhavam-lhe calidamente a face angelical, onde, sua expressão, agora única, denotava a serenidade imperturbável daqueles entregue ao sono ou... a morte!

 

À medida que a figura de Saga ia ficando cada vez menor e perdendo a nitidez, desaparecendo no interior do buraco negro, podia-se ver, em torno de toda sua silhueta, o bruxulear de um fulgor rubro que tinha se manifestado, de súbito, juntamente com o som estridente de uma gargalhada demoníaca que soava em júbilo.

Editado por Leandro Maciel Bacelar
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  • 2 semanas depois...

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — primeira parte

 

Perto do Sunion.
Alguns meses após Saga ter se tornado o Cavaleiro de Ouro de Gêmeos.

 

Escuridão.

 

Rachel estava deitada e posicionada estrategicamente bem rente ao solo.

 

A relva alta a encobria completamente.

 

Em suas mãos empunhava um poderoso rifle de precisão com um silenciador fixado em sua extremidade.

 

Olhou para o outro lado do descampado cercado por rochas.

 

Uma grande coluna de mármore semi-destruída jazia dentre a grama que crescia envol­vendo-a como o esqueleto de um animal imenso e abandonado.

 

Os olhos verdes da garota viam Sendhil através do acurado poder mental de sua: SONDA TELEPÁTICA!

 

Era um homem alto, de cabelos longos, pele clara esturricada pelo sol, magro, mas de compleição robusta, de músculos poderosos e visíveis.

 

Movia-se este, perigoso e mansamente ao lado da coluna, com a desenvoltura e porte, de um grande felino.

 

Espreitava.

 

O rapaz havia encontrado a melhor posição e estava parado, esperando os alvos tomarem posição.

 

Cerca de duzentos metros de onde Rachel estava, elevava-se do solo até as alturas, uma torre.

 

Erguia-se imponente como um obelisco.

 

A lua estava alta àquela hora e encoberta por nuvens pesadas; uma chuva caia fina a intervalos irregulares dos céus de ébano.

 

Sendhil subira na coluna, ágil e silencioso.

 

Para qualquer ser humano normal, aquela proeza, seria quase impossível.

 

Mas para o rapaz, que fazia naquele momento, uso de um poder cósmico que havia provisoriamente alterado seu corpo, aquilo havia sido demasiado fácil.

 

O sobretu­do negro que o envolvia, estava molhado e balançava suavemente conduzido pelo vento.

 

Abaixo dele, trajava uma vestimenta metálica tão negra quanto à noite que o cercava.

 

Seus desgrenhados e compridos cabelos castanhos claros, que iam um pouco além do seu queixo proeminente com barba por fazer, estavam colados em seu corpo devido à água da chuva que os lavava.

 

Ouviu, com sua audição sobrenatural, o farfalhar de ave noturna.

 

Os olhos negros e cruéis de Sendhil subitamente voltaram-se para a negritude do firmamento, acendendo-se na escuridão, amarelos e reluzentes como chamas espectrais vindas do próprio inferno.

 

Mas ele pouco conseguira enxergar.

 

Em contrapartida, sua audição e olfato apurados, detectavam os odores e sons característicos de uma coruja com um pequeno roedor por entre suas garras.

 

O odor de morte entrara por entre suas narinas, agora dilatadas.

 

Ouvira o lamento aterrorizante da pequena vítima.

 

Um cheiro levemente salgado misturava-se ao da chuva.

 

A ave passava agora sobre sua cabeça.

 

Novamente o cheiro inconfundível de sangue!

 

Uma gota acertara-lhe a testa.

 

Passou dois dedos pelo local.

 

O odor o hipnotizava tanto quanto o sabor.

 

Lambera com prazer as pontas dos dedos.

 

Depois fitou prolongadamente a torre de vigília que estava mais a frente.

 

Então virou para trás buscando Rachel, orientando-se.

 

Mesmo não a vendo e ouvindo, ele podia sentir com seu olfato, seu cheiro.

 

Por um instante a bela visão da jovem tomou de assalto a mente doentia do rapaz:

 

Alta.

 

Pele alva, mas como a dele, castigada pelo calor inclemente do astro rei.

 

Corpo voluptuoso.

 

Formas deliciosas.

 

Extremamente atraente.

 

Longos e lisos cabelos ruivos, presos agora, com cuidado, em uma única trança.

 

Olhos verdes que nunca deixavam de transmitir força e uma perversa inteligência.

 

A boca carnuda tão bem desenhada que faria qualquer coração disparar ao simples ato de tocá-la.

 

Roupas negras de um colante em meio às peças da sua armadura de ébano.

 

Trajava ainda sobre a roupa e a almagama, uma pequena jaqueta entreaberta; a peça era trabalhada em couro, na tonalidade vermelho bem escuro; ia até um pouco além dos seios volumosos que estavam acomodados com sensualidade no peitoral de sua vestimenta metálica.

Sendhil a desejava.

 

Mais que isso, ele a amava, e Rachel era provavelmente a única pessoa em todo esse mundo que ele verdadeiramente respeitava e confiava.

 

Teve dificuldades em apagar de sua mente a visão da jovem, focando-se novamente na missão que tinham pela frente.

 

Toda vez que pensava sobre isso experimentava um misto de excitamento e medo.

 

Aquele serviço era diferente de tudo que haviam enfrentado até então.

 

Era a primeira vez que não sentia a convicção costumeira do êxito.

 

Talvez, seu poder não fosse suficiente.

 

Não estava certo de sua integridade.

 

Poderia até mesmo morrer naquela noite.

 

Mas isso era o que mais o atraía.

 

Finalmente um desafio de verdade!

 

Alvos de poder.

 

Vítimas que não tombariam facilmente!

 

As chamas amarelas de seus olhos sobrenaturais se apagaram.

 

Descera então da coluna tão ágil quanto subira.

 

O tecido negro junto a sua vestimenta, em mesmo tom, tornava-o uma extensão macabra das sombras.

 

Não queria estragar a emboscada.

 

O elemento sur­presa seria fundamental para o sucesso da missão daquela noite.

 

Não muito distante do ponto onde Sendhil manobrava, Rachel repassava tudo, mentalmente, para si:

 

Warlock tinha entrado em contado por intermédio de telepatia há dois dias.

 

Já não se falavam desde que este a convidara a se juntar novamente aos Cavaleiros Negros.

 

Ela recusara!

 

O adolescente Lemuriano em nenhum momento se mostrara contrariado.

 

Havia se mostrado, sim, desapontado, mas não tentara forçá-la ou mesmo fora desagradável.

 

Rachel achava-o interessante e estava de certa forma, fascinada por ele.

 

Nunca havia se apaixonado antes, e temia que isso agora tivesse acontecido.

 

O jovem de feições afeminadas tinha lhe dito, com aquela voz sempre controlada e educada, que precisava dos seus serviços.

 

Era algo que somente ela e seu parceiro seriam capazes de realizar.

 

As informações técnicas foram passadas em seguida, assim como a confirmação de uma farta quantia em dólares, depositada em uma conta particular de Rachel, nas Caimãs.

 

Era assim que ela e Sendhil agiam:

 

Mediante as altas recompensas financeiras pelos seus serviços.

 

Como mercenários, colocavam suas capacidades únicas a serviço daqueles que podiam pagar por elas:

 

Ditadores, empresários, traficantes, terroristas...

 

Não importava.

 

Desde que pudessem pagar, Rachel e o parceiro estavam dentro.

 

Não tinham escrúpulos, ou fingiam não ter, e aceitavam qualquer tipo de trabalho, por mais hediondo que esse pudesse vir a ser.

 

Na execução destes, tentavam, ao máximo, encobrir seus rastros para assim não chamar atenção excessiva sobre seus atos.

 

Não faziam isso por causa das autoridades da sociedade humana.

 

Faziam por temer o Santuário de Athena!

 

Eles bem sabiam que aquilo que estavam fazendo poderia levar os Cavaleiros a caçá-los, e isso era algo que queriam evitar a todo custo.

 

Até então estava dando tudo certo; o Santuário não desconfiava de nada e eles viviam suas vidas em paz.

 

Mas como se fosse uma ironia do destino, a missão deles agora seria invadir o mesmo Santuário que tanto temiam e queriam ficar longe, e libertar de sua prisão, o Sunion, um indivíduo que por lá fora recentemente encarcerado.

 

Kanon era o nome daquele que deveriam libertar!

 

Rachel não sabia nada sobre ele.

 

Mas deduzia que Warlock devia conhecê-lo, pois claramente tinha interesses no tal.

 

Em meio à conversa mental que haviam tido, o jovem Lemuriano havia também comunicado que um Cavaleiro Negro iria encontrá-los, quando estes já estivessem na Grécia, para o cumprimento da missão.

 

Tal coisa a desagradou.

 

Não gostava que outros participassem de seus trabalhos.

 

Ensaiou uma discordância quanto a isso, mas Warlock acabara a dissuadindo quanto a esse ponto, convencendo-a que a participação desse indivíduo, poderia definir o sucesso de toda aquela empreitada.

 

Rachel não nutria nenhum tipo de simpatia pelos Cavaleiros Negros.

 

Sabia muito bem quem eram.

 

Com treze anos, havia abandonado o Santuário, onde ainda criança, havia sido trazida da Inglaterra para se tornar uma Amazona; após um tempo vagando solitária, e errante pelo mundo, os havia procurado no reduto de seu exílio na Ilha da Rainha da Morte, com o intuito de se juntar a eles.

 

Na época estava muito confusa; os tinha procurado por se sentir sozinha e apartada do resto da humanidade.

 

Por sua imensa capacidade e poder, não demorou em ser aceita para ser um deles.

 

Mas não ficou por lá muito tempo.

 

Assim como não havia conseguido adaptar-se ao Santuário, o modo como viviam os Cavaleiros Negros também não a agradava.

 

Considerava degradante ficar confinada naquela ilha asquerosa sem qualquer conforto digno, remoendo um sentimento de ódio e inveja por não ter conseguido se sagrar Cavaleiro de Athena e ainda por cima recebendo ordens de um Cavaleiro renegado, que como punição imposta pelo Santuário, havia sido enviado ali com o intuito de controlá-los.

 

No fundo, entendia que todo ódio e rancor proferido pelos exilados daquela ilha contra o Santuário e Athena eram falsos, e que na verdade o que ansiavam, era serem aceitos, uma vez mais, pela Deusa em suas fileiras, e que seu poder fossem colocados a serviço desta, novamente, assim como havia sido no passado, numa época remota de glória dos Cavaleiros Negros.

 

Quando os abandonou para seguir o seu próprio caminho, Sendhil, que já vivia entre eles como sendo escravo, acabou vindo com ela.

 

O rapaz havia nascido na ilha, entre os aldeões, e como muitos, vendido pelos pais, durante sua meninice, para servirem como servos dos Cavaleiros Negros.

 

Em algumas ocasiões, ele tinha estado ao lado de Rachel, e nesse pouco tempo que haviam passado juntos, acabaram se afeiçoando.

 

Inclusive, a jovem o havia ensinado a se tornar um combatente e a despertar e controlar superficialmente as faculdades primárias do Cosmo.

 

Rachel sabia dos sentimentos do rapaz, que em segredo a amava, mas nunca sentiu o mesmo por ele, e dessa forma nunca os retribuíra ou dera margens para que se aproximasse.

 

O convívio de ambos era o mesmo de um tutor para com seu discípulo, e logo passou para o de parceria.

 

Rachel cuidava de Sendhil, e este, cuidava dela.

 

A linha entre ambos estava bem clara.

 

E pareciam, cada qual, satisfeitos em não cruzá-la.

 

Havia, Rachel, passado aquela noite toda em seu confortável apartamento em Londres analisando repetidas vezes as informações passadas por Warlock.

 

No dia seguinte, entrara em contato com Sendhil.

 

O parceiro reclamou de ser importunado.

 

Estava em Mônaco esbanjando seu dinheiro com jogos, bebidas e prostitutas, não necessariamente nessa ordem.

 

Em poucas horas, já estava em seu apartamento onde discutiam o plano de ação.

 

Ela já havia providenciado praticamente tudo pela manhã.

 

Passagens, documentos falsos, hospedagem...

 

Tinha, inclusive conseguido, através de um contato confiável na Grécia, um pequeno helicóptero particular e o equipamento necessário para fazerem a invasão.

 

De tardinha já estavam em solo grego e acomodados confortavelmente em um dos muitos luxuosos hotéis de Atenas.

 

Esperavam agora que o tal Cavaleiro Negro, enviado por Warlock, entrasse em contato.

 

Rachel se perguntava como isso se daria, já que nenhum local ou horário havia sido previamente determinado.

 

Pensara em entrar em contato mental com o Lemuriano, mas não podia.

 

Mesmo sendo uma talentosa telepata, era incapaz de estabelecer uma linha de comunicação com ele, por isso esperava que o próprio a procurasse.

 

Durante o anoitecer daquele mesmo dia, um rapaz bastante jovem os havia procurado no hotel com uma imensa bagagem em suas costas.

 

Seus modos, assim como suas vestes, e aparência, eram de um morador local e ninguém diria que ali por debaixo daquela casca inexpressiva, se ocultava um Cavaleiro Negro.

 

A única coisa que chamava atenção para sua pessoa era a ausência de um de seus braços.

 

Rachel não o reconheceu.

 

Mesmo tendo estado na presença da maioria dos Cavaleiros Negros que habitavam a Ilha da Rainha da Morte, aquele ali a sua frente era um completo estranho.

 

Na tentativa de descobrir alguma coisa, sua mente, ao perscrutá-lo com a SONDA TELEPÁTICA, obtendo assim, acesso ao que o rapaz estava pensando naquele momento, teve um pequeno lampejo do que aquele Cavaleiro Negro de pele morena e cabelos descoloridos bem curtos era capaz:

 

Viu horrorizada, Rachel, em sua mente, uma cidade inteira sendo tomada pelo FRIO ESPACIAL!

 

Pessoas sendo indistintamente congeladas...

 

Vítimas estas, do estratagema doentio de um Proscrito, que por ter sido descartado por Athena, devido sua conduta inapropriada, decidira mostrar a Deusa, o quanto estava enganada, ao desprezá-lo.

 

Sua chacina obrigaria o Santuário a enviar alguns Cavaleiros para detê-lo...

 

E essa era a essência de seu plano!

 

Um a um pretendia derrotá-los.

 

Assim esperava convencer Athena de quão era digno e...

 

Forte!

 

Certamente seria preferível para a Deusa tê-lo ao seu lado do que contra ela.

 

Só que algo, não esperado, frustrara o pretendido.

 

Em seu encalço, viera aquilo que de melhor compunha as fileiras da Deusa da Sabedoria daquela geração:

 

SAGITÁRIO!

 

Este, em meio à luta, atingira o Proscrito com um tornado flamejante que, literalmente irrompera céu abaixo, despencando, pasmem, do próprio sol; tal monstruosidade conectara-se a perna estendida do Cavaleiro de Ouro de Sagitário, que mediante a uma série coordenada de giros, o tinha capturado. Como que se brandisse um chicote, Aioros conduziu seu TEMPORAL SOLAR, para que esse, num movimento de semi-arco, aniquilasse seu alvo e tudo mais em sua trajetória.

 

Sobrevivi, aquele dia, às chamas solares de Aioros graças ao zero absoluto do meu FRIO ESPACIAL; num momento de desespero, tomado pelo caudaloso terror da morte eminente, lancei minha técnica congelante contra minha própria pessoa, para que essa pudesse me proteger do calor incinerante, confinando-me num ataúde de gelo maciço. Mas como vê... — o Cavaleiro Negro, com um sorriso enviesado de canto de boca, apontara para seu braço inexistente, detendo, à medida que fazia isso, seu falatório direcionado a Rachel, enquanto essa permanecia inerte naquilo que estava enxergando dele, em sua cabeça.

 

“Tive que pagar um preço considerável pela façanha.” — continuara, o sorriso no rosto do rapaz desaparecendo, enquanto sua fisionomia tornava-se amarga.

 

“Antes de ser congelado, para não trocar uma morte por outra, tive a precaução de envolver meu corpo numa célula de sobrevivência, que por sua vez, se manifestara através de uma tênue película cósmica capaz, com seu poder, de debelar boa parte dos danos de exposição durante uma temperatura tão baixa.”

 

“Entretanto, um resquício do frio da minha gélida mortalha me afligira mesmo assim, me deixando em coma por meses e congelando, de um modo irreversível, um dos meus braços que tivera de ser amputado. Se não fosse por Warlock ter me encontrado naquele hospital, nos ermos de um povoado grego, eu ainda estaria por lá ‘dormindo’ ou já morto.”

 

Quando o Cavaleiro Negro terminara, encerrara também aquilo que Rachel vislumbrava com sua SONDA TELEPÁTICA, imperando agora naquele quarto de hotel, o mais completo silêncio. Sendhil, alheio ao que havia acontecido, sem entender a expressão alarmada da parceira e o que fora dito por aquele rapaz, simplesmente aguardava. Por sua vez, Rachel, se refazendo do choque, e com sua técnica mental ainda em atividade, pois não se dera conta de desativá-la, recebera por pensamento, como cortesia, da mesma forma como acontecera com as lembranças que acabara de vivenciar, o nome daquele Cavaleiro Negro:

 

Garan(1).

 

Em seguida, rompendo com aquela quietude, onde se fazia atuante, certa tensão, o rapaz se apresentara formalmente para Rachel e Sendhil, como sendo o Sagitário Negro.

 

A ruiva sabia que era dessa maneira que os Cavaleiros Negros faziam se conhecer:

 

Seus nomes eram os das constelações dos quais suas Shadow(2) haviam sido replicadas.

 

Desde o princípio, Rachel e o parceiro imaginavam que Garan também fosse participar, com eles, da missão, mas estavam enganados.

 

Sagitário Negro havia trazido consigo duas urnas de ébano com as armaduras de Triângulo e Cão Maior em seu interior.

 

As vestimentas eram benefícios que deveriam ser entregues a eles.

 

Estas tinham sido as ordens passadas a Garan por Warlock.

 

Sem muitas explicações, o Sagitário Negro deixara a bagagem que trazia, e se fora.

 

Rachel e Sendhil ficaram por um longo tempo pensativos, admirando as caixas com os trajes cor de azeviche em seu interior.

 

Eles bem sabiam que aquelas armaduras seriam de grande valia naquela empreitada.

 

Talvez, suas vidas viessem a depender delas.

 

Aceitariam-nas então de bom grado.

 

Mas algo ainda intrigava Rachel:

 

Triângulo e Cão Maior eram constelações de Armaduras de Prata.

 

E o rapaz havia se apresentado como Sagitário Negro, uma constelação que endereçava a uma Armadura de Ouro.

 

A ruiva bem sabia que havia apenas Shadow das constelações de Bronze — aliás, qualquer um com um pouco de conhecimento sobre as histórias dos Cavaleiros Negros sabia disso.

 

Mas era do conhecimento dela também, que desde que havia os deixado, muitas coisas passaram a destoar.

 

Atualmente, quem dava as ordens na Ilha da Rainha da Morte e controlava os Cavaleiros Negros era uma velha bruxa.

 

O Cavaleiro renegado, Okame de Fênix, que até então governava a ilha em nome do Santuário, havia desaparecido de forma inexplicável e muitos acreditavam que ele, na verdade, fora assassinado.

 

A anciã parecia esconder um vasto poder e surgira na ilha de forma misteriosa e repentina.

 

Em sua companhia, trazia um adolescente que pertencia à raça dos Lemurianos.

 

Este era Warlock!

 

Comandava ele, os Cavaleiros Negros segundo, os desmandos da tal bruxa.

 

Na verdade estava fazendo mais do que isso.

 

Rachel ouvira rumores que nas entranhas do vulcão da Ilha da Rainha da Morte, Warlock estava forjando novas vestimentas negras.

 

Essas armaduras eram incrivelmente mais poderosas que as antigas deixadas por aqueles que no passado, as criaram como ‘sombras’ das originais.

 

Até então nunca levara esses rumores a sério, mas agora ali diante de si, estavam duas das obras de Warlock.

 

Quando ela e Sendhil finalmente vestiram os trajes, ficaram nitidamente impressionados com seu poder.

 

Eram agora: Triângulo Negro e o Grande Cão Negro!

 

Horas mais tarde já estavam sobrevoando um ponto afastado da cidade de Atenas que ficava entre uma cadeia de montanhas e o mar Egeu.

 

Em um determinado local dessas paragens se localizava o sagrado Santuário de Athena.

 

Rachel pilotava com grande habilidade e perícia; sobrevoavam baixos, contornando desfiladeiros e abismos.

 

O helicóptero teve dificuldades de encontrar um ponto favorável para pousar, sem mencionar os transtornos causados pela mal tempo.

 

Por causa da chuva e dos fortes ventos, quase adiara a missão.

 

Uma vez no solo, deixaram a aeronave e conseguiram atingir a pé, o ponto indicado por Warlock.

 

Só precisavam agora passar por aquele posto de vigilância.

 

 

 

 

 

Torre de Vigia.

 

 

 

Dois Soldados de Athena conversavam descontraídos.

 

Um deles, o mais velho, com uma farta barba grisalha, que se conectava com uma porção de cabelos que circundava o crânio já parcialmente calvo, havia se servido de uma fumegante e generosa xícara de café.

 

Instantes atrás estavam discutindo sobre o tempo ruim.

 

A luz pálida dos archotes nas paredes os iluminava.

 

Trajavam, sobre seus corpos, vestimentas de guerra; tal qual era uma combinação de roupas pesadas de couro com partes de armadura composta feitas de ferro.

 

Usavam ainda pesados elmos metálicos sobre suas cabeças.

 

Por estarem fazendo a vigilância, tinham permissão para portarem lanças e espadas.

 

Outros como eles, igualmente armados, se encontravam a alguns metros da torre, espalhados pelo perímetro.

 

Levavam archotes nas mãos e estavam atentos a qualquer presença.

 

Cada um cobria uma área específica do descampado e mantinham regularmente comunicação um com o outro através de mensagens mentais enviadas por seus Cosmos.

 

As fronteiras do Santuário eram fortemente guardadas.

 

Ninguém sem autorização podia adentrar!

 

 

 

 

 

Descampado cercado por rochas.

 

 

 

 

Sendhil cerrou os olhos e um sorriso involuntário tomou seu rosto.

 

Até agora tinha contado seis alvos perambulando pelo mato.

 

Rachel estava certa.

 

Era serviço da pesada.

 

Afinal estavam invadindo o Santuário de Athena, o lugar mais inacessível e protegido do mundo.

 

Perdera as contas de quantas vezes havia dito à parceira que aquilo era loucura, puro suicídio.

 

Mas a ruiva apenas havia o ignorado.

 

Só perguntou se ele tava dentro ou não?!

 

Porra! Claro que tava dentro!

 

Por causa da armadura negra que trajava, se sentia mais forte e confiante do que de costume.

 

Sem mencionar que a grana era boa, o desafio também, ele teria um bom motivo para ficar mais perto de Rachel.

 

A Amazona de Triângulo Negro continuava abaixada.

 

Esperava com uma calma desconcertante o melhor momento para agirem.

 

Sabia que aqueles ali não eram como os outros que estava acostumada a abater.

 

Aqueles eram soldados do Santuário de Athena.

 

Indivíduos perigosos, forjados em um tipo de treinamento desumano, dotados de um poder cósmico desenvolvido, capazes de despedaçar com as mãos nuas uma parede de concreto e se moverem mais rápido que o olho humano podia acompanhar.

 

Ainda em Londres, fora categórica, ao deixar claro o plano de ação ao parceiro:

 

Era invadir, libertar Kanon, levá-lo consigo em segurança e deixar o Santuário.

 

Tudo realizado no menor espaço de tempo possível.

 

Confrontos deveriam ser evitados.

 

E possíveis obstáculos tinham que ser removidos com precisão e rapidez.

 

Em nenhum momento deveriam se deixar ser percebidos.

 

O objetivo era ser invisível e letal.

 

Não era para pensar.

 

Era invadir, libertar e sair!

 

Todos eram inimigos.

 

Alvos.

 

Não havia espaço para hesitação ou misericórdia.

 

Olhar e pensamento sempre em frente.

 

Só não deviam se empolgar demais quando tivessem que entrar em ação.

 

Caso, matar fosse exigido deles, fariam isso rápido e eficientemente.

 

Sendhil não devia se preocupar com ela.

 

Ela se preocuparia com ele!

 

Warlock tinha sido específico que entraria em contato após o sucesso da missão, portanto não precisavam se preocupar.

 

O Grande Cão Negro abaixou-se um pouco mais, nivelando-se a grama alta que havia deitado com uma rajada de vento frio que soprara da chuva.

 

Os sentidos estavam fixos nos soldados.

 

A língua seca zanzando na boca e por entre seus caninos, que por causa de seu poder, haviam levemente se projetados como presas afiadas.

 

Vontade de trucidar logo aqueles infelizes.

 

Sabia que a parceira tam­bém espreitava pronta para o ataque.

 

Da SONDA TELEPÁTICA de Rachel esca­pava uma mensagem mental para ele:

 

"Calma! Calma! Aguarde que está chegando nossa hora".

 

Sorrira o rapaz.

 

Continuaria aguardando o comando da ruiva.

 

Por hora era saborear aquela sensação de estar de tocaia.

 

Estavam escondidos, no escuro, protegidos pelas sombras, e imperceptíveis pelo motivo de manterem seus Cosmos baixos a um nível praticamente nulo.

 

Mesmo suas mentes, por causa do poder telepático da técnica ARMADURA MENTAL de Rachel, estavam fechadas.

 

E aquele bando de infelizes encontravam-se cegos e abstraídos em seus mundinhos de abelhinhas ocupadas.

 

Sequer notavam que passavam agora pelo resquício do rolo da linha que empinava suas vidas medíocres, como pipas ao vento.

 

Em mais alguns instantes, Rachel daria a ordem e seria o fim da linha para eles.

 

Eram suas horas derradeiras e nem sabiam disso!

 

Sendhil ficou imóvel como pedra e sorridente como o diabo.

 

Mais alguns minutos se arrastaram.

 

Veio então a ordem pelo qual esperava tanto:

 

Agora! — disse mentalmente Rachel.

 

 

(1): Sob alguns aspectos, o ’Garan’ apresentado aqui nas Crônicas de Athena, seria o mesmo da franquia do Episódio G de Megumu Okada.

 

(2): Naquilo proposto pelo universo das Crônicas de Athena, as Shadow são o nome, pelo qual, se apresentam a primeira geração de armaduras negras, sendo essas, derivadas somente das constelações dos Cavaleiros de Bronze.

Editado por Leandro Maciel Bacelar
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  • 3 semanas depois...

LEMBRE A HISTÓRIA

 

Epílogo (Primeira Parte): Passasse algum tempo desde que Saga fora ordenado Cavaleiro de Ouro. Em Londres na Inglaterra, dois mercenários, Rachel e Sendhil, são contratados por um Lemuriano desconhecido de alcunha Warlock para que libertem Kanon de sua prisão no Sunion.

 

 

 

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — segunda parte

 

Um par de olhos amarelados chamejou repentinamente no negrume da noite.

 

Sendhil levantou-se mansamente, quase que de forma dramática, do meio do mato alto; a musculatura rígida de ambas as pernas e braços descontraíram-se, liberando toda a tensão que os tomavam.

 

Seus lábios, entreabertos num sorriso enviesado que estava a exibir um dos caninos proeminentes e afiados, sussurraram então, uma vez mais, o nome de sua técnica que simbolizava toda força que detinha:

 

FERA HUMANA!

 

Naquele momento, libertava toda a faculdade contida daquele poder, que até então, só servira-se, parcialmente.

 

Uma terrível habilidade que trazia a tona o lado mais primitivo do ser humano, o tornado praticamente um animal selvagem de corpo e alma.

 

Tal poder, ao longo dos séculos, havia inspirado na sociedade terrena mitos e lendas sobre vampiros e lobisomens.

 

No passado, fora originalmente criada pelo Cavaleiro de Bronze de Lobo, mas à medida que o tempo foi avançando, se difundiu, e também acabou por ser agregada ao arsenal de alguns outros Cavaleiros de Athena, entre os quais, destacaram-se os das constelações de Cães de Caça, Cão Maior e Cão Menor.

 

Athena jamais nutrira qualquer tipo de simpatia pela FERA HUMANA, por isso, com o passar dos anos, foi limitando o seu uso e desencorajando a sua difusão.

 

A Deusa achava hedionda a forma como este poder podia transformar seres humanos em bestas selvagens!

 

Por essa razão, nos dias de hoje, a FERA HUMANA só pode ser usada com seu consentimento ou do Grande Mestre.

 

O Santuário caça impiedosamente os seus que a usam sem autorização ou outros fora de sua esfera que a desenvolve, e com ela promove matanças, ou algo do gênero.

 

Sendhil havia conseguido essa habilidade por intermédio dos conhecimentos de Rachel que a considerava bastante apropriada para ele.

 

A parceira conhecia seus mecanismos!

 

Nos poucos anos que estivera no Santuário, havia ela, se dedicado, entre tantas coisas, ao conhecimento das histórias dos Cavaleiros.

 

E isso, claro, incluía conhecer a essência de suas faculdades sobre-humanas expressas em técnicas como a FERA HUMANA.

 

Como toda acadêmica, Rachel entendia muito bem a teoria por de trás desses poderes, no entanto estava claro para o rapaz, que faltava a moça, predicados para usá-las.

 

Tanto isso se confirmava que durante os treinamentos que tiveram na Ilha da rainha da Morte, a parceira nunca a executara.

 

Apenas lhe passava os ‘como’ e ‘porquês’ de sua utilização.

 

Com certo custo e demanda de tempo, Sendhil conseguira despertar a FERA HUMANA e passara depois, a desenvolvê-la por conta própria.

 

Agora, como era de costume, quando usava este poder em sua totalidade, sentiu a principio, o estômago arder.

 

A nível molecular era possível contemplar uma onda de Cosmo espalhando-se a uma velocidade vertiginosa por toda a extensão de seu corpo; alterava esta, em seu caminho, provisoriamente cadeias inteiras de DNA, gerando terríveis e grotescas mutações.

 

O Cavaleiro Negro de Cão Maior franziu o cenho com dor.

 

Uma agonia latejante, que o obrigava a arquear o tórax para frente.

 

Dobrou os joelhos.

 

Transpirava.

 

A pele queimava como se estivesse em chamas, e mesmo a água fria da chuva que o lavava, não era suficiente para aplacar o ardume.

 

Jogou fora o sobretudo.

 

O azeviche sem brilho do robe metálico que envergava, era a única coisa por debaixo da veste que acabara de dispensar.

 

Os músculos, já proeminentes, dilatavam, saltando horrivelmente por entre os espaços onde a armadura não os confinava.

 

Era como se algo no interior do rapaz os estivesse impelindo e os forçando a desprender.

 

Veias se projetavam, como serpentes vivas, bombeando cada vez mais célere, o sangue por todo o corpo.

 

Os ossos pareciam se encher de espinhos que feriam todo o tecido celular.

 

As pernas transmitiam espasmos de dor como se estivessem fraturadas.

 

Trincou os dentes, Sendhil, para suportar a imensa agonia que o afligia.

 

Sentiu o estômago em todo seu ardume contrair e provocar violentas náuseas.

 

As mandíbulas pressionadas rangeram; os dentes aumentavam assustadoramente de tamanho e afiavam-se, exibindo-se para fora, sendo impraticável, no momento, mantê-los em oculto.

 

Braços tinham alongados até quase tocarem o solo.

 

Olhou para os dedos da mão, enquanto os membros superiores iam se ajustando a nova envergadura, e viu estes se alongando; as unhas ganhavam aspecto de verdadeiras garras.

 

O peito aumentara consideravelmente de volume.

 

Estalos metálicos atestavam que as juntas da placa peitoral de sua vestimenta negra ajustavam-se a nova compleição física de seu portador.

 

Respirava pesadamente e com dificuldade.

 

A dor cresceu, e Sendhil se dobrou, flexionando ainda mais os joelhos, apoiando as mãos no solo enlameado, ficando agora de quatro, como se fosse um imenso animal quadrúpede.

 

Pêlos espessos rompiam de suas costas, assim como de seus braços, pernas e laterais da face.

 

Soltou um gemido abafado.

 

O corpo estava trêmulo e embebido de suor que era constantemente lavado pela chuva.

 

Súbito, a dor que era tão intensa e insuportável se amenizou.

 

As funções biológicas começavam a estabilizar, adaptando-se agora as condições do novo corpo.

 

A respiração foi aos poucos voltando ao seu ritmo normal e os tremores cessando.

 

Estava acabado...

 

O segundo estágio da FERA HUMANA completara-se!

 

Sendhil consertou a postura, ficando apoiado, somente pelas pernas.

 

Os joelhos estavam levemente flexionados e o peito arqueado.

 

Parecia-se com um monstro humanóide com quase dois metros de altura.

 

Sua visão apavorante teria feito o sangue do mais corajoso humano congelar nas veias, tomado do mais puro terror.

 

E caso, esse, conseguisse manter-se firme diante de tal horror, cairia vítima das constantes emanações telepáticas do Grande Cão Negro, que de forma quase instintiva, bombardeava toda criatura senciente ao seu redor, com o terror de ser devorado vivo.

 

Tal poder era macabramente conhecido pela alcunha de OLHOS FAMINTOS e poucos, bem poucos, eram os bravos que conseguiam se manter determinados diante deles.

 

A dor havia agora deixado Sendhil completamente, e parte de sua mente racional fora arremessada para um canto obscuro do cérebro.

 

Isso justificava o imenso prazer que tomava conta de seus pensamentos.

 

A sensação de liberdade e poder eram inebriantes.

 

Queria experimentar toda essa força, que corria sem controle, por cada célula de seu corpo, agora transformado.

 

Sentia-se impelido a matar.

 

Desejoso por ver o pavor estampado na face de suas vítimas.

 

Ergueu as narinas como se estas fossem um focinho, inspirando repetidas vezes o ar úmido e frio da noite.

 

Farejava Rachel e os Soldados de Athena!

 

Olhou na direção de cada um deles se detendo na figura de um soldado que, naquele instante, estava absorto em sua ronda periódica, nem imaginando que a morte o espreitava.

 

Com todo seu poder desperto agora, o Grande Cão Negro podia enxergar nitidamente todo o mundo a sua volta como se este tivesse sido, repentinamente, iluminado por uma luz sobrenatural de cor amarela.

 

A escuridão não mais o limitava.

 

E não era somente sua visão.

 

Todos seus demais sentidos haviam sido ampliados de tal forma, que podia distinguir aromas, sons e sabores de praticamente tudo que estava ao seu redor numa distância de mais de dois quilômetros.

 

Escancarou a boca, que de uma forma inumana se dilatou, exibindo maliciosamente os longos dentes afiados ainda acomodados parcialmente nas gengivas.

 

Saliva escorria.

 

Afas­tou-se da coluna, caminhando de quatro, com movimentos fluídos e elegantes.

 

Tratava-se de um perigoso predador caçando.

 

A mais ou menos quinze metros de onde estava se encontrava o incauto soldado que ele tinha como sua primeira presa.

 

Começaria por aquele infeliz!

 

O monstro humanóide arrancou, desprendendo grama e lama do chão.

 

Corria como um animal quadrúpede.

 

A cada grande passada, suas mãos tocando o solo, enquanto suas pernas, num impulso, arremetiam o imenso corpo, numa espécie de meio salto.

 

Cada vez que fazia isso, ganhava velocidade e massa.

 

Rachel, a Amazona Negra de Triângulo, tinha a mente fixa em seus alvos:

 

Os dois soldados na torre!

 

Usava de seus poderes mentais para colocá-los sobe sua mira.

 

Guiando pelos pensamentos que deles escapavam e eram captados por sua SONDA TELEPÁTICA.

 

Tinha o belo rosto deitado no metal frio e escuro do rifle que empunhava.

 

Pousou delicadamente o dedo no gatilho.

 

Prendeu a respiração.

 

Apertou o mecanismo uma única vez.

 

A visão da cena a deixou para se focar no projétil, que em câmera lenta, saiu veloz pelo longo cano da arma com silenciador.

 

Liberava em seu caminho, pequenas vibrações, que semelhante a uma pedra atirada na superfície calma de um lago, fazia o espaço, por onde percorria, ondular.

 

Graças ao dispositivo na extremidade da arma, não houvera explosão ou qualquer ruído quando a bala fora impelida.

 

Atingiu, esta, o Soldado de Athena bem no meio da testa, arrancando seu elmo, literalmente explodindo o topo de sua cabeça.

 

O outro na torre, viu horrorizado, o companheiro do seu lado tombar e o sujar com seu sangue e miolos; este ainda trazia consigo a xícara de café na mão.

 

Não houve tempo para qualquer reação contundente, pois desabara morto em seguida, atingido na nuca por um segundo projétil.

 

No solo, quase que ao mesmo tempo, Sendhil golpeava, com seu imenso corpo, um dos soldados que fazia a ronda.

 

Havia o monstro saltado; sua figura, em muito, aparentando-se com a de um grande felino em ação, voando com os braços estendidos e as imensas garras em riste, prontas para apanhar a presa.

 

Esta, pega de surpresa, não oferecera qualquer resistência.

 

Nem mesmo havia se virado ou emitido algum som.

 

O Soldado de Athena apenas sentira algo muito forte e pesado chocando-se, de forma violenta e abrupta, contra seu corpo, que voara para trás, arrancado do chão pelo impacto, que era o mesmo de uma locomotiva desgovernada.

 

A lança e o archote, que carregavam consigo, escaparam de suas mãos, perdendo-se na noite.

 

No momento que fora atropelado, sua coluna não resistira, deslocando-se e partindo no meio.

 

De repente, a cena voltara para o momento da colisão e se congelara.

 

Uma perspectiva de visão, semelhante ao de um raio xis, atravessara todas as estruturas materiais, até permitir que a coluna fraturada do soldado fosse vista no momento exato do choque com o corpo de Sendhil.

 

Tudo agora acontecia numa velocidade de tempo desacelerada.

 

Uma onda violenta de impacto atingia a estrutura óssea, forçando-a se deslocar para trás por entre tecido e órgãos.

 

Em seguida, as vértebras foram destroçadas, dividindo-se em partes indistintas.

 

A cena então volta para sua perspectiva habitual e o tempo retorna para o seu curso inexorável.

 

O Grande Cão Negro e o Soldado de Athena; ambos suspensos no ar iam de encontro ao solo.

 

No momento da queda, o pobre rapaz já estava, irremediavelmente, morto.

 

Após a colisão, o Cavaleiro Negro de Cão Maior largara o corpo desfalecido de sua vítima e se servira de um impulso, para saltar numa direção oposta.

 

Um a menos! — Pensou.

 

No ar, seu imenso corpo girou, executando uma acrobacia, vindo em seguida, a tocar o chão com os quatro membros tal qual fosse um felino.

 

Espanou, como que em exibição, a água em excesso da chuva em sua cabeleireira loira.

 

Não muito distante do local do ataque, e há poucos instantes atrás, outro Soldado de Athena, neste caso, uma Amazona, que também fazia a vigilância no solo, estava detida propositalmente nas ruínas de uma construção que a resguardava do mal tempo da noite.

 

Tragava com imenso prazer um cigarro.

 

Perante seus pares sabia que não podia relaxar, mas agora que estava só se permitia aquele breve momento de descontração.

 

No entanto, algo a fizera emergir daquele estado de relaxamento.

 

Um estrondo!

 

Tragou fortemente, e apressadamente o cigarro; depois, com um movimento dos dedos que o segurava, o deixou cair no piso arruinado da construção, pisando com a ponta de sua bota até a extinção da chama.

 

Pegara então a tiara que compunha sua indumentária, ajustando-a em seu crânio, e em seguida colocara, sobre a face, sua habitual Máscara de Silêncio.

 

Seu corpo, outrora relaxado, estava agora tenso e a Soldado de Athena se dirigiu com passos firmes, e decididos, ao local onde havia ouvido o barulho.

 

Pensou em relatar, através de seu Cosmo, o ocorrido aos companheiros de vigília, mas decidiu esperar mais um pouco.

 

Iria antes investigar.

 

Yun era a mais nova e inexperiente dentre seus pares que, com ela, ali estavam, e a jovem não queria incomodá-los com alardes sem importância.

 

Seu arco estava em punho.

 

O archote na outra mão, revestida essa, com uma luva de Oricalco, era usado para iluminar a frente e os flancos e seria deixado de lado, caso a Amazona precisasse combater, sacando algumas flechas do alforje que levava as costas.

 

O descampado estava escuro e Yun, mesmo usando de iluminação, pouco conseguia enxergar.

 

A chuva que caia sem dar trégua, além de também contribuir para a péssima visualização do descampado, estava suprimindo a chama do pedaço de madeira, que mesmo alimentado por uma substância altamente inflamável, ameaçava extinguir a qualquer momento.

 

Diante de tantos contratempos, a jovem também estava tentando se guiar pelo Cosmo.

 

Atenta a qualquer presença desconhecida.

 

Caminhou por cerca de alguns minutos, quando notou, já mais calma, não muito distante, uma estranha silhueta vindo velozmente na sua direção.

 

A princípio estacou.

 

Para poder enxergar melhor, levou a luz do archote na direção da coisa.

 

Primeiro pensou em se tratar de um cão, mas viu, enquanto se aproximava, que era grande demais para ser um cachorro.

 

Talvez tratasse de um cavalo?!

 

Foi então que a Soldado de Athena notou o par de olhos da criatura brilhando como dois sóis amarelos.

 

O coração falhou uma batida.

 

Sendhil corria em direção ao alvo!

 

Como sabia que sua presença já havia sido percebida, ele controlou a velocidade, reduzindo-a.

 

Com a suposta vítima em prontidão, seria arriscado tentar novamente um ataque em carga, pois se errasse estaria vulnerável por alguns instantes e sujeito a um contra-ataque que poderia ser prejudicial.

 

Com os olhos refulgindo, o monstro humanóide de mais de dois metros de altura, músculos avantajados, longos braços, pelagem em algumas partes do corpo, garras e mandíbula afiada, deixava um espectro amarelado e assombrado por onde passava.

 

Um monstro?! — Pensou, em pânico, Yun.

 

Sentia a Amazona, agora, o coração bater forte e descompassado.

 

Suor começava a escorrer de todo seu corpo baixo e delgado.

 

Prendeu a respiração, se sentindo tonta ao ponto de quase desmaiar.

 

Tentou gritar, mas a voz lhe faltava.

 

Um medo primitivo e gutural tomava conta de sua mente enquanto, graças aos OLHOS FAMINTOS da FERA HUMANA de Sendhil, mergulhava numa série interminável de pesadelos onde era devorada, ainda viva, por aquele monstro.

 

Yun não controlava as pernas, e as mãos trêmulas e suadas, deixaram o arco e a tocha que empunhava, cair.

 

O Grande Cão Negro vinha galopando em sua direção.

 

O medo estampado em cada trejeito, som e odor daquela soldado, era para ele, tão inebriante quanto o prazer sádico que sentia ao matar.

 

Num salto, cruzara o ar, caindo em cima da Amazona indefesa, que até ensaiara em vão, uma ultima tentativa de fuga desesperada.

 

O peso do corpo esmagou-a contra o solo enlameado, comprimindo-a, ao mesmo tempo em que as imensas garras dilaceravam-na, como punhais.

 

A dor suplantou o medo, e Yun enfim, conseguiu gritar tomada por um horror indescritível.

 

Debatia-se.

 

As mãos tateavam freneticamente o corpanzil da criatura, numa tentativa insana de libertar-se.

 

Irritado com aquilo, o Cavaleiro Negro de Cão Maior avançou a cabeça até um dos braços da pobre Amazona.

 

As mandíbulas dilataram, e ele abocanhou quase todo o membro.

 

Triturou-o, arrancando-o fora numa única mordida.

 

O sangue jorrou brilhante e farto.

 

Com duas mastigadas, a fera acabou de triturá-lo e então o engoliu.

 

Lambeu o sangue quente e salgado que vertia de seus lábios até o queixo.

 

A soldado gemia alto, desejando que a morte a levasse o quanto antes.

 

Totalmente inebriado pelo morticínio, Sendhil levou, uma vez mais, sua imensa bocarra escancarada de encontro a Yun que ainda se debatia; levantou-a pelo ventre, trazendo vísceras e sangue para fora.

 

De repente, a criatura sentiu a tempo, com cada poro de sua pele, o ar a sua volta se agitar; um vulto acabara de saltar das sombras; planejava o golpear pelo seu ponto cego, aproximando dele em direção contrária ao vento.

 

Astuto! — Constatara, mentalmente para si, o Grande Cão Negro.

 

Não fosse sua agilidade sobrenatural, Sendhil teria sido fatidicamente atingido.

 

Interrompera sua refeição, largando Yun no solo, flexionando, Sendhil, ainda mais os joelhos, dando um salto para trás, evitando o golpe certeiro da lâmina.

 

Outro Soldado de Athena havia acabado de pousar bem na sua frente!

 

A espada que empunhava, descrevera um arco reluzente à medida que ele caia, cortando o ar, mas vindo a atingir somente o chão próximo da outra soldado que Sendhil estava outrora devorando.

 

Em meio ao salto e o pouso, o Cavaleiro Negro de Cão Maior aproveitara de sua manobra evasiva para contra-atacar.

 

Com as garras em riste, girou ao mesmo tempo em que tentava rasgar a garganta do soldado, que com um movimento habilidoso e sobre-humano, fez sua lâmina dançar, aparando com eficiência o golpe aéreo que o teria matado.

 

O embate de garras e espada fez liberar uma pequena explosão de faíscas que iluminaram, por um breve instante, a escuridão da noite.

 

— Intruso!

 

Vociferara o soldado, em meio a um grunhido.

 

Aparentemente a visão monstruosa de Sendhil, e o poder telepático de seus OLHOS FAMINTOS, não o afetavam como deveriam.

 

Sua expressão denotava uma coragem exacerbada.

 

Seu olhar, por um breve momento, foi de encontro à figura mutilada de sua companheira caída no solo, que estava em choque, agonizando em meio a uma poça de seu próprio sangue e entranhas.

 

Sem alterar a expressão, enterrou em seu peito a espada que empunhava como ato de misericórdia, colocando assim, um fim ao terrível sofrimento da Amazona.

 

Yun, assim como Serov, que havia sido encontrado anteriormente com a coluna despedaçada, seriam vingados. — Pensou, ele.

 

Aquela maldita criatura, que só podia ter vinda dos infernos, iria pagar, com a vida, por violar o solo sagrado do Santuário de Athena e por desencadear a morte de seus companheiros! — Fez Petrus, a si mesmo, essa promessa.

Editado por Leandro Maciel Bacelar
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  • 2 semanas depois...

LEMBRE A HISTÓRIA

 

Epílogo (Primeira Parte): Passasse algum tempo desde que Saga fora ordenado Cavaleiro de Ouro. Em Londres na Inglaterra, dois mercenários, Rachel e Sendhil, são contratados por um Lemuriano desconhecido de alcunha Warlock para que libertem Kanon de sua prisão no Sunion.

 

Epílogo (Segunda Parte): Depois de invadirem o Santuário sem serem vistos, a dupla Rachel e Sendhil, munidos com as armaduras negras de Triângulo e Cão Maior respectivamente, se veem frente a frente com os Soldados de Athena. Rachel abate, a tiros, facilmente dois deles. Sendhil, de posse de sua técnica FERA HUMANA, também não encontra dificuldades para remover do seu caminho os soldados Serov e Yun. No entanto, Petrus, outro Soldado de Athena, intercepta-o e um combate entre eles tem seu prenúncio.

 

 

 

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — terceira parte

 

Sendhil rodeava o Soldado de Athena.

 

A ’fera humana’ mantinha-se a uma distância, supostamente, segura de sua presa.

 

Sondava-o, de cima embaixo, rosnando nervosamente.

 

Seus olhos estavam semicerrados como duas pequeninas frestas; deles escapavam uma luz sobrenatural amarela.

 

Sacudiu então, o monstro, para os lados a cabeça, com o intuito de espanar um pouco do acúmulo de água da chuva que faziam os fios de sua cabeleireira castanha, grudar na nuca e no rosto.

 

O movimento cadenciado dos seus quatro poderosos membros, de encontro ao solo enlameado, se faziam elegantes durante o seu 'caminhar'.

 

Somados ao inflar proposital do tórax, que projetava ainda mais as costas arqueadas, com os pêlos desta eriçados, parecia-se com um grande felino, pronto para dar o bote.

 

A presa, aparentemente, não demonstrava pavor diante de sua exibição intimidadora.

 

Sequer dava o menor vestígio de receio ante sua figura bestial.

 

“Intrigante!” — Pensara, Sendhil.

 

Mesmo as constantes descargas telepáticas dos seus OLHOS FAMINTOS, que induziam ao terror as vítimas, através do temor de ser devorado vivo, parecia não estar sendo eficaz.

 

Com exceção de Rachel, e mesmo a parceira demonstrava certo desconforto, jamais vira alguém permanecer inabalável quando assumira, ele, aquela forma e usava de seu artifício psíquico.

 

“Quem aquele soldadinho pensava que era?!”

 

O rosnado da criatura reverberou mais alto, fazendo com que, apavorados, muitos dos animais do descampado, entre os quais aves e roedores, debandassem.

 

Devido à negritude da noite, apenas seus ruídos apressados podiam ser percebidos.

 

Mesclavam-se esses ao som cadenciado e monótono da chuva que continuava a cair sem trégua.

 

Ao largo, entre as montanhas, na estreita passagem que ligava o Santuário a Rodório, um vira-lata começara a uivar.

 

O 'rosnar' aterrorizante que escapava de Sendhil denotava o tamanho de seu desagrado e impaciência; com as mandíbulas amostras, ameaçou uma 'mordida', movendo o pescoço para frente e projetando, semelhante a um tubarão, os afiados e longos dentes através das gengivas, como se fosse realizar uma abocanhada traiçoeira.

 

“Nada!”

 

O Soldado de Athena, detido no mesmo ponto, apenas apertara um pouco mais a empunhadura da espada que portava e mantinha ameaçadora, em riste.

 

Tanto sua respiração, como batimentos cardíacos, mostravam-se impassíveis.

 

Não havia suor e nem mesmo a mais leve alteração na sua temperatura corporal.

 

Aquilo era para o Cavaleiro Negro de Cão Maior desconcertante e ao mesmo tempo o enfurecia.

 

Enquanto se decidia pelo que fazer, viu seu alvo virar para aquilo que havia as suas costas e tirar a vida da própria companheira agonizante no chão, do qual, ele, Sendhil, há instantes atrás, alimentava-se.

 

A lâmina embebida em sangue deixou o corpo, agora imóvel e quieto, de Yun.

 

Esboçou a fera, aquilo que deveria ser um sorriso de desdém, ante toda aquela encenação.

 

O quão ridícula e desnecessária, a julgava ser.

 

Na vida, e principalmente com Rachel, aprendera a não ter compaixão.

 

Logo este pensamento o abandonou, e sua expressão ficou carrancuda.

 

Viu que acabara de deixar escapar uma oportunidade excelente:

 

Poderia ter trucidado covardemente aquele infeliz enquanto este, estupidamente, comovia-se com o sofrimento da outra.

 

Praguejou mentalmente.

 

Petrus, depois do seu ato misericordioso para com Yun, encarava a besta que o circulava sem qualquer traço de temor em suas agradáveis feições.

 

Devido, no passado, aos seus árduos treinamentos para se sagrar Soldado de Athena, em uma das muitas pequeninas ilhas da Grécia, que serviam ao Santuário como postos avançados, aprendera, satisfatoriamente, a abstrair qualquer coisa que pudesse vir atrapalhá-lo durante o exercício de sua função.

 

O medo era uma delas!

 

E agora ali diante da visão aterradora daquele monstro e, dos pensamentos horríveis, que insistiam em incomodá-lo, com repetidas, e vívidas, cenas dele sendo devorado por aquela besta, aquilo estava sendo, uma vez mais, colocado a prova e se mostrando o quanto lhe era útil.

 

Mas mesmo com todo aquele preparo, não era fácil se manter resoluto, a falecida Yun, se pudesse, que o diga.

 

Com o medo, por enquanto, sob controle, media Sendhil e repassava mentalmente os próprios passos até ali, para ver se nenhum detalhe estava a lhe escapar:

 

Desde que Serov não entrara mais em contato pelo Cosmo, ele abandonara seu posto e fora ao seu encalço.

 

Sabia que havia algo de muito errado naquilo.

 

O companheiro de vigília não era dado à negligência.

 

Muito pelo contrário.

 

O estarrecimento foi grande ao encontrá-lo morto com a coluna fora do lugar e vértebras destroçadas.

 

Dentre os soldados daquela guarnição, Serov era um dos mais, senão o mais, capaz.

 

Seu poderio, tanto quanto sua conduta, eram alvos de admiração.

 

Seja quem fosse que o abatera deveria tratar-se de um oponente fortíssimo.

 

Depois de avisar cosmicamente os demais sobre o lamentável ocorrido, passara a examinar friamente os indícios em relação ao assassinato do companheiro, conseguindo algumas pistas de como tudo se sucedera e do suposto intruso que havia matado Serov.

 

Petrus não sabia, mas Sendhil se servira deste mesmo meio tempo, para atacar Yun.

 

Aliás, se não fosse pelo grito pavoroso da Amazona, ele jamais teria chegado até ali, e se deparado com aquela besta.

 

Lamentou não ter podido chegar antes e tê-la salvo.

 

Apesar de saber da improbabilidade daquele pensamento.

 

Lastimava também que sua investida furtiva de outrora, não houvesse dado cabo do monstro.

 

Era como havia previsto devido aos indícios de sua rápida, mas fortuita, investigação:

 

“O intruso tinha meios para ver sem ser visto!”

 

“Era como a um fantasma.”

 

“Algum tipo de ser abissal que se valia das sombras para se esconder e matar.”

 

Contudo, os atos hediondos da criatura o denunciaram e agora que Petrus cravara seus olhos nela, e sua capa de ocultabilidade se desfizera, estava acabada.

 

E mesmo se houvesse escondidas outras como ela naquele descampado, os companheiros, agora já avisados sobre ‘o’ que estavam enfrentando, acabariam com elas.

 

Isso sem precisar incomodar o mestre Algol, um dos valorosos Capitães da Guarda, e sob suas ordens, nenhum dos cinco Tenentes Cavaleiros de Bronze.

 

Todos esses, assim como o próprio Petrus, responsáveis, pela manutenção da guarda daquele perímetro leste do Santuário.

 

Mesmo sabendo do risco que corria e que sua força, talvez, não fosse suficiente para um duelo com um adversário daquele porte, permanecia determinado.

 

A morte em batalha não o assustava...

 

Como parte da máquina bélica de Athena era esse, seu destino!

 

Alguns viriam àquilo como fardo, ele, por outro lado, enxergava como bênção.

 

E o quão glorioso parecia ser tudo aquilo para Petrus.

 

Não a morte em si, mas o significado por de trás dessa.

 

Ele era um Soldado de Athena, e como todo bom soldado, tudo que almejava era despedir-se com honra dessa existência a serviço da Deusa a quem tanto venerava.

 

Quantos no mundo lá fora, com sua mesma idade, não tinham aquela ‘bênção’ e levavam uma vida insípida?!

 

Dedicados às coisas vazias, que no final, só levavam ao sofrimento.

 

Viviam e morriam sem ao menos saber o verdadeiro ‘por que’.

 

Perdidos para sempre nas ‘areias do tempo’ sem ter quem se recordasse deles.

 

Já, com Petrus, seria diferente!

 

Tanto sua vida, como morte, seriam para sempre lembrados nas ‘CRÔNICAS DE ATHENA’, servindo como inspiração e júbilo, para outros.

 

Trafegando por esses pensamentos, e quase se perdendo no meio deles, o rapaz, por um átimo, consegue escapar da investida de Sendhil que teria dado cabo dele:

 

“Instintivamente, o corpo de todo Soldado de Athena é forjado, em meio à dor e desespero, para saber do imprescindível:”

 

“Que, pelo fato de não envergarem uma vestimenta sagrada, deveriam se proteger, a sua maneira, o tempo todo!”

 

Devido a esse dogma, e aos seus reflexos, mais que apurados, Petrus pôde desviar de uma sequência rápida de mordidas, movendo-se graciosamente para trás e lados.

 

Ainda deslocando-se por puro instinto, engendrou em meio às esquivas, um revide:

 

Com uma das mãos, retirou habilmente do cinto, a peça que usava para acomodar sua espada quando essa, não estava em uso; de posse disso, colocou-a no caminho das mordidas da criatura para que essa, propositalmente viesse a abocanhá-la.

 

“Tinha dado certo!”

 

A bainha da espada, tal como uma coluna, ficara entre a mandíbula e o interior do lábio superior do monstro, impedindo que sua bocarra, momentaneamente, se fechasse.

 

Já ciente do que fazia, Petrus completou a ação, movendo agora, num arco lateral, o outro braço, tendo este em punho, sua mortífera espada.

 

A intenção era decapitar o intruso num único golpe!

 

Uma meia lua reluzente riscou o ar e, para o desapontamento do rapaz, foi aparada pela proteção metálica negra, de um dos antebraços, da criatura.

 

Sua frustração logo deu lugar à surpresa!

 

Seja qual fosse à natureza daquele metal, era por demais resistente.

 

Mostrava-se incólume ante um golpe que teria partido ao meio, uma viga de concreto.

 

E não havia apenas suportado o ‘abraço’ de sua lâmina, como também a danificara!

 

Podia se enxergar, na espada, pequenas fissuras e os cacos que se desprendiam, lentos, de sua borda cortante.

 

Aquele aço havia sido forjado no Santuário mediante as técnicas ancestrais dos Lemurianos.

 

Inclusive, o próprio Grande Mestre o havia santificado!

 

Após se proteger da investida do Soldado de Athena, cada vez mais irritado, Sendhil empregou um pouco mais de força aos músculos que permeavam sua imensa boca, conseguindo assim, destroçar a bainha da espada que o impedia de morder.

 

Durante este hiato, viu Petrus largar sua arma, clamando as palavras “FORÇA HEROICA”, assumindo em seguida, uma postura similar a de um halterofilista quando esse estava a concentrar, ou exibir, a força de sua musculatura desenvolvida.

 

No segundo que sobreveio, o corpo, outrora, delgado e rígido do rapaz, inflou, tornando-se uma massa irreconhecível de músculos e veias latejantes.

 

Parecia improvável que pudesse executar qualquer movimento físico, estando naquele estado.

 

Tinha agora, quase, a mesma estatura de Sendhil, algo bem próximo dos dois metros, quando este se mantinha de pé no solo, com o apoio somente das pernas.

 

As vestes de couro, e partes da armadura composta de ferro que compunham sua indumentária, pareciam adequadas para aquele tipo de coisa, no entanto, davam a impressão de estarem no seu limite e que poderiam se romper a qualquer instante.

 

A íris negra dos olhos do rapaz desaparecera.

 

A boca estava aberta, derramando saliva em abundância; dentes trincados para não verbalizar a tamanha dor que o acometia.

 

Sendhil, com a certeza de que não seria prudente permitir a finalização daquele poder em andamento, investira selvagemente contra Petrus, que imóvel e inerte no processo de preparação de sua técnica, acabara sendo um alvo fácil para a avalanche de socos e chutes deflagrados pelo Grande Cão Negro.

 

Mesmo danificando, com seus potentes e ininterruptos golpes, a indumentária daquele soldado, inclusive, fazendo com que um pouco de sangue vertesse das narinas e lábios, Sendhil percebera que a figura do mesmo não havia retrocedido um milímetro sequer.

 

Em verdade, a montanha de músculos que havia se tornado Petrus, parecia resistente demais para que pudesse ser ferido, pelo Cavaleiro Negro de Cão Maior, de uma forma contundente.

 

Com a intenção nítida do Soldado de Athena em golpeá-lo, fazendo uso de um dos punhos, naquilo que parecia ser um ‘gancho’, Sendhil se detera em seus ataques, assumindo uma postura defensiva que dava a entender que pretendia conter o golpe.

 

O movimento de Petrus era lento e sofrível.

 

O Grande Cão Negro firmara-se no solo como a uma rocha, encolhido, braços cruzados a frente do rosto e tórax.

 

“Queria mostrar para aquele soldadinho qual deles era o mais forte!”

 

Com o membro ainda no início do percurso, toda aquela monstruosa capacidade muscular, que fazia a ação ser vagarosa, deixara repentinamente o corpo de Petrus, assumindo a forma de uma fantasmagórica bruma azulada, que se, deslocando no ar por intermédio de veios, estava sendo aspirada para o centro da palma da mão do rapaz.

 

Os dedos, antes fechados, abriram para acolher o acúmulo daquela preciosa energia cinética.

 

Formara-se então uma esfera de tonalidade azul!

 

Ao mesmo tempo, o corpo do Soldado de Athena, uma vez abandonado pelo fluxo de esforço muscular, que o estivera impelindo de dentro para fora, murchou de uma única vez, até fazer com que este, adquirisse suas proporções costumeiras.

 

Inclusive, as íris oculares, haviam retornado.

 

Quando o braço, enfim, completara a ação, agora se deslocando numa velocidade condizente, a esfera trazida consigo, muito próxima do alvo, tinha aspirado a si própria, encolhendo até desaparecer.

 

Sucede a mão espalmada do rapaz tocando, de baixo para cima, a ‘defesa’ armada de Sendhil, dando a impressão de querer empurrá-lo.

 

O que acontece no segundo a seguir é aterrador:

 

Uma pressão violenta, materializada aparentemente do nada, arrebata para o alto, o Cavaleiro Negro de Cão Maior.

 

Junto dele e, em meio ao seu berro angustiante, voam desprendidos do solo, consideráveis partes do mesmo.

 

A ação do Soldado de Athena não havia ainda terminado!

 

Depois da investida tomara novo fôlego, e com os olhos todo o tempo cravados na criatura, correu na direção oposta da mesma.

 

O tempo desacelerou!

 

As gotículas de chuva, de tão vagarosas que despencavam dos céus, pareciam detidas na sua trajetória.

 

O próprio Sendhil, suspenso nos ares com lama e fragmentos do solo a acompanhá-lo, davam essa desconcertante, impressão.

 

Petrus, o responsável por aquilo, parecia o único a se deslocar normalmente naquele ambiente estático.

 

Deixava para trás, a cada movimento seu, uma ruptura que fazia toda realidade ondular.

 

Os super-sentidos do Cavaleiro Negro de Cão Maior conseguiam, mesmo estando comprometidos pela distorção temporal, processar tudo que estava acontecendo a volta. Bombardeavam, com sinapses, o cérebro de Sendhil, despertando-o da agonia do golpe que acabara de receber, e o colocando a par, da nova ameaça.

 

Tomado agora pela urgência, a fera tentava consertar a postura e se virar para acompanhar o que Petrus estava fazendo lá embaixo.

 

Contudo, seu corpo movia muito devagar.

 

Cada ação parecia que iria demorar uma semana para ser concretizada!

 

Aquilo era reflexo do preparo de Sendhil...

 

Nesse caso, mal preparo!

 

Ele não conseguia reproduzir a força e a velocidade sobre-humana provenientes do Cosmo Petrus, por exemplo, estava usando de tal velocidade para se deslocar daquele jeito.

 

Algo básico que os Soldados de Athena controlavam, apesar de serem limitadas às vezes, que podiam reproduzir esses efeitos.

 

Três... cinco vezes no máximo em situação de combate, antes de ficarem completamente extenuados.

 

Sendhil só conseguira aprender com Rachel, em seus treinamentos na Ilha da Rainha da Morte, a administrar seu Cosmo, fazendo-o diminuir até a nulidade, e a empregá-lo para a ativação da FERA HUMANA.

 

O caso era que sem a FERA HUMANA o Cavaleiro Negro de Cão Maior não possuía poderes!

 

Petrus já havia se distanciado e alcançado uma grande coluna semidestruída, que jazia cravada no solo.

 

Não se detivera ao chegar até o monumento de mármore.

 

Continuou correndo, agora sobre ele.

 

Com a percepção do tempo provisoriamente alterada, devido a sua aceleração sobre-humana, pôde ignorar os efeitos da gravidade, correndo na horizontal, sem ter que se preocupar com uma possível queda.

 

Saltou na direção da criatura quando já havia percorrido praticamente toda a extensão da coluna.

 

Com extrema habilidade, aprumou o corpo em pleno ar, colocando as pernas flexionadas, à frente.

 

Enquanto Petrus realizava toda essa combinação de movimentos, o corpo, em câmera lenta de Sendhil, ainda estava dedicado a ação de se ‘ajeitar’ no ar.

 

Repentinamente, a percepção temporal da cena, volta ao seu curso normal.

 

O soldado voava os poucos metros que ainda o separavam do Grande Cão Negro que, por sua vez, permanecia de costas para ele.

 

Como anteriormente, seu corpo, depois dele bradar, a pleno pulmões: “FORÇA HEROICA”, inchou num arroubo súbito, como se esse fosse um balão.

 

Depois, à medida que tentava executar o que seria um pisão que atingiria Sendhil por trás, expurgou para fora tal esforço muscular que assumira os contornos de uma diminuta esfera azulada.

 

Essa por sua vez, gravitava centímetros acima de um dos seus pés.

 

Desapareceu no momento que Petrus pisava as costas do monstro.

 

Uma forte pressão revolveu o ar numa massa etérea densa, quase palpável, e arremessou para baixo, na vertical, rumo ao chão, o corpo de Sendhil.

 

A tiara negra de sua vestimenta metálica soltara-se de sua cabeça, se perdendo na noite.

 

Abatido, o Grande Cão Negro sentira a dureza do solo contra si, no momento que se chocara violentamente contra ele.

 

Mas seu sofrimento não estava acabado.

 

Enquanto, após o golpe, o soldado tocava em segurança o chão, usando o apoio de ambas as mãos e um joelho, para auxiliá-lo na absorção do impacto, Sendhil saiu destruindo tudo após a queda, deixando um rastro imensurável de estragos no seu trágico caminho.

 

Já muito castigado, e depois de ter percorrido uma distância considerável, o Cavaleiro Negro de Cão Maior finalmente se deteve.

 

A dor havia invadido o mundo de Sendhil de tal forma como ele jamais, outrora, havia experimentado.

 

A agonia maior provinha internamente.

 

Ossos e órgãos haviam sofrido concussões gravíssimas.

 

Estaria morto agora se não fosse pela armadura negra que o revestia.

 

Contudo, mesmo incólume na sua aparência, parte do dano, de alguma forma, atravessara sua couraça e o afligira.

 

“FORÇA HEROICA!”

 

A voz da parceira, ao pronunciar aquelas palavras, ecoou em sua mente, trazida por uma memória bastante recente.

 

Era como Rachel havia lhe advertido em Londres, em seu apartamento, antes de se embrenharem naquela missão:

 

“Os Soldados de Athena que, provavelmente se colocariam no caminho deles, eram detentores de duas técnicas que pertenciam exclusivamente a sua classe...”

 

Uma delas, a FORÇA HEROICA, afligia o alvo com uma pressão interna, provinda de um esforço cinético, na forma de uma esfera que era absorvida ao entrar em contato direto com a estrutura física daquilo que estava sendo atingido.”

 

“Os mais capazes que já se serviram deste poder...” — dizia ela, sentada na cama com as pernas cruzadas em ‘lótus’, cercada de todos os lados por papéis e um telefone — “...podiam reproduzir cosmicamente com seus corpos, força sobre-humana suficiente para esmagar um carro, mediante a um ‘abraço’.”

 

“Claro que o inchaço muscular tornava toda ação impossível, por isso, a ‘genialidade’ da técnica consistia em por pra fora toda essa força muscular concentrada, e com ela reunida num ponto e, seu corpo de volta ao seu estado físico normal, usá-la para atacar!

 

“Quanto dessas FORÇA HEROICA estes Soldados de Athena são capazes de reproduzir em uma luta?”tinha perguntado Sendhil, enquanto matava num só gole, uma cerveja, que havia pego, na geladeira do apartamento da parceira, sem muito interesse pela resposta que viria:

 

“Normalmente uma ou duas vezes!” — ela fez uma pausa enquanto catava no meio da papelada um mapa com latitudes e longitudes traçadas. Depois de fazer umas anotações num bloco, emendou: — “O desgaste que a técnica causa, por não permitir a descontração muscular, limita seu uso. Muitos já ficaram aleijados por conta dela e há outros que, pelo seu uso indiscriminado, acabaram mortos.”

Sendhil permanecia caído no chão.

 

Pagava o preço de sua imprudência por não ter levado mais a sério aquelas informações passadas por sua parceira.

 

E também pela sua falta de experiência em batalha contra adversários que, como ele, se servia do Cosmo.

 

Respirava com dificuldade.

 

Dor insuportável no tórax.

 

Era como se alguém, com uma betoneira, estivesse pressionando ritmicamente seu peito.

 

Internamente, seu CURANDEIRO MÍSTICO, outro benefício proveniente da FERA HUMANA, em seus ambos estágios, a nível molecular, fazia o local da avaria irradiar contínuas ondas cósmicas, e a partir delas, a recuperação dos danos se fazia de forma bastante acelerada.

 

Em verdade, o Cosmo de Sendhil analisava a estrutura de seu DNA, em seguida, ou ele forçava a recuperação da área danificada a imbuindo com novo vigor ou materializava-se, gerando uma duplicação fidedigna da matéria orgânica que fora eventualmente perdida.

 

Em se tratando de envenenamentos e doenças, simplesmente avaliava geneticamente o transgressor e originava meios para combatê-lo com eficiência.

 

O processo não era lento, mas estava longe de ser instantâneo.

 

Ainda mais quando a extensão dos danos era tão avançada ou gerada pelo Cosmo.

 

Podia levar alguns bons segundos, minutos, dias e até... meses!

 

Claro que os estágios da FERA HUMANA, nesse caso, dois, também eram determinantes para a celeridade da cura.

 

Outro ponto interessante em relação ao CURANDEIRO MÍSTICO era que esse, também, impedia o envelhecimento natural. Ou seja, o usuário não ficava velho enquanto estivesse com a FERA HUMANA ativa. Graças a isso, e a sua faculdade de cura, a técnica estava ligada a imortalidade.

 

Atraídos por esse conceito, muitos que a utilizavam, tentavam conviver com a FERA HUMANA em funcionamento ininterrupto.

 

Dessa forma, conseguiam viver por dezenas... centenas de anos, como verdadeiros imortais, isso, até suas mentes se perderem na irracionalidade bestial que permeava a FERA HUMANA, tornando-se animais de corpo e alma.

 

O fim desses desgraçados era quase sempre no meio de alguma matança de sua autoria, onde acabavam caçados e mortos pelos Cavaleiros enviados pelo Santuário de Athena!

 

Segundo Rachel, o Cavaleiro de Lobo que teria criado a FERA HUMANA no passado — Sendhil não conseguia lembrar do seu nome — permanecia vivo até os dias de hoje, transitando pelo mundo terreno como sendo um vagabundo qualquer, despojado do seu título de outrora, sendo, inclusive, alvo do Santuário que não aceitara seu desligamento, tendo ele em si, a FERA HUMANA ativa permanentemente sem que ela o tornasse um animal.

 

Para Sendhil aquilo não passava de histórias.

 

Apesar de que no seu intimo ele se regozijava com a possibilidade de viver para sempre!

 

Mas tinha Rachel!

 

A parceira morreria cedo ou tarde.

 

Sem ela que graça teria o mundo?!

 

Tentou se levantar.

 

A visão escureceu por um momento e ele se deixou cair, sem forças, com as costas no chão.

 

“Diabos! Não podia morrer.”

 

Rachel!” — de sua mente partiu o apelo.

 

Precisava da parceira.

 

Sim, seu mundo não era nada sem ela!

 

“Onde estava Rachel?!”

 

Virou-se para tentar se levantar outra vez.

 

Um joelho pôs fim a sua tentativa quando ele já estava quase de pé.

 

Tinha explodido de forma inclemente contra sua face, afundando seu nariz no crânio, atirando-o de volta para o solo.

 

— Não ouse se levantar, intruso...

 

Sibilou ameaçador, Petrus ainda exibindo a pose da joelhada que havia acabado de aplicar.

 

— O reforço já está a caminho...

 

“Logo que eles o colocarem numa mordaça com grilhões, você será encaminhado para uma das celas do Sunion onde apodrecerá pelo resto de sua vida miserável.”

 

Petrus adoraria destruir aquela criatura ao invés de encarcerá-la.

 

Entretanto, seu poder não se mostrava a altura do que desejava.

 

O rapaz, inclusive, aparentava certo nervosismo por perceber que o monstro exibia sinais acelerados de recuperação ante seus ataques.

 

Era como se alguma coisa o estivesse curando!

 

“Por que seus companheiros estavam demorando tanto para chegar?!”

 

Lamentava não poder comunicar-se com eles pelo Cosmo e assim, apressá-los.

 

Já não lhe restava forças nem para isso.

 

“Sabia, que se, caso o intruso voltasse a ficar de pé, ele não teria mais recursos cósmicos para derrubá-lo.”

 

“Droga!”

 

R-Rachel...

 

Esparramado no chão, os lábios frouxos, e ensanguentados do monstro, moveram-se na articulação daquela palavra.

 

O Soldado de Athena ficara levemente espantado ao perceber que aquela criatura podia falar.

 

— RACHEEEEEEELLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL!

 

O berro desconcertou o rapaz ainda mais.

 

TIRO DEFLAGRADO!

 

Acompanhou a voz, o som de uma explosão, que em muito lembrava o do disparo de uma arma de fogo de grosso calibre.

 

A confusão de Petrus era tamanha que mal dera conta do barulho e da voz feminina, e familiar, que se elevava em algum ponto do descampado, e sequer viu quando, as suas costas, a pouco mais de um metro dele, dois projéteis, de tamanhos bastante singulares, vindos de direções diferentes, aparentemente invisíveis nas suas trajetórias, colidiram-se!

 

Do choque sobreveio um manto alaranjado de faíscas e só daí então viera, o som: um estrondo fortíssimo de metal contra metal.

 

O alarido quase deixara surdo o rapaz, que com brusquidão, havia se virado.

 

A sua esquerda, o que seria uma bala, explodira contra o solo enlameado.

 

Quase ao mesmo tempo, à direita, em meio a rodopios, cravara-se uma flecha.

 

O olhar do Soldado de Athena demorou-se ao fitar aquela haste pontiaguda que era toda trabalhada em metal.

 

“Somente havia no mundo um grupo de guerreiras que usavam de flechas como aquelas e podiam, a partir de uma técnica do qual somente tinham acesso, pasmem, dispará-las com a mesma celeridade de uma bala...

 

— Devia cuidar melhor de sua retaguarda, Petrus!

 

“As Amazonas de Athena!”

 

A voz de Rosavia foi acompanhada de sua figura alta e esguia envergando seu arco metálico; ainda em posição de disparo, erguia-se a jovem do mato alto, há mais ou menos, vinte metros de onde Petrus e Sendhil estavam.

 

A mão, que tinha acabado de efetuar o disparo da flecha, era toda recoberta por uma luva de Oricalco que ainda exibia algumas brasas incandescestes em meio a traços chamuscados.

 

E a Amazona não estava sozinha.

 

Quatro de suas ‘irmãs’ e mais um soldado corpulento, que fazia às vezes de carcereiro no Sunion e que trazia o aparato que aprisionaria Sendhil, completavam o cerco.

 

Como Rosavia, haviam acabado de chegar e eram os reforços pelo qual Petrus tanto ansiava.

 

Não muito longe de onde estavam, Rachel, A Amazona Negra de Triângulo, permanecia estática e calma.

 

De pé e com seu rifle avariado, ponderava friamente a situação e cada uma das figuras que compunham a roda que a cercava de todos os lados.

 

Um grupo de oito Soldados de Athena, sendo duas dentre eles, Amazonas, tinham, há poucos instantes, emergido das sombras do descampado, encurralando-a, danificando um dentre eles, enquanto se revelava, com a espada que mantinha em punho, sua preciosa arma de fogo logo após ela ter executado um disparo, que deveria ter atingido a nuca do desavisado Petrus, e permitido ao parceiro, tempo mais que suficiente, para que se recuperasse.

 

A perspectiva da cena, inadvertidamente, se divide:

 

Do lado esquerdo, ainda caído meio que inerte no solo, e com a transformação da FERA HUMANA se desfazendo, era mostrado Sendhil cercado por Petrus, Rosavia e os outros.

 

À direita, via-se Rachel e a roda dos oito Soldados de Athena.

 

A dupla de Cavaleiros Negros interinos encontravam-se numa enrascada daquelas!

Editado por Leandro Maciel Bacelar
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  • 5 meses depois...

LEMBRE A HISTÓRIA

 

Epílogo (Primeira Parte): Passasse algum tempo desde que Saga fora ordenado Cavaleiro de Ouro. Em Londres na Inglaterra, dois mercenários, Rachel e Sendhil, são contratados por um Lemuriano desconhecido de alcunha Warlock para que libertem Kanon de sua prisão no Sunion.

 

Epílogo (Segunda Parte): Depois de invadirem o Santuário sem serem vistos, a dupla Rachel e Sendhil, munidos com as armaduras negras de Triângulo e Cão Maior respectivamente, se veem frente a frente com os Soldados de Athena. Rachel abate, a tiros, facilmente dois deles. Sendhil, de posse de sua técnica FERA HUMANA, também não encontra dificuldades para remover do seu caminho os soldados Serov e Yun. No entanto, Petrus, outro Soldado de Athena, intercepta-o e um combate entre eles tem seu prenúncio.

 

Epílogo (Terceira Parte): Sendhil acaba derrotado e depois de ser posto fora de ação, se vê diante de um cerco e prestes a ser encarcerado no Sunion. Não tão distante dali, sua parceira, Rachel, até tenta ajudá-lo, mas o disparo do rifle empunhado por ela, que teria abatido pelas costas, Petrus, acaba sendo interceptado pela flecha disparada por Rosavia, uma das Amazonas de Athena. Como Sendhil, Rachel também se vê em sérios apuros, já que após ter sua arma avariada, um grupo de soldados a teria rodeado, todos prontos para abatê-la.

 

 

 

 

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — quarta parte

 

Rachel ainda segurava o rifle danificado.

 

Parecia não se importar que sua preciosa arma tivesse sido avariada de uma forma irremediável.

 

A verdade era que, desde o princípio, a Amazona Negra de Triângulo havia detectado mentalmente a presença de cada um daqueles Soldados de Athena que a cercava.

 

No momento que abatera, a tiros, dois deles na torre e se levantara, deixara, por um átimo, seu Cosmo perceptível; queria assim, atrair para uma armadilha, os que faziam a ronda pelo descampado.

 

Seu intento era dar cabo deles numa única investida sorrateira.

 

Só que o fato de seu parceiro Sendhil ter sido colocado fora de ação, sendo derrotado em combate, atrapalhara seu estratagema, já que ao invés de se focar na emboscada que planejara, teve que agir em prol do mesmo.

 

Esse inconveniente, também a forçara sacrificar seu rifle.

 

Pois no momento que agira, um dos soldados do grupo, que ela mesma havia atraído, se adiantara aos demais, e se movendo com rapidez sobre-humana, tinha atacado-a.

 

Se Rachel tivesse evadido o golpe, isso implicaria também em ter aberto mão da iniciativa de atirar.

 

Entre em ter a arma inutilizada e a segurança do parceiro, não teve dúvidas em optar pela primeira alternativa.

 

No entanto sua ação de nada valera.

 

Já que seu tiro fora interceptado por uma flecha disparada por uma das Amazonas de Athena que compunha o cerco ao redor de Sendhil.

 

Nem tanto se surpreendeu pela intervenção, tão pouco pelo uso da técnica amazônica — TIRO DEFLAGRADO — que por sua vez, permitia o disparo de flechas como se essas fossem balas, mas sim, pela pontaria miraculosa da atiradora:

 

Rosavia!

 

Cá entre nós, interceptar um pequeno projétil em pleno voo, numa altíssima velocidade que o fazia ser praticamente invisível, não era algo simples de se realizar; soma-se a isso as condições desfavoráveis do clima — chovia — a escuridão inerente da noite e o fato da arma de Rachel ter expelido a bala através de um silenciador, e teremos uma façanha bem próxima do ‘impossível’.

 

Mesmo em se tratando de uma Amazona, guerreiras que se valiam do arco e da flecha desde tempos imemoriais, sendo inclusive, tachadas como as melhores nessa prática, o feito podia ser considerado mais que notável.

 

Se pudesse, Rachel teria aplaudido Rosavia!

 

A sua volta, os Soldados de Athena a encaravam com olhares que exprimiam toda sua determinação.

 

Sua vantagem numérica, e pelo fato de tê-la aparentemente desarmado, os deixavam bastante confiantes.

 

Eram ao todo seis rapazes de boa aparência e, duas moças com semelhante formosura.

 

Armados:

 

Eles, com lanças e espadas.

 

Elas, habitualmente, com seus arcos e flechas metálicos.

 

Trajavam vestes pesadas de couro com acomodações para suas armas em meio a componentes de uma armadura de ferro que guarnecia a cabeça, ombros, tórax, costas, antebraços, joelhos e por fim, pernas.

 

A real eficiência daquela indumentária endereçava a contenção de ataques com força similar a de armas de fogo de baixo calibre.

 

Qualquer coisa acima disso seria mais que suficiente para comprometer a integridade daquele traje.

 

No caso das Amazonas, havia o complemento da Máscara de Silêncio, feita esta, do mesmo metal da armadura composta e no lugar do elmo, uma tiara.

 

Outro aparato que as fazia se destacar do séquito masculino era a luva de Oricalco que revestia como uma manopla, a mão que deveria impelir as flechas, disparando-as como balas, através do arco que envergavam.

 

Dado o seu conhecimento pela vivência no Santuário, Rachel entendia bem a razão por de trás do uso daquela luva:

 

Era por meio desta, que ao usar o TIRO DEFLAGRADO, uma Amazona, no momento que se servia de uma queima subsônica, usando seu Cosmo como propelente para a impulsão da flecha, não tinha a mão decepada pela explosão que arremeteria a haste metálica como se essa fosse uma verdadeira bala.

 

Pareciam todos ali, sem exceção, avaliar a figura impassível de Rachel.

 

A armadura negra e opaca que a cobria, em meio a uma pequena jaqueta vermelha entreaberta, era o que faziam seus olhares se demorarem.

 

Despertava um misto de curiosidade e confusão.

 

Graças ao uso de sua SONDA TELEPÁTICA uma técnica mental, muito comum dentre telepatas, utilizada em caçadas, reconhecimento de terreno e combates — a Amazona Negra de Triângulo captava os pensamentos de cada um deles.

 

Não podia ter acesso às memórias, mas tudo que era pensado naquele momento estava a sua disposição.

 

Aquilo lhe dava uma vantagem mais que considerável.

 

Já que poderia prever cada ato antes que esse se iniciasse.

 

Seu olhar ia passando de soldado para soldado.

 

Os pensamentos convergiam para uma necessidade mútua:

 

Abatê-la!

 

No entanto, um destoava dos demais.

 

Enquanto seus companheiros mantinham-se inteiramente absortos no combate com a intrusa que estava prestes a começar, Pierce queria...

 

Levá-la para ’cama’?!

 

Inclusive, ao visualizar Rachel, não era em sua vestimenta metálica que o rapaz estava interessado e sim nos seus encantadores dotes feminino.

 

Para ser mais específico, os seios fartos era o que mais deixava Pierce inebriado.

 

Sua mente fervilhava com pensamentos eróticos.

 

Rachel por sua vez, meio que estupefata com aquilo, perdera todo seu ar impassível, e agora encarava Pierce zangada com uma das sobrancelhas arqueadas.

 

Ao perceber que a intrusa o mirava com uma expressão do tipo “eu sei o que esta pensando”, o soldado, engoliu seco, ruborizando de imediato, tentando desviar o olhar e substituir, por qualquer outra coisa, as fantasias que estava tendo.

 

— Já chega de ficar só ‘encarando’...

 

Disse com um travo de impaciência o soldado de espada em punho que havia outrora golpeado o rifle de Rachel.

 

Dennis sentia-se mais confiante que os demais devido ao sucesso de sua primeira investida e calculava, erroneamente, a partir disso, que era mais rápido que a ruiva a sua frente por essa não ter podido contrapor seu ataque.

 

— O que estamos esperando...

 

Sibilou para os companheiros.

 

— Um convite?!

 

Adiantou-se com passos decididos, sendo seguido por outros dois, originando assim, um novo cerco.

 

Havia agora duas rodas de soldados orbitando em torno de Rachel.

 

Para ela, a intenção por de trás daquela nova formação era óbvia:

 

Contrariando o ‘imaginável’, o cerco mais afastado era o que se lançaria primeiro ao ataque, provavelmente preferindo se servir de manobras rápidas, de longo alcance e baixo poder de destruição.

 

O intuito era colocá-la em movimento, forçando uma abertura que permitiria ao outro grupo, o que estava mais próximo, atacá-la fisicamente com toda força disponível.

 

Bingo!

 

Seguindo sua ‘previsão’, vindas do alto para baixo, em direções opostas pelos flancos, três lanças percorriam os ares num zunido estridente, após terem sido vigorosamente arremessadas pelos soldados da segunda fileira, enquanto esses, galgando as alturas, haviam saltado.

 

Nesse momento a perspectiva de todo o quadro abandona a visão das lanças e de quem as arremeteu para se focar nas Amazonas que completavam o cerco mais afastado:

 

Mayer e Aliciana!

 

Essas por sua vez, haviam se servido do mesmo ínterim para armar seus arcos, deixando-os voltado para o chão, sem esboçar ainda, qualquer reação que indicassem que fossem disparar.

 

O foco passou delas para o pequeno grupo mais próximo de Rachel.

 

Detidos em suas posições inclusive Pierce e Dennis não desgrudavam os olhos da intrusa, aguardando disciplinado, o momento que essa fosse ser atingida, ou não, pelas lanças em movimento.

 

A cena então se limitou em mostrar somente a Amazona Negra de Triângulo.

 

Rodeando-a.

 

Exibindo todo encanto da combinação de sua vestimenta negra com seus estonteantes atrativos femininos.

 

Soltara então essa, finalmente, o rifle.

 

Com este ainda no ar, em trajetória eminente até o solo enlameado, a ruiva se abaixou de forma abrupta, fazendo que o ímpeto de sua ação gerasse uma redoma etérea de proporções consideráveis que, vinda de um ponto afastado do descampado, deitara o mato alto e expulsara as gotículas de chuva em seu caminho, encolhendo-se rapidamente, até ser absorvida pela imagem da própria Amazona Negra.

 

Sobreveio a ruína do solo abaixo dos pés de Rachel, com esta, ainda agachada.

 

E depois o tempo pareceu restringir.

 

Reduzir-se próximo a imobilidade.

 

Mais uma vez o enquadramento da cena se desloca para singularizar os envolvidos:

 

Partindo de Rachel, com o rifle avariado ainda suspenso quase sobre sua cabeça, passando pelas lanças a menos de meio metro de atingi-la, pelo trio que a cercava de perto, tendo estes, por sua vez, seus corpos transfigurados por causa do prenúncio da FORÇA HEROICA que acabavam de evocar em retaliação, até chegar às Amazonas que erguiam seus arcos em nítida posição de disparo e por fim, nos soldados que ainda permaneciam pairando no céu após o arremesso anterior de suas lanças, preparando-se estes, para o pouso no solo.

 

Todos no cenário ficaram por um instante estáticos.

 

Foi então que dentre eles um começou a se mover enquanto os outros permaneciam ‘congelados’.

 

Era Rachel, que abaixada, tinha levado as mãos às costas por dentro da jaqueta, sacando de lá, um par de pistolas automáticas que estavam outrora acomodadas em coldres.

 

Diferente do rifle, essas armas não possuíam silenciadores nas extremidades de seus canos.

 

Os olhos dos soldados passaram muito lentamente a mobilidade, demonstrando uma ligeira surpresa quando suas percepções e mentes assimilaram o fato da intrusa estar agora, portando aquelas armas.

 

SABRE DE BALAS!

 

Disse a bela garota de trança ruiva, ao mesmo tempo em que seu corpo tinha executado um salto mortal, que a havia impulsionado no ar, quase que em linha reta, a uma altura vertiginosa, de mais ou menos, dez metros do solo.

 

No mesmo ponto onde anteriormente estava, cravou-se com ímpeto no chão, inclusive destruindo o rifle arruinado que ainda pairava, às lanças que buscavam mortalmente golpeá-la.

 

De cabeça para baixo, Rachel passou a executar uma série coordenada de giros em parafuso onde seus braços moviam as pistolas em punho, como se essas fossem o cabo de duas verdadeiras lâminas.

 

No intervalo de cada acrobacia, o tempo retornava ao seu curso costumeiro.

 

Essa alternância temporal prosseguiu até o fim dos giros da Amazona Negra.

 

Da extremidade de cada arma, escapava uma torrente absurda de balas que eram expelidas de uma única vez dos seus pentes.

 

Qualquer arma comum teria explodido por não suportar descarregar toda a munição daquela forma tão abrupta e intensa.

 

Mas aquelas pistolas eram diferentes.

 

Haviam sido anteriormente modificadas por Rachel.

 

A garota tinha feito essas mudanças ainda naquela tarde quando estava no hotel em Atenas.

 

Como tinha grande conhecimento acadêmico nas áreas de armamentos militares, tecnologia e mecânica avançada, ela mesma criava certos aparatos e fazia modificações tais como aquelas que haviam nas pistolas que estava agora portando.

 

As armas que dispunha tinham sido fornecidas pelo mesmo contato que lhe arranjara o helicóptero com o qual usara para adentrar as fronteiras do Santuário.

 

Rachel sabia que era muito perigoso transportar armamento pelas fronteiras das autoridades humanas.

 

Principalmente nos aeroportos.

 

Dessa forma, sempre conseguia o que precisava para suas missões, com contatos locais.

 

Era dispendioso, mas necessário.

 

Graças às modificações feitas por Rachel, à velocidade das balas expelidas pelas pistolas era tão rápida e o espaço entre elas tão curto, que ao serem liberadas, formava um fino traço alaranjado reluzente, muito similar a um laser.

 

No momento que o ‘sabre’ originava-se, Rachel sabia que sua permanência seria de pouco mais de uma fração de segundo.

 

Dessa forma, empregava toda velocidade corporal que dispunha para se aproveitar ao máximo daquela lâmina efêmera.

 

Neste momento, movia habilmente os braços, para usar as balas como um poderoso instrumento de corte, tal qual fazia um exímio espadachim.

 

Como uma bailarina, a ruiva movia-se graciosamente no ar, à medida que completava o arco do seu salto acrobático.

 

Cada movimento em parafuso se sincronizava com o seu SABRE DE BALAS, que passava através do corpo de cada soldado sem causar-lhes nenhum mal aparente.

 

Ao fim de todo o ‘balé’, que chegara a durar o tempo de uma piscadela, a Amazona Negra de Triângulo tocara o chão quase no mesmo ponto onde anteriormente estava, ficando muito próxima das lanças enterradas no solo, exibindo-se numa postura elegante.

 

As pistolas, com fumaça exalando de seus canos, ejetaram então, os pentes vazios.

 

Instintivamente Rachel virou simultaneamente a extremidade da coronha das armas, deixando o local por onde elas eram remuniciadas voltadas para seus pulsos.

 

Com um movimento sutil e controlado, acionou o dispositivo de dois braceletes que trazia consigo em seus antebraços, presos à armadura negra que trajava e, ocultos pelas longas mangas de sua jaqueta vermelha.

 

Cada bracelete trazia um conjunto de cinco pentes.

 

Quando Rachel o acionava, expelia um daqueles suportes com balas, e girava.

 

Assim as pistolas eram abastecidas e o local que tinha ficado vazio após a ejeção, dava lugar a outro compartimento de balas do bracelete.

 

Com as armas prontas para o uso novamente, Rachel as acomodou em seus coldres nas costas e partiu.

 

Durante todo esse tempo, os soldados tinham ficado completamente imóveis e as expressões em seus rostos eram assustadoramente inexpressivas.

 

Em movimento estavam apenas aqueles que tinham outrora saltado para arremeterem suas lanças, mesmo assim, não se moviam de fato, apenas seus corpos eram atraídos pela gravidade em seu retorno forçado ao solo.

 

Nos corpos de ambos, tanto na frente como atrás, podia-se ver marcados inúmeros traços laranja que como brasas, perdiam sua coloração à medida que esfriavam.

 

Súbito, as partes separadas por esses traços se desprenderam, e horrivelmente os soldados ali presentes, tombaram em fatias.

 

Em sua metódica habitual, Rachel não lhes lançou sequer um olhar.

 

Nem mais se recordava deles.

 

Os únicos pensamentos eram o de encontrar Sendhil e libertar Kanon.

 

Tinha percorrido já uma boa distância do descampado quando teve que saltar inadvertidamente para trás, evitando assim, que algo do céu, atingisse-a.

 

Sacou uma de suas pistolas quase que como ato reflexo.

 

Ficou espantada ao perceber que se tratava do corpo desfalecido do seu parceiro!

 

Este se mantinha num estado de inconsciência, com movimentos débeis de quem estava prestes a acordar.

 

Não mais trazia em seu corpo, o vestígio da FERA HUMANA.

 

Também estava despido do seu sobretudo e da tiara da vestimenta negra de Cão Maior.

 

Para o alívio momentâneo de Rachel, Sendhil tinha o traje metálico que envergava incólume e não apresentava sinais de ferimentos em seu exterior.

 

Contudo, internamente, a Amazona Negra calculava que este pudesse ter sido afligido.

 

Afinal, a FORÇA HEROICA, técnica dos Soldados de Athena a quem estavam combatendo, detinha essa particularidade em seu dano.

 

Algo para contrabalancear o fato deles não portarem couraças protetoras como as de Rachel.

 

Já que tal poder tinha por objetivo destruir de dentro para fora tudo que tocava, ignorando, em partes, a resistência de qualquer casca externa que se colocasse em seu caminho.

 

Seus sentidos e mente, quase que ao mesmo tempo em que avaliavam as condições de seu parceiro, varriam o local a sua volta na busca de outras presenças.

 

Num misto de terror e arrebatamento, contemplara um ‘anjo’ negro descendo do negrume da noite em meio às incontáveis gotículas de chuva.

 

 

 

 

Quase que ao mesmo tempo.

No Santuário. Doze Casas.

Mansão de Sagitário.

 

 

 

De sua varanda privativa no Salão Sagrado, ornamentada com belíssimas plantas e esculturas, segurando uma ordem por escrito que lhe acabara de ser entregue por um dos Mensageiros do Grande Mestre, um rapaz de traços helênicos, com cabelos louros curtos e encaracolados a emoldurar seu diminuto crânio, trajando o que seria um pijama, observava o céu, hipnotizado.

 

As suas costas, nas dependências do quarto que se fazia conjugado com a varanda onde estava, uma jovem e bela criança, com sinais prematuros de sua feminilidade insinuando-se pelo tecido alvo de suas vestes de dormir, trajada como uma Máscara de Silêncio, andava descalça de um lado para o outro, gesticulando muito enquanto se empenhava num falatório, que em sua essência, trazia seu repúdio veemente com relação ao Grande Mestre vir importuná-lo:

 

“Será que Shion não sabia que seu Mestre Aioros estava doente?!...”

 

“Caso saísse, ele, naquela chuvarada, com certeza sua condição pioraria!”

 

Exclamou Angela num desabafo enquanto exibia, em oculto por debaixo da máscara que usava, uma careta de contrariada.

 

Em tom afável, e não menos disciplinador, sem deixar de continuar prestando atenção no céu, o Cavaleiro de Ouro de Sagitário se dirigiu a sua pupila, falando-lhe primeiro para que essa jamais se esquecesse dos modos ao se referir ao regente do Santuário e em seguida, emendara dizendo que sua doença se tratava de um mero resfriado.

 

Virou-se.

 

A menina clara desfez a zanga em seus trejeitos e correu para abraçá-lo.

 

Aioros permitiu o arroubo, acariciando a cabeleira negra de Angela que lhe cascateava os ombros nus, em espirais.

 

Foi breve o contato entre eles, mas intenso.

 

Começou a caminhar na direção do altar onde sua vestimenta repousava na urna dourada de seu confinamento.

 

Parecia hipnotizado novamente.

 

O transe se devia pelo nefasto Cosmo que a poucos, tão nitidamente, se revelara.

 

Havia neste uma brutalidade familiar e Aioros, ao ter certeza de a quem pertencia, custara a acreditar que Garan tivesse sobrevivido ao embate derradeiro que travaram a menos de dois anos atrás.

 

Na época, frustrado por ter sido dispensado pelo Santuário devido sua conduta pouco apropriada, o Proscrito desencadeara o extermínio de toda uma cidade.

 

O intuito de tal horror era o de ao mesmo tempo desafiar, e provar a Athena, seu valor.

 

Garan queria deixar claro que não era sábio em tê-lo como inimigo!

 

 

 

 

Instantes atrás.

Local do Santuário bem próximo ao Sunion

onde Sendhil fora abatido.

 

 

 

Começou como uma inofensiva distorção da realidade.

 

FRIO ESPACIAL!”

 

Uma centelha negra que logo se expandiu.

 

Acima das nuvens, encoberto pelo negrume da noite, um ‘anjo’ negro a tudo observava.

 

Parecia imbuída de vida dada à forma horripilante de seu pulsar.

 

Não tardaria, e o descampado, que outrora compunha o mundo que rodeava todos ali presentes, daria lugar a uma sinistra desolação espacial.

 

Inquietos, os Soldados de Athena se perguntavam qual era a razão daquele fenômeno.

 

Não poderia estar vindo do intruso que haviam acabado de fazer prisioneiro.

 

Este se mantinha inconsciente, e agora algemado, inclusive com uma focinheira, desde que Petrus o atingira pela ultima vez.

 

Bastaram alguns instantes de exposição naquele espaço sem matéria para que perecessem, congelados até a última de suas moléculas, vítimas de uma baixa temperatura muito próxima do zero absoluto.

 

 

 

 

De volta ao tempo presente.

Santuário, proximidades do Sunion.

Com Sendhil, Rachel e o suposto ‘anjo’ negro.

 

 

 

— Me poupe do seu olhar de desagrado, mulher.

 

As imensas asas negras encerravam a frente do corpo de Garan como a portões, deixando apenas a cabeça do Sagitário Negro exposta.

 

— Devia se mostrar grata.

 

“Já que foi graças a mim, que seu parceiro não se encontra agora, preso, num dos muitos buracos do Sunion.”

 

Rachel estava auxiliando Sendhil para que esse ficasse de pé.

 

A arma, anteriormente em punho, havia sido devolvida ao coldre.

 

— Agora partam daqui!

 

“Concluam o que lhes fora ordenado.”

 

— E quanto a você?

 

Quis saber à ruiva antes de ir.

 

Garan fechara os olhos e sorrira.

 

Podia sentir Aioros deslocando...

 

Chegaria ali logo.

 

— Tratarei de assuntos inacabados.

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LEMBRE A HISTÓRIA

 

Epílogo (Primeira Parte): Passasse algum tempo desde que Saga fora ordenado Cavaleiro de Ouro. Em Londres na Inglaterra, dois mercenários, Rachel e Sendhil, são contratados por um Lemuriano desconhecido de alcunha Warlock para que libertem Kanon de sua prisão no Sunion.

 

Epílogo (Segunda Parte): Depois de invadirem o Santuário sem serem vistos, a dupla Rachel e Sendhil, munidos com as Armaduras Negras de Triângulo e Cão Maior respectivamente, se veem frente a frente com os Soldados de Athena. Rachel abate, a tiros, facilmente dois deles. Sendhil, de posse de sua técnica FERA HUMANA, também não encontra dificuldades para remover do seu caminho os soldados Serov e Yun. No entanto, Petrus, outro Soldado de Athena, intercepta-o e um combate entre eles tem seu prenúncio.

 

Epílogo (Terceira Parte): Sendhil acaba derrotado e depois de ser posto fora de ação, se vê diante de um cerco e prestes a ser encarcerado no Sunion. Não tão distante dali, sua parceira, Rachel, até tenta ajudá-lo, mas o disparo do rifle empunhado por ela, que teria abatido pelas costas, Petrus, acaba sendo interceptado pela flecha disparada por Rosavia, uma das Amazonas de Athena. Como Sendhil, Rachel também se vê em sérios apuros, já que após ter sua arma avariada, um grupo de soldados a teria rodeado, todos prontos para abatê-la.

 

Epílogo (Quarta Parte): Numa amostra de suas incríveis habilidades, Rachel consegue vencer, numa única ação, todos os Soldados de Athena que a ameaçavam. Enquanto isso, não muito longe dali, um ‘anjo’ negro salvava Sendhil do cárcere no Sunion. Este se revela sendo Garan, o Cavaleiro Negro de Sagitário. Em seu encalço, o Santuário mobiliza Aioros.

 

 

 

 

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — quinta parte

 

 

Palácio de Prata(1).

Dependências do Aposento Particular de Algol.

 

 

Algol era por natureza, o que poderíamos chamar de, rabugento.

 

Pouco sociável, mimado e com sérias inclinações homicidas, suas reações ante aquilo que o aborrecia, geralmente implicava em precipitação e... morte.

 

Quando chegou a confirmação, por um dos seus, que o perímetro que guardava, como sendo um dos Capitães da Guarda do Santuário, fora invadido, o Cavaleiro de Prata de Perseu mostrara-se irritadiço.

 

Seus Tenentes, já habituados no trato difícil com sua pessoa, aguardavam calmos e em silêncio, postados eretos de pé, membros juntos ao corpo, elmo ou tiara de suas vestimentas de bronze segura em uma das mãos, até o momento que suas reclamações chegassem ao fim.

 

A maior indignação de Algol endereçava ao fato do Grande Mestre ter restringindo suas ações e dado a outro, senão ele, a incumbência de eliminar um dos intrusos.

 

Sabia muito bem que aquilo era atípico e só havia uma razão plausível que a justificasse:

 

Quem quer que fosse o adversário, detinha poderes acima dos dele e daqueles sob seu comando!

 

Mesmo assim, não deixava de reclamar...

 

Frisava que sua LANÇA DE PERSEU uma técnica que supostamente era mais rápida que a luz — podia sobrepujar qualquer inimigo, não importando a força que esse possuísse.

 

Só parou de falar quando um soldado, muito temeroso por interrompê-lo, o avisara que uma guarnição tinha, por acaso, se deparado com uma aeronave nos arredores montanhosos das fronteiras da área leste do Santuário. Estes aguardavam seu parecer com relação à mesma.

 

Algol sorrira ante aquela informação, já que a considerava de uma importância desmedida.

 

Pois, desde que a invasão fora, tardiamente, descoberta, ficara evidente que apenas a presença de um dos perpetradores podia ser rastreada, e mesmo assim, tinha sido algo deliberado.

 

Ou seja, o intruso desejava que fosse descoberto!

 

Agora que sabia como haviam chegado até o Santuário, era só aguardar o retorno destes, próximo ao helicóptero, já que era certo, que o utilizariam como meio de fuga.

 

Como as intenções dos intrusos ainda não estavam claras e como o Sunion, que se encontrava no perímetro de sua monitoração, era o que havia de mais notório, por precaução, o Cavaleiro de Prata de Perseu determinara a um de seus cinco subordinados que este fosse para lá.

 

O Cavaleiro de Prata de Perseu bem sabia, que dada suas próprias implicações, o Sunion não necessitava de vigília.

 

Aquele que estivesse preso em suas alcovas, não possuía meios para sair.

 

E qualquer que fosse a tentativa externa de removê-lo, resultaria em nada.

 

Seja como for, essa não era a preocupação de Algol, e nem sua intenção, o que desejava era confrontar os intrusos e puni-los, e o Sunion, tanto como o helicóptero, parecia um bom palpite de onde poderia encontrá-los.

 

 

 

 

Sunion.

 

 

 

No final de um desfiladeiro, onde as águas do Egeu arrebentavam, circundado por uma escadaria que dava os contornos de ter sido talhada na rocha naturalmente, havia uma prisão.

 

Dezenas de cavernas, com suas entradas obstruídas por barras, começavam desde a parte alta e descia até seus alicerces onde a cada subida da maré, seu interior acabava inundado, ameaçando constantemente a vida de quem ali estivesse confinado.

 

Desde a fundação de seu Santuário, algo que remontava após a Guerra Santa contra Tífon e seus Gigas, a Deusa da Sabedoria, Athena, o vinha utilizando como cárcere para seus inimigos e transgressores de suas leis.

 

As condenações podiam variar desde alguns dias de confinamento até a perda da vida!

 

Quem as determinava era usualmente os Oficiantes, mas o ‘perdão’, caso houvesse, cabia ao Grande Mestre ou a própria Athena.

 

Toda a área abrangente do Sunion encontrava-se sob proteção permanente de um selo particular da Deusa, que por sua vez, gerava um impenetrável campo cósmico inibidor, que como uma redoma protetora, impedia qualquer coisa de entrar ou sair.

 

O único jeito de liberar a passagem era pela vontade do próprio selo ou de um poder suficientemente capaz de rompê-lo.

 

Hoje, nesse local, junto aos demais condenados, apartado, em sua cela, se achava preso um menino, chegando aos seus treze anos de idade.

 

Seu nome era Kanon!

 

Detentor de um poder sem igual, ele teria sido, com certeza, o Cavaleiro de Ouro de Gêmeos dessa geração, caso seu irmão, Saga, não tivesse se colocado em seu caminho.

 

Mais que lhe roubar a Armadura, este lhe tirara a liberdade, acusando-o falsamente de assassinar Cassandra, sua ex-Tutora.

 

Se não bastasse, ainda lhe privara do simples ato de existir, deixando no seu lugar o vazio, já que removera seus cinco sentidos, tornando-o um cadáver ambulante.

 

Visitas não eram comuns, mas sempre três vezes ao dia, um grupo de Soldados de Athena, escoltava um servo para que esse lhe desse de comer, beber, cuidasse de sua saúde e higiene pessoal.

 

Mesmo Kanon apresentando um estado perpétuo de catatonia, os soldados nunca afrouxavam na segurança.

 

Suas FORÇA HEROICA estavam sempre ativas e prontas para abatê-lo, caso assim, fosse necessário.

 

E mesmo que o ex-Aspirante conseguisse sobrepujá-los, na menor de suas reações em direção a saída, as barras desceriam de imediato, lacrando novamente a alcova.

 

Dada a gravidade do seu crime, Kanon fora encarcerado muito próximo ao ‘pé’ do desfiladeiro.

 

Como já dito anteriormente, nestes locais, era corriqueiro a subida da maré, onde o interior da caverna acabava imergindo nas profundezas.

 

Durante as vezes que isso acontecia, um Cosmo, vindo das próprias águas marinhas, envolvia calorosamente o menino, impedindo assim, que ele se afogasse.

 

Esse Cosmo pertencia a Poseídon!

 

Durante os meses que se sucederam a sua prisão, o Grande Mestre, e o seu próprio irmão gêmeo Saga, vieram pessoalmente ao Sunion para vê-lo.

 

Fossem para trazer-lhe alento, tribulação ou verdade.

 

Porém agora, enquanto estava sentado imóvel em uma rocha, e em completo silêncio no fundo da cela, com a água do mar a lhe banhar os tornozelos, ele recebia visitantes bem pouco usuais:

 

Cavaleiros Negros!

 

A chuva havia diminuído àquela hora e nesse momento não passava de uma leve e fina garoa.

 

Já era possível contemplar toda a beleza da lua, que em seu quarto crescente, insinuava-se no céu, esplendorosa, através dos nichos deixados entre as poucas e pesadas nuvens.

 

Rachel e Sendhil corriam degraus abaixo, saltando de vez ou outra, com perícia e cuidado, ignorando deliberadamente em sua passagem, os olhares curiosos dos condenados, que os expiavam por entre as barras de suas celas.

 

Enquanto a ruiva de jaqueta servia-se de movimentos fluídos e sobre-humanos, o rapaz louro, de porte animalesco graças ao primeiro estágio da FERA HUMANA, deslocava-se como a um quadrúpede, as unhas afiadas de suas mãos cravando-se aonde viesse tocar, os joelhos flexionados, impulsionando seu corpo musculoso, semelhante a uma flecha num arco.

 

As rochas da escada estavam escorregadias.

 

Tinha chovido a noite toda.

 

Muita água escorria numa enxurrada barulhenta.

 

Cautelosos, e após terem alcançado os alicerces do Sunion, a dupla de Cavaleiros Negros interinos se dirigiam até a entrada de uma das cavernas.

 

Ficaram detidos a uma distância segura das barras.

 

Mesmo com o luar, era difícil discernir qualquer coisa que estivesse no interior da alcova.

 

— Sendo está à prisão do Santuário, eu esperava encontrar seguranças que a salvaguardasse.

 

Observara Sendhil em um tom que misturava desapontamento e reprovação.

 

O Cavaleiro Negro de Cão Maior nutrira, desde que deixaram Garan para trás, uma expectativa de encontrar no Sunion, um grupo de Soldados de Athena, protegendo o local.

 

Sendhil estava ansioso por uma revanche!

 

Há cerca de minutos atrás, ele e a parceira haviam entrado em combate contra alguns desses destemidos combatentes de Athena, e em sua luta contra um deles, Sendhil acabara muito ferido e derrotado.

 

Se não fosse pelo CURANDEIRO MÍSTICO de sua FERA HUMANA, que havia a pouco, restabelecido os danos em seu corpo, certamente estaria morto agora.

 

Rachel não dissera nada sobre o ocorrido, nem mesmo em relação dele ter sido salvo do cárcere no Sunion pelo Sagitário Negro; Sendhil também evitara falar durante todo o trajeto. Mesmo sabendo que sua inexperiência, com relação a adversários com potencial cósmico, havia sido determinante para que fosse vencido, ele se sentia profundamente mal com tudo aquilo, e seria péssimo ter que ouvir comentários, ou sermões, a esse respeito, em principal, vindos da parceira, a quem amava em segredo e desejava impressionar.

 

Tinham pressa!

 

Como haviam sido descobertos prematuramente, com o Santuário mobilizando, inclusive, um Cavaleiro de Ouro para interceptá-los, contavam com muito pouco tempo para realizar aquilo que foram contratados para fazer:

 

Libertar Kanon!

 

Ainda aborrecido e frustrado, o Grande Cão Negro deu dois passos à frente, assumindo uma postura ameaçadora que colocava em evidência suas ‘garras’.

 

— Seja como for, vou liberar a passagem...

 

Sem esperar qualquer consentimento vindo por parte da Amazona Negra de Triângulo, o rapaz se lançou ao ataque, num galope veloz, somando a este, o peso do próprio corpo em movimento, buscando assim retalhar as barras da cela.

 

Sendhil esperava, sem maiores dificuldades, atravessar o obstáculo.

 

Contudo, não é o que acaba acontecendo!

 

Toda força cinética empregada por ele, é devolvida.

 

— Mas que diabos?!...

 

Indagou surpreso, ao mesmo tempo, em que levava um tranco por se colidir com as barras e era atingido por sua própria força, sendo lançado para trás diversos metros.

 

Seu corpo passara arrebatado pela parceira, explodindo em seguida numa rocha, que juntamente com outras, permeavam a parte rasa do Egeu até a pequena enseada onde estavam.

 

Num movimento de quicar, desprendeu-se de onde se colidira, deslizando até a ‘acolhida’ do mar.

 

Com certo atraso, se erguera com água a banhar-lhe e cobrir quase que completamente as pernas.

 

No peitoral de sua vestimenta, um corte superficial, que era a soma de cinco riscos menores, maculavam a estrutura metálica.

 

Tocando a avaria, e se certificando que tudo estava bem, vinha a mente de Sendhil que mais uma vez, naquela noite, a armadura negra de Cão Maior, salvara sua vida.

 

Existe um Selo de Athena protegendo estas barras e isto as torna virtualmente indestrutíveis...

 

Falara Rachel, enquanto seu parceiro vinha novamente colocar-se do seu lado.

 

— E não se trata de qualquer selo...

 

“Este aqui é criado para isolar uma determinada área, e impedir que algo de fora entre, ou que de dentro saia, sem a liberação do próprio selo ou de quem o criou.”

 

Ficou em silêncio, a Amazona Negra, depois prosseguiu:

 

— Mesmo o teleporte da matéria ou caminhos alternativos por entre as dimensões gerados por portais não seriam capazes de adentrar em sua abrangência...

 

“E qualquer poder de destruição lançado contra sua área de proteção seria instantaneamente devolvido para o perpetrador.

 

Rachel deu uma leve ênfase à entonação de sua voz ao se referir a essa última parte.

 

— Podia ter me avisado antes...

 

Resmungou, o outro.

 

— Você podia ter perguntado...

 

Disse em tom condescendente a garota.

 

— Você já sabia de antemão da existência deste selo?! — Quis saber Sendhil.

 

— Mais ou menos.

 

“No pouco tempo que estive aqui sendo treinada, sabia que o Sunion era um dos muitos lugares que Athena havia escolhido, dentro do perímetro do seu Santuário, para proteger com um dos seus selos particulares.”

 

“Só não sabia que ela havia usado um dessa magnitude para essa prisão.”

 

E o que são na verdade esses tais selos, Rachel? — Indagou Sendhil, sem grande interesse pela resposta.

 

— São armas de contenção e aprisionamento criados na antiguidade pelos Deuses, mais precisamente por Zeus, durante a Titanomachia contra aqueles que eram seus pais...

 

“Como não podiam igualar a imensa força dos Titãs, acabaram criando os selos para debilitá-los e assim, poder encarcerá-los.”

 

“Em toda existência, Zeus sempre foi o maior e mais habilidoso na arte da criação desses artefatos e provavelmente, passou alguns desses seus conhecimentos valiosos, para sua amada filha, Athena.”

 

“Selos com o poder de inibição como o que estamos vendo aqui, só podem ser criados por seres divinos de conhecimento e poder absoluto.”

 

“É por essa razão que não vemos ninguém protegendo essa área e nem as entradas das cavernas.”

 

“Com algo assim permeando o Sunion, o Santuário não precisa se preocupar em defender o lugar.”

 

A Amazona Negra deteve-se naquilo que falava.

 

Parecia muito pensativa.

 

— Até onde sei apenas a Sala do Confinamento, que fica no pedestal da Estátua de Athena, que é usado para guardar os mais preciosos ‘tesouros’ da Deusa é protegido por um selo desses... — Continuou.

 

“É muito provável que a torre onde se abriga, quando encarnada aqui na Terra, também seja.”

 

“Presumo ainda que, mesmo com todo o poder que detém, Athena só possa criar um número bem restrito destes selos, e mesmo estes, tem alcance limitado, como o espaço da Sala do Confinamento e o dessa prisão.”

 

“De outra forma, ela já teria selado todo o seu Santuário.”

 

Sendhil ouvia tudo com desinteresse, soltou um xingamento abafado em relação aquele mais novo obstáculo, e a seguir, ajeitou os fios louros de sua cabeleireira para trás.

 

— O que faremos agora?

 

Silêncio.

 

— Se as malditas barras não podem ser destruídas, devemos então quebrar a rocha da caverna em volta e criar uma nova entrada?!

 

O Cavaleiro Negro de Cão Maior havia contornado as barras e parado na frente de um paredão rochoso que compunha o desfiladeiro onde o Sunion fora esculpido.

 

Dessa vez não atacou de forma precipitada.

 

Olhava para Rachel e a esperava.

 

— Não adiantaria.

 

Sentenciou a Amazona Negra de Triângulo.

 

— O selo cria uma redoma que protege toda a área em torno da prisão.

 

A bela garota de trança ruiva e corpo escultural caminhou na direção da entrada da caverna.

 

Parecia quase em transe.

 

— Mesmo que tentemos forçar uma entrada pelos flancos, por cima ou por baixo, não adiantaria...

 

Ela estava bem próxima das barras quase que as tocando.

 

Estamos ferrados!

 

Suspirara Sendhil, num semblante de preocupação que contrastava com o comportamento calmo e ponderado da parceira.

 

Viemos até aqui e arriscamos nossas vidas por nada! — Resmungou, socando a parede sem empregar, em demasia, força ao golpe.

 

Droga Rachel, fale alguma coisa!

 

Encarou a ruiva que permanecia em silêncio, como que mergulhada nos próprios pensamentos.

 

— Esse Warlock desgraçado... — Disse ele, já que a parceira não se manifestara.

 

“Ele devia saber do selo... como a gente recusou a aliança que nos propôs... inventou essa missão para se vingar... o miserável nos enviou até aqui para morrer!”

 

O Grande Cão Negro detera-se em seu acesso de indignação, quando vira a parceira movendo os braços, e ficando envolta por uma aura brônzea, que materializara um sifão cósmico ao seu redor.

 

Certamente Warlock sabia desse selo... — A voz de Rachel soou finalmente.

 

“Por isso disse que, provavelmente, eu seria a única capaz de cumprir essa missão.”

 

— Você pode quebrar o selo?!

 

Indagou surpreso Sendhil num misto de animação e incredulidade.

 

Não.

 

A resposta direta e incisiva da parceira extinguiu, instantaneamente, a empolgação súbita do outro.

 

Somente um ser divino de poder similar, ou maior que o de Athena, seria capaz de tal proeza.

 

— Se é impossível para nós quebrar esse maldito selo, como faremos então para tirar Kanon daí de dentro?

 

Em nova resposta, o sifão que envolvia Rachel se dissipara, dando lugar a milhares de pequenos ‘vaga lumes’ de Cosmo que se, olhados de mais de perto, e atentamente, se percebia que na verdade, trata-se de pequenos triângulos reluzentes.

 

Aos poucos, estavam se dividindo e assim sua quantidade ia a cada instante, multiplicando.

 

— O que farei aqui, não se remete a uma ‘quebra’ do selo, e sim, em romper por um famigerado instante, sua integridade, desmembrando provisoriamente, os três mundos que compõe a realidade a nossa volta, para que assim, ele deixe de existir.

 

Um grande ponto de interrogação se formara nas feições e nos pensamentos do rapaz.

 

— Sendhil...

 

Chamara Rachel.

 

— Todo o ‘existir’ que nos engloba depende da harmonia existencial de três mundos.

 

“Na verdade o termo ‘mundo’ não se faz apropriado, penso eu, que ‘plano’ seja mais adequado.”

 

“Há quem os chame também de Esferas Existenciais!”

 

O tom paciente da Amazona Negra de Triângulo em muito, se assemelhava, com a de uma professora, tentando explicar para seu aluno algo complicado, mas que era de certa forma, bem simples, de se compreender.

 

— O primeiro é o Plano Material:

 

“Trata-se do mundo físico do corpo, orgânico ou inorgânico, mesclado pela matéria em seus diversos tipos de estado, e também o lugar onde habita todas as criaturas viventes espalhadas pelo nosso universo.”

 

“O segundo é o Plano Astral.”

 

“O mundo da mente e dos sonhos, habitado por almas, projetado pelo subconsciente de todas as criaturas sencientes estando elas vivas ou não.”

 

“E por fim, o Plano Espiritual, que apesar do nome, tem mais relação com o Cosmo.”

 

“Já que os espíritos são, basicamente, de natureza cósmica.”

 

“Ele engloba, desde o Mundo dos Mortos, até qualquer outra localidade, como o Olimpo e o Labirinto de Cronos, que não tenha relação com a matéria ou com a mente.”

 

“Entre esses planos, orbitando-os como camadas, existem infinitas dimensões, que como obstáculos naturais, se interpõem no caminho daqueles que tentam adentrá-los, sem atender suas especificações.”

 

“Desde o princípio da existência, as Moiras tem zelado pelo equilíbrio dos três planos, temendo que o menor dos distúrbios, pudesse gerar o fim de tudo que havia.”

 

“Chamadas de as Irmãs do Destino, sempre se prontificaram a intervir quando algo tentava macular a delicada trama da realidade.”

 

“Para tanto, contavam com um poder que era capaz de fazer, o impossível tornar-se possível, do qual apenas elas, tinham acesso:”

 

Anomalias!”

 

— Eu pensava que era o Macrocosmo que causava esse tipo de coisa e que fosse ele a permitir que indivíduos como nós, que temos acesso à faculdade do Cosmo, moldássemos a realidade para gerar coisas que iam contra a lógica de toda a natureza física e humana.

 

— Não obstante, você não deixa de estar correto, Sendhil. Mas, existe uma grande diferença entre o poder do Macrocosmo e as Anomalias.

 

“Enquanto o poder do primeiro age em concordância com o equilíbrio dos três planos, não os prejudicando...”

 

“O outro é uma imposição pela força.”

 

“No nosso caso em específico, eu pretendo forçar minha vontade sobre aquilo que implica a existência do selo, determinando seu breve sumiço nessa linha temporal, através do poder de uma Anomalia.”

 

“Usaremos esse momento de, não existência do selo, para retirar Kanon de dentro da cela.”

 

Uma pausa.

 

— Entenda que eu não estou oferecendo os meios para a realidade criar isso.

 

“Não existe para ela o como...”

 

“Apenas minha vontade.”

 

“Eu quero!”

 

“E graças as Anomalias, isso basta.”

 

O silêncio perdurou entre eles por um instante.

 

Entendi...

 

“Mas Rachel...”

 

“Não seria mais prático usar isso para trazer Kanon de dentro da caverna até nós?”

 

“Ou ainda melhor, desejar que nós três já estivéssemos em segurança fora desse Santuário?”

 

— Apesar do que eu disse, existem algumas complicações em relação a esse poder, Sendhil...

 

“Você se esquece do poder de inibição do Selo de Athena, que provavelmente, anularia o poder da Anomalia quando essa fosse usada dentro de sua área de ação.”

 

“A menos, claro, que eu a usasse para fazer o selo deixar de existir e depois gerasse outra Anomalia para fazer o que sugeriu, contudo, gerar duas dessas coisas simultaneamente, vai além da minha capacidade.”

 

“Outro ponto que você precisa entender em relação a esse poder é que se deve forçar a realidade com muito cuidado.”

 

“Se algo previamente, determinado pelo destino, for alterado, uma catástrofe pode acontecer, colocando em risco toda existência.”

 

Sendhil engoliu um seco.

 

— Estou agora compreendendo, Rachel...

 

Os triângulos cósmicos continuavam se multiplicando.

 

Cobriam agora toda a área do Sunion.

 

— Mas há algo nisso que falou que me deixou com uma dúvida...

 

“Se apenas essas tais Moiras possuem o poder das Anomalias, como é que você também o tem?”

 

Sendhil percebeu, de imediato, na expressão de desconforto da parceira, que não deveria ter feito aquela pergunta, estava prestes a emendar um “deixa isso para lá”, quando a voz de Rachel, num tom disfarçado de neutralidade, interpelou-o:

 

— Numa época bastante remota, uma das Irmãs do Destino se apaixonara por um homem e de sua copulação com o mesmo, nascera uma criança: Merlin!

 

“Este herdara, geneticamente de sua mãe, o mesmo dom... maldição... de sobrepujar a realidade...”

 

“Anos mais tarde, em meio ao interlúdio da primeira Guerra Santa contra Poseídon, Merlin e suas filhas Morgana, Medeia, Circe e Hecate, tentariam, por meio de um ritual com Anomalias, gerar um ser, mais precisamente um Djinn(2), que viria a ser chamado de Graal, para que esse realizasse todos desejos impostos por eles, forçando a realidade, em comunhão plena com o destino, para que essa, os concedessem, sem gerar a partir disso, a ruptura dos três planos:”

 

“Assim esses Bruxos — assim era o termo usado por Merlin, e sua prole, para se apresentarem — poderiam fazer qualquer coisa, até mesmo, alterar um evento do passado.”

 

“Temendo as consequências disso, o Santuário enviara dos seus para deter a criação desse Djinn.”

 

“Após uma confrontação calamitosa, inclusive contra a própria criatura realizadora de desejos, aquele que haveria de se tornar o Cavaleiro de Ouro de Capricórnio mais famoso em toda história, Arthur, conseguira o pretendido, aniquilando Merlin e suas filhas, juntamente com o ser, que geraram.”

 

"Dessa forma o Santuário pensava estar livre da ameaça das Anomalias, já que além das Moiras, apenas esses falecidos Bruxos, tinham acesso a esse poder.”

 

“Mal sabia este, que Morgana, Medeia, Circe e Hecate haviam deixado descendência, e que muitos destes, nas gerações que estariam por vir, portariam essa faculdade.”

 

Complementou a ruiva.

 

— E-Então você...

 

— Sim e minha progênie remete a Morgana.

 

“Foi por causa disso que o Santuário enviou um de seus Agentes atrás de mim na Inglaterra...”

 

“Dissera aos meus pais, que aquilo que eu podia fazer era algo único, uma dádiva que estava destinada à grandeza e o bem estar de todos.”

 

“Minha família não estava, verdadeiramente, interessada naquilo que lhe fora falado, achavam que sua única filha era algum tipo de monstro e quando se depararam com a chance de se livrar desse fardo, não pensaram duas vezes.”

 

A voz de Rachel soava fria e cortante como o gelo.

 

— Levada pelo Agente até o Santuário, eu demorei anos para descobrir os verdadeiros propósitos deles, em relação a mim...

 

“Em nome da manutenção daquilo que chamavam de ‘paz’, queriam me transformar em algo parecido com o Djinn de Merlin!”

 

 

(1): Tendo como inspiração a Mansão Argenta da Middle Age, dentro do universo das Crônicas de Athena, o Palácio de Prata seria a morada, dentro do perímetro do Santuário, dos Cavaleiros que representam a segunda força do exército da Deusa da Sabedoria.

 

(2): Tratados, normalmente, como ‘Gênios’ capazes da realização de desejos, os Djinns são naturais da mitologia árabe, sua origem dar-se-ia muitos anos antes da criação de Adão, sendo estes, comparados em sua glória e posição, aos anjos.

Editado por Leandro Maciel Bacelar
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  • 1 mês depois...

LEMBRE A HISTÓRIA

 

Epílogo (Primeira Parte): Passasse algum tempo desde que Saga fora ordenado Cavaleiro de Ouro. Em Londres na Inglaterra, dois mercenários, Rachel e Sendhil, são contratados por um Lemuriano desconhecido de alcunha Warlock para que libertem Kanon de sua prisão no Sunion.

 

Epílogo (Segunda Parte): Depois de invadirem o Santuário sem serem vistos, a dupla Rachel e Sendhil, munidos com as Armaduras Negras de Triângulo e Cão Maior respectivamente, se veem frente a frente com os Soldados de Athena. Rachel abate, a tiros, facilmente dois deles. Sendhil, de posse de sua técnica FERA HUMANA, também não encontra dificuldades para remover do seu caminho os soldados Serov e Yun. No entanto, Petrus, outro Soldado de Athena, intercepta-o e um combate entre eles tem seu prenúncio.

 

Epílogo (Terceira Parte): Sendhil acaba derrotado e depois de ser posto fora de ação, se vê diante de um cerco e prestes a ser encarcerado no Sunion. Não tão distante dali, sua parceira, Rachel, até tenta ajudá-lo, mas o disparo do rifle empunhado por ela, que teria abatido pelas costas, Petrus, acaba sendo interceptado pela flecha disparada por Rosavia, uma das Amazonas de Athena. Como Sendhil, Rachel também se vê em sérios apuros, já que após ter sua arma avariada, um grupo de soldados a teria rodeado, todos prontos para abatê-la.

 

Epílogo (Quarta Parte): Numa amostra de suas incríveis habilidades, Rachel consegue vencer, numa única ação, todos os Soldados de Athena que a ameaçavam. Enquanto isso, não muito longe dali, um ‘anjo’ negro salvava Sendhil do cárcere no Sunion. Este se revela sendo Garan, o Cavaleiro Negro de Sagitário. Em seu encalço, o Santuário mobiliza Aioros.

 

Epílogo (Quinta Parte): O helicóptero, usado por Rachel e Sendhil na invasão do Santuário, acaba sendo descoberto por uma guarnição de Soldados de Athena. Estes levam a notícia até Algol. O Cavaleiro de Prata de Perseu, na incumbência da proteção daquela área como um dos Capitães da Guarda, e ciente deste, e de outros fatos, decide pessoalmente ir até a aeronave, onde espera confrontar os invasores em sua dedutível fuga do Santuário. Partindo de um raciocínio similar, ele também envia até o Sunion, um de seus Tenentes, Cavaleiro de Bronze, já que a prisão poderia ser outro bom palpite com relação aos intrusos e suas pretensões. Enquanto isso, o passado de Rachel vem à tona por meio desta, quando a dupla de Cavaleiros Negros interinos, finalmente chega até o local do cárcere de Kanon.

 

 

 

 

Epílogo (Prólogo da Revolta dos Cavaleiros Negros) — sexta parte

 

 

 

Santuário.

Descampado próximo ao Sunion

com Garan e Aioros.

 

 

Os imensos pares de asas emplumadas dos dois ‘anjos’ estavam tensionadas para frente, com boa parte de sua estrutura, se cruzando.

 

A distância que interpunha entre eles era mais que considerável.

 

Em volta, com uma cortina de pequenos sedimentos e umidade baixando, inúmeras flechas, negras e douradas, algumas fissuradas e com partes faltando, maculavam o solo enlameado, cravadas neste, semelhante a estacas.

 

Havia muitas delas enterradas, também, nos corpos delgados e musculosos daqueles dois.

 

Mas graças ao exuberante robe metálico que os vestia, os danos pareciam pouco afetá-los.

 

Na verdade, a impressão que se tinha, era que as hastes haviam penetrado nas armaduras, mas não totalmente nos corpos daqueles que as envergavam.

 

Sangue vertia discreto dos lábios de Garan e Aioros!

 

O Cavaleiro Negro sorria desafiador para seu rival, já este, mantinha sua habitual serenidade que o tornava implacável.

 

Num movimento contrário, as asas de ambos voltaram para suas posições originais, contudo, mantendo-se eretas e espalhafatosas as costas.

 

FLECHA ALADA!

 

Sentenciaram juntos, quase em uníssono, clamando o nome da mesma técnica.

 

Não tardou, e veio um ‘bater de asas’, e como das vezes anteriores, o movimento brusco serviu para desprender e impulsionar um enxame de penas, que em pleno voo, mediante ao som de dispositivos e encaixes internos, transformaram-se em flechas.

 

Logo a velocidade alcançada por estas, atingira a da luz, e as mesmas converteram-se, temporariamente, em radiantes fachos.

 

O choque entre os ‘raios’ acaba sendo inevitável e se assemelhava, em exuberância, a de estrelas cadentes se colidindo.

 

Um espetáculo estrondoso de luzes e destruição!

 

No solo, o número de flechas cravadas, ia aumentando.

 

Sobrevieram outras investidas.

 

E mais outras!

 

O véu de pó erguera-se de tal forma que cobrira quase todo descampado, ocultando por consequência, as figuras angelicais dos combatentes.

 

Súbito, o incessante encontro daquelas forças, que se insinuavam como clarões de dentro da imensa nuvem, interromperam-se e dois vultos adejaram engalfinhados, em direção aos céus.

 

Suas asas agitavam-se frenéticas na manutenção do voo enquanto eles trocavam socos e pontapés.

 

Cotovelos e joelhos também estavam sendo usados nas ofensivas.

 

No mesmo ímpeto, se defendiam.

 

Alternando esquivas rápidas com bloqueios sólidos.

 

Um ou outro golpe, esporadicamente, atingia o alvo, todavia não chegava a ser suficiente em sua potencialidade, para algo mais que não fosse, uma breve desestabilização.

 

Céu e terra alternavam suas posições enquanto os ‘anjos’ continuavam galgando as alturas.

 

Garan, o Sagitário Negro, também chamado de Deathlock, não parecia em desvantagem por ser aleijado.

 

Sua tenacidade parecia compensar a falta de um dos braços.

 

Em contrapartida, o Sagitário Dourado, Aioros, devido ao forte resfriado que o acometia, dava amostras prematuras de cansaço.

 

Parecia ter que desprender um esforço demasiado, na realização de cada uma de suas tarefas.

 

Algumas palavras, em relação ao embate deles no passado, suas trágicas relevâncias, em principais aquelas envolvendo a chacina de toda uma cidade pelas mãos de Garan, a perda do braço do Sagitário Negro e o tempo que passara em coma por causa de Aioros, a vestimenta agora trajada pelo Proscrito e como essa, nomeada de Doppelgänger, pasmem, além de salvaguardá-lo com a mesma indestrutibilidade de um dos doze trajes de ouro da elite de Athena, o permitia liberar tanto poder como a seu rival, igualando as coisas, haviam sido trocadas enquanto digladiavam, no entanto, o rugido reverberante do vento, as abafara, tornado-as pouco audíveis.

 

Acontece então de ambos interromperem a avalanche de golpes e extravasarem seus Cosmos, fazendo suas figuras refulgirem como se essas fossem algum tipo de entidade etérea, constituída unicamente de luz.

 

O pulso que os toma encolhe, aspirando a si próprio, concentrando-se em um dos punhos; esses são arremetidos, a curta distância, na direção um do outro, e antes que se colidam, os dedos das mãos se abrem, liberando uma carga destrutiva imensurável que fica dependurada.

 

No ponto caótico do conflito das energias, onde estás se mesclavam furiosamente, consumindo avidamente seus perpetradores, os céus noturnos, num arroubo, clareiam; pesadas nuvens de chuva são expurgadas, o próprio ar se torna denso, palpável e depois se incinera; um globo abrasivo, de proporções monumentais, ganhava mais e mais terreno; um dos seus pólos havia, inclusive, alcançado o chão, fazendo este afundar, desintegrando-se, se abrindo numa cratera.

 

Em todo Santuário, entre aqueles que estavam despertos do seu sono, não há quem pare para olhar o firmamento e contemplar, numa mistura de fascínio e terror, o nascimento daquela ‘estrela’.

 

Muitos sabiam que aquilo era o resultado calamitoso do confronto de um Cavaleiro de Ouro com um rival de semelhante poder.

 

Preces são feitas na mesma medida que comentários eram proferidos.

 

Em uma das adjacências, um pequeno vulto de capuz com um guarda-chuva, feições ocultas por uma Máscara de Silêncio, segurando alguma coisa em uma de suas delicadas mãos, corria desabalado, até o ponto onde os Sagitários se enfrentavam.

 

 

 

 

Enquanto isso, no Sunion,

em frente a cela de Kanon com

Sendhil e Rachel, que prosseguia no

relato de seu passado.

 

 

 

— A qualquer custo, desejavam que eu desenvolvesse essa maldição, para que assim, eu a usasse em seu favor...

 

Noesis(1), o Cavaleiro de Prata de Triângulo, foi designado como meu Tutor assim que coloquei meus pés no Santuário.”

 

“Ele era o único, naquela ocasião, com amplos conhecimentos sobre as Anomalias sendo tratado, inclusive, como a um especialista nessa habilidade.”

 

“Não tardou para que eu absorvesse dele o seu conhecimento e o colocasse em prática, sagrando-me assim, Amazona de Bronze da Constelação de Triângulo Austral.”

 

Silêncio.

 

Sendhil estava perplexo e sem palavras.

 

Durante todos os anos de convivência até aquele momento, passando pela primeira vez que se encontraram na Ilha da Rainha da Morte — ele, naquela época, sendo um escravo, e ela, uma provável candidata a Cavaleiro Negro — depois quando deixaram juntos o lugar, passando a viver em Londres, agindo como mercenários, a parceira nunca havia entrado em detalhes sobre sua vida passada e aquilo que vivenciara nos anos que estivera com os seguidores de Athena.

 

Jamais lhe revelara sua linhagem como sendo uma Bruxa, ou que já fora um Cavaleiro, tão pouco deixara seus sentimentos transparecerem de forma tão explicita como estava fazendo agora.

 

Era sempre comedida.

 

Reticentes.

 

Aquela situação estava realmente mexendo com ela.

 

Talvez a necessidade de recorrer as Anomalias tenha lhe despertado tais emoções.

 

O Cavaleiro Negro de Cão Maior queria fazer algumas perguntas...

 

Dizer que, se não quisesse, Rachel não precisava fazer nada daquilo.

 

A missão deles podia ir para o inferno!

 

Que Warlock se danasse com o seu maldito dinheiro e que o cretino dentro daquela cela imunda, Kanon, apodrecesse.

 

Mais que lhe falar tudo isso.

 

Sendhil queria oferecer a Rachel seu apoio incondicional.

 

Seu amor!

 

Mas temia a reação da parceira.

 

Não queria perdê-la!

 

— A amabilidade de todos no Santuário para com minha pessoa, me irritava.

 

A voz da Amazona Negra de Triângulo soara amarga e de forma inesperada.

 

Sendhil desistira de falar qualquer coisa.

 

Em silêncio, deixaria que ela desabafasse.

 

Contentaria em estar somente ali com ela.

 

— No fundo sabia que toda atenção e cuidados não passavam de uma farsa...

 

“Apenas um ardil para que me tivessem sobe seu controle.”

 

As palavras de Rachel ecoavam entre dentes, carregada agora de um ódio que há muito estava sendo contido.

 

— Eu comecei, finalmente, a entender isso, quando um Agente trouxera dos confins montanhosos da Índia, outro que também descendia das filhas de Merlin, mais precisamente um menino, para que este fosse ensinado por Noesis, na prática das Anomalias...

 

“Era uma criança gentil, educada e amável.”

 

“Sua bondade e pureza só podiam ser ofuscadas pela formosura de seu ser.”

 

“Aliás, tudo naquele menino parecia transcender.”

 

“Desde a aparência, gestos, conhecimento e... poder.”

 

“Sua simples presença e voz exerciam tal fascínio sobre as pessoas, que dá mesma forma como as mariposas são atraídas pelo fogo, essas eram arrebatadas para perto dele.”

 

Rachel fez nova pausa.

 

Parecia estar vivendo cada um daquelas lembranças que narrava de forma tão alucinada.

 

— Esse menino era muito mais jovem do que eu naquela época...

 

“Não devia ter nem a metade da idade que eu tinha.”

 

“Se chamava...”

 

Shaka.”

 

Sobreveio o silêncio e Sendhil percebeu que algo havia sido profundamente alterado no comportamento da parceira.

 

A recordação que agora estava vindo parecia ser ainda mais dolorosa.

 

O ódio e as lágrimas estavam sendo duramente contidos.

 

— Já havia passado cinco anos desde minha chegada ao Santuário, quando fomos de forma inesperada, Shaka e eu, convocados pelo Grande Mestre para lidar com uma situação que fugira ao controle...

 

“Um dos Sete Reis do Inferno...”

 

“O Mephisto Phoebos... portando a Malebolge(2) de Mammon(3) que representava o Pecado da Ganância...”

 

“Conseguira se libertar, graças ao enfraquecimento inesperado do Selo de Athena, que o aprisionava já algumas centenas de anos.”

 

“Uma vez solto, este tentara, sem sucesso, livrar seu pai Ares e o restante de sua corja.”

 

“Quando os Batedores confirmaram sua presença e o que estava tentando realizar, o Santuário não tardou em se mobilizar, enviando aquilo que tinha de melhor, para impedi-lo.”

 

“A divindade se viu confrontada por três poderosos Cavaleiros de Ouro que eram os últimos de sua geração, e pelo próprio Grande Mestre em pessoa, que pretendia a todo custo, selá-lo novamente.”

 

“Temendo ser uma vez mais aprisionado, o Deus Menor tomou uma decisão drástica e irreversível:”

 

DESENCARNAÇÃO(4)!”

 

“Assim como havia feito algumas divindades no passado, inclusive a própria Athena, que dispersara sua existência, repousando-a por toda eternidade, na região onde encontrara o seu Santuário, Phoebos abrira mão de sua unidade para fundir-se com objetos materiais e inanimados. Dessa forma, agora sua existência, estava para sempre, ligada com a de um pequeno vilarejo nas redondezas da Itália, na ilha Poveglia.”

 

“Envolvidos pela sua técnica COMA LETÁRGICO, as pessoas que por ali habitavam, foram forçadas a imergirem, cada qual, num sono profundo e só poderiam ser acordadas, caso o poder deste Daemon(5) de Ares sobre elas, fosse rechaçado.”

 

“Durante o torpor, a divindade ativara seu OPRESSÃO PARASITÁRIA, para vitimá-las com constantes pesadelos, alimentando assim, de seus temores, e fortalecendo-se.”

 

“Com seu REBENTOS DE PHOEBOS, ainda passara a personificar monstros destes pesadelos, reunindo diversos tipos de matéria no ambiente, para fornecer um corpo físico a essas criaturas astrais, tratadas como seus ‘filhos’.”

 

“Quando o Grande Mestre, e os Cavaleiros de Ouro que o acompanhavam adentraram o local onde Phoebos agora coabitava, se depararam com essas bestialidades.”

 

“Por mais que fossem destruídas, eram revividas quase que de imediato, já que suas existências não compreendiam aos corpos dos quais se apresentavam e sim, com os sonhos daqueles que as gerara.”

 

“Enquanto as pessoas não fossem libertas do poder mental que as afligiam, e continuassem a dormir, aquelas abominações jamais cessariam de existir no mundo físico.”

 

“E o problema não era somente esse.”

 

“À medida que aquele Rei do Inferno intensificava os pesadelos dos seus ‘reféns’, com sua INFUSÃO DE FOBIA — normalmente utilizada para incutir medos falsos em suas vítimas — as criaturas que imergiam dos sonhos, tornavam-se cada vez mais numerosas, formando um vasto exército.”

 

“Durante o transcorrer da batalha, mesmo com a perspectiva fatídica do fracasso e da aniquilação, Shion teve a oportunidade de selar Phoebos, mas o artefato da Deusa da Sabedoria acabara, para a surpresa de todos, mostrando-se incapaz de reter a essência da divindade, devido a essa estar agora, dispersada em uma área.”

 

“E não era somente com o lugar que o Mephisto de Mammon havia estabelecido uma conexão em definitivo, a DESENCARNAÇÃO, de alguma forma, alterara os princípios do COMA LETÁRGICO, o que acarretara que toda vez que alguém fosse pego por ela, ficaria sobe sua custódia como parte dele. Mesmo que fossem despertadas, o vínculo não cessaria. E caso fossem levadas para longe de sua presença, morreriam.”

 

“Em um determinado momento de júbilo, e estupidez, o filho de Ares, deixara escapar ao Grande Mestre que não era somente seu Cosmo que estava se fortalecendo com o medo que devorava de seus ‘reféns’, a DESECARNAÇÃO mais uma vez afetara suas habilidades, empregadas dessa vez na OPRESSÃO PARASITÁRIA, permitindo que ele expandisse de forma gradual, o espaço equivalente ao vilarejo.”

 

“Assim, em sua ganância desmedida, o Deus Menor tinha em mente, e agora os meios, para criar um novo reino na Terra.”

 

“Tal lugar o traria como único, e supremo governante, e mesmo seus pares, incluindo Zeus e seu próprio pai Ares, teriam que se curvar e sujeitar ante sua vontade.”

 

“Despreparado para aquela situação, Shion decidira sabiamente recuar e retornar ao Santuário para melhor pensar sobre tudo aquilo.”

 

A fuga só se faz possível, por intermédio do sacrifício de Serket, o Cavaleiro de Ouro de Escorpião, que acabara ficando para deter Phoebos e seus Bichos Papões(6) — esse era o nome popular pelo qual, o folclore mundano, chamava os filhos da divindade.”

 

“Depois de ponderar por dias com os Oficiantes, o Grande Mestre arquitetara um estratagema para deter aquela ameaça.”

 

“E foi aqui nesse ponto, onde Noesis, Shaka e eu, fomos envolvidos!”

 

 

 

 

No alto de uma colina,

nos limites das fronteiras

da Área Leste do Santuário.

 

 

 

— Observe querido Mu... ou como prefere ser chamado, Warlock... quando tudo se encaminha para o que planejei...

 

Quem falara era o vulto menor e encurvado de uma velha em andrajos, segurando cuidadosamente no colo de um de seus braços raquíticos, um livro negro sem qualquer adorno ou mesmo escrita em sua capa, que servisse ao propósito de identificá-lo.

 

— Sim...

 

Respondera o outro ao seu lado com habitual reverência; tratava-se de uma figura mediana, esguia, imponente como a um lorde em seus mínimos trejeitos, bastante jovem, com as feições inocente de uma donzela, imbuído dos traços marcantes dos Lemurianos, trajando a esplêndida Doppelgänger da constelação de Áries.

 

Às suas costas, há cerca de quinze metros, erguia-se os escombros fumegantes de uma torre de vigilância.

 

Inúmeros corpos mutilados, pertencentes aos Soldados de Athena, jaziam espalhados por todo o local, inertes e sem vida.

 

Próximos a eles e do que restara do monumento, um grupo de Cavaleiros Negros acabava por liquidar, com um indivíduo portando uma vestimenta brônzea.

 

— Não tardará o momento que a senhora recuperará o que é seu.

 

A velha sorriu ante essas palavras finais de Warlock, exibindo esta, desagradavelmente, as gengivas frouxas e com poucos dentes, de seus lábios murchos.

 

— Mal posso esperar por isso...

 

Acariciava agora, de forma quase erótica, o livro que segurava, dando a desagradável impressão de falar com ele:

 

— Meus adorados Tenma e Alone...

 

“Aproxima-se nossa tão aguardada reunião onde, dessa vez, ficaremos juntos, por toda eternidade!”

 

 

 

(1): Visto de uma mesma ótica, mas com as devidas adaptações, o ‘Noesis’, Cavaleiro de Prata de Triângulo, apresentado aqui nas Crônicas de Athena, seria o mesmo da franquia do Episódio G de Megumu Okada.

 

(2): Seguindo com o que é apresentado aqui no universo das Crônicas de Athena, a Malebolge é a armadura trajada por Ares e também por aqueles que combatem em suas fileiras.

 

(3): Citado em textos bíblicos, Mammom estaria ligado à abundância, avareza e o culto à riqueza, sendo também um dos Príncipes do Inferno e taxado como um dos prováveis filhos de Lúcifer. O nome Mammon tem origem aramaica e seu significado estaria associado ao dinheiro, alguns estudiosos, porém, sugerem ligações com os verbetes confiar ou ainda com a palavra hebréia matmon, que significa tesouro.

 

(4): O nome da técnica, DESENCARNAÇÃO, foi retirado da Saint Seiya — Guerras Mitológicas.

 

(5): Daemon refere-se, aqui nas Crônicas de Athena, ao nome pelo qual aqueles que servem a Ares, são chamados.

 

(6): Vindo das mitologias brasileira e portuguesa, estando também presente no restante da península Ibérica, os Bichos Papões seriam a personificação do medo, e também, ávidos devoradores de crianças desobedientes. Sua figura varia desde um ser gigantesco, a um trasgo ou duende. Aqui nas Crônicas de Athena, os Bichos Papões apresentam-se como indivíduos encapuzados que podem personificar, através de seus poderes transmorfos, os medos mais arraigados de suas vítimas, enlouquecendo-as. Sendo estes ainda, filhos de Phoebos, criados por seu pai, a partir dos pesadelos que o mesmo incuti naqueles que domina, por intermédio de sua força psíquica.

Editado por Leandro Maciel Bacelar
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