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Saint Seiya Reborn [Live Action]


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Eu meio que sonhei com a trama dessa fic e resolvi passar pro "papel" quando acordei. Tento retratar os personagens de forma mais humana/cotidiana e algumas características do universo estão diferentes nesse novo século. Justamente por isso decidi optar por usar "avatares" de atores reais, pensando em como seria uma adaptação de Saint Seiya para algo envolvendo pessoas reais. E também é legal brincar com isso, escolher atores que possam se encaixar no personagem x ou y. Por conta dessa proximidade com o mundo real, sigo obviamente as características físicas do mangá, embora misture algumas vezes, como o caso do Aldebaran que eu não retrataria como loiro.

 

Levo em conta dados como a morte de Hades e o fim do submundo mais alguns acontecimentos do ND, embora não dê para ser fiel a muita coisa já que a obra não foi finalizada.

A fic provavelmente será curtinha porque não garanto que irei escrever além do primeiro arco. Minha intenção é mais apresentar toda dinâmica, por isso nesse primeiro arco já irá aparecer os elementos vitais que compõe esse universo, como o grande vilão.

Muitos dos capítulos poderiam ter sido um só, mas resolvi dividi-los para não deixar nada imenso e, assim, facilitar a leitura.

 

 

 

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SINOPSE:

 

2017. O Santuário foi destruído, as guerras santas acabaram e o mundo agora vive sem influência dos deuses. Como última ação, Atena conseguiu livrar as almas de alguns dos seus amados santos, fazendo com que eles reencarnassem no novo mundo, onde poderiam ter a vida comum que ela lamenta ter-lhes usurpado. Sem memória e sem cosmo, aqueles que reencarnaram levavam uma vida normal até que uma estranha ameaça começa a pôr em risco a existência do planeta. Diante desse perigo, as lembranças de outra vida voltam à tona e os santos d'outrora renascem.

 

 

***

 

 

PRIMEIRO CAPÍTULO:

 

Prólogo

 

 

 

http://i.imgur.com/QyGCPkI.jpg

 

 

 

Violentas rajadas de vento açoitavam o seu rosto a medida que avançava. Lá em baixo, os prédios, casas, carros, árvores e pessoas tornaram-se vultos distorcidos ao passo que ele seguia em frente, sem saber bem para onde. Sentia-se como o céu fosse a sua segunda casa, mas não sentia a liberdade que a atividade deveria lhe proporcionar. Voava e voava, veloz como uma bala disparada ou devagar como uma pedra jogada contra um lago, não importava, nunca chegava em lugar nenhum. Quando ele parou, ofegante, planando sobre um selva de pedras, pôde, enfim, enxergá-la. "A águia!"

O animal voava em sua frente, batendo as asas negras, encarando-o com os olhos vermelhos antes de começar a gritar. "Será que é dela que estou fugindo?". De repente um barulho interrompeu o encontro. PI! PI! PI!, soou, vindo de todas as direções.

— O que você quer de mim? — Ele perguntou para a ave.

PI! PI! PI!, o barulho ficou mais forte, espantando o animal. Quis segui-la, mas a mesma sumiu entre as nuvens brancas. PI! PI! PI!, o barulho se tornou insuportável...

Acordou, espancando o despertador como fazia todas as manhãs.

"O mesmo sonho de sempre", Aaron Wind pensou. Virou a cabeça para olhar o dispositivo em sua cabeceira com a esperança de que ele estivesse errado, frustrando-se ao perceber que o ponteiro não marcava outra hora senão seis da manhã.

Enquanto escovava os dentes, após cumprir os rituais que todos cumprem quando acorda, Aaron encarou através do espelho os pelos crescendo no seu peito. "Tenho que tirá-los antes que a Cassie os note". Cassandra podia gostar de sua barba esquisita e tolerar os pelos do seu membro viril, pernas e braços, mas por alguma razão odiava aqueles que cresciam em seu peito.

Cuspira na pia a água e espuma acumuladas em sua boca e, ao levantar, viu que a imagem que refletia no espelho não era mais a dele, mas sim da águia, "a mesma do sonho". Fechou os olhos e balançou a cabeça, tentando espantar o sono. Quando os abriu de novo, o seu reflexo estava normal.

Desde pequeno que Aaron tem sonhos estranhos. Na maioria deles, ele está voando ou então cavalgando sozinho em verdes prados. Ultimamente, porém, uma águia vem lhe fazer companhia quando está no céu e um carneiro branco com chifres dourados interrompe as suas cavalgadas. Às vezes tinha até pesadelos envolvendo serpentes. Certa noite, quando devia ter os seus quatorze ou quinze anos, sonhara que impedia um homem com trajes estranhos de matar um indefeso bebê que repousava num berço de ouro. No fim, nenhum dos significados para sonhos que encontrou em buscas pela internet fez sentido para ele.

A escola estava como tinha que estar naquele horário. Crianças corriam de um lugar para outro do pátio, adolescentes flertavam em frente os armários, professores ostentavam suas canecas cheias de café e Aaron se dirigia com os seus livros e computador para a sala que daria a sua primeira aula do dia. Em um dos corredores, esbarrara com Cassandra, a professora novata de Matemática que ele estava conhecendo intimamente há dois meses. O encontro de hoje, porém, limitou-se a um bom dia e aceno, "as pessoas não podem desconfiar". Mas não deixou de reparar como ela estava linda, mesmo com os cabelos loiros presos, óculos e vestido de bolinhas vermelhas que escondia o belo decote que ele conhecia muito bem. Aaron desejara levá-la até o depósito de artigos esportivos e tomá-la ali mesmo, mas infelizmente o seu ímpeto sexual matutino tinha de ser contido nos dias de semana - exceto nas quintas que era a sua folga, "mas infelizmente não a dela".

Como todos os dias dos últimos dois anos de sua vida, Aaron passou a manhã e a tarde tentando ensinar para aquelas jovens criaturas um pouco sobre História. No intervalo para o almoço nem pôde se aproximar da doce e cheirosa Cassie pois o professor de geografia, Rickard, decidiu alugar os seus ouvidos para se queixar dos problemas com a família.

No término do expediente, Aaron se dirigia em passos cansados até a sua velha bicicleta amarela quando viu Cassandra acenando para ele de fora dos portões da instituição. Estava na companhia de uma pessoa, mulher ao que tudo indica. a desconhecida trajava uma blusa branca sob uma jaqueta azul, calça preta e um simpático chapéu da mesma cor; quando Aaron chegou mais perto, percebeu que óculos escuros lhe escondiam os olhos. As mulheres conversavam e nem perceberam quando ele chegou arrastando a sua bike.

— Você fala inglês tão bem! — Cassandra disse, tocando o braço pálido da outra. A bicicleta dela estava encostada na parede. - Você vai amar a escola, tem muitos alunos empolgados com a sua chegada. O que está achando da cidade? Se quiser, podemos sair mais tarde.

A mulher se limitou a rir e antes que respondesse, parece ter notado a presença do estranho.

— Olá. - Aaron cumprimentou, tímido. — Está pronta? — Perguntou, afoito. Os dois sempre voltavam para casa juntos, era o mesmo caminho, disso ninguém desconfiava.

— Oh, Aaron! — Cassie exclamou, sorridente. - Essa é aquela que a diretora falou, que vai ficar conosco por um tempo dando uma oficina de mangás.

A mulher tirou o óculos e o prendeu na blusa, revelando seus traços orientais. Aaron não se arriscaria em dizer de que país era, embora tudo indicasse que fosse japonesa.

— Ah, bem vinda. — Ele cumprimentou, sorrindo e estendendo a mão que não estava segurando a bike. - Sou o Aaron, professor de História. É um prazer conhecê-la.

A asiática riu de volta e apertou a sua mão.

 

— O prazer é meu. — Ela respondeu, soltando a mão dele logo em seguida. — Eu me chamo... Marin Washi.

***

SEGUNDO CAPÍTULO:

 

Cassandra

 

 

 

http://i.imgur.com/0z3s6Bs.jpg

 

 

Aaron acordou meia hora antes do despertador disparar. Sonhou que estava voando outra vez, mas a águia não estava mais lá. Hoje faz uma semana que a ave não visita mais os seus sonhos, tornando os voos sem rumo em uma caça sem sentido ao animal.

Cassandra estava deitada ao seu lado da cama, completamente vestida e entregue ao sono. O professor de História tivera uma grata surpresa quando a formosa colega de trabalho bateu em sua porta naquela noite. Porém, as expectativas que tinha foram frustradas ao perceber que, dessa vez, a moça não estava à procura de prazer - como costuma fazer quando vai até ele.

A Cassie que lhe procurou na noite anterior era diferente da mulher confiante, mandona, extrovertida, que sempre sabia o que fazer que ele estava acostumado. Pela primeira vez em dois meses, Aaron esteve diante da Cassandra vulnerável. "Você estava dormindo? Me desculpa, eu... Eu tô completamente perdida e não tenho ideia pra onde ir, me deixa entrar?", ela anunciara, inquieta.

A irmã havia sido atropelada, "minha única família", ela lhe disse com lágrimas nos olhos e a mão que estava segurando uma caneca com chá trêmula. Ele a confortou como pôde, aninhando-a até que ela caísse no sono. Apesar do trágico acidente, Aaron gostou daquele encontro diferente. Foi a primeira vez que sentiu que a sua relação com Cassandra podia ser mais do que sexo casual.

Acordou-a com uma tigela de porridge e mais palavras de conforto. Enquanto ele se arrumava para ir para escola que dava aula, ela se despediu, apressada. Naquela manhã os alunos ficaram sem aula de matemática e Aaron sentiu como se os corredores cheios de gente estivessem mais vazios.

Não estavam. A japonesa desenhista estava lá e, de alguma maneira estranha, Aaron esbarrava com ela a todo momento; às vezes até a flagrava olhando para ele e disfarçando assim que percebia que ele tinha notado. Rickard chegara a brincar que ela estava querendo algo. "Essa japa ta muito na sua", ele debochou no terceiro dia em que a mulher pisou no colégio. Mas quando comentou algo com Cassandra, ela gargalhou na sua cara e disse "Você não está se achando demais, fofo?".

Preocupado, Aaron mandou mensagens para a colega nas brechas que teve durante o dia. Durante a manhã e parte da tarde até obteve respostas, mas depois de um tempo, nada. Chegou em casa e se jogou no sofá, estava aliviado por ter se livrado da chuva que começou a castigar a cidade agora. Ligou a tv, passava uma entrevista de um nadador chamado Adonis Larsson que, por alguma razão que desconhecia, Aaron se interessou em assistir.

———

O barulho da chuva contra a janela era a única disputa com o som dos aparelhos que monitoram os batimentos cardíacos de Susanne Clarke. "16 anos", Cassandra pensou, parada diante do corpo adormecido e entubado da irmã. "Morta. Ela não vai mais acordar", lembrou-se. O coração bate, os órgão funcionam, mas a entusiasmada Sus não está mais lá. "Morte cerebral", as palavras do médico voltaram a sua cabeça, apunhalando o seu peito como se fossem punhais invisíveis.

Quanto mais pensava naquilo, mais achava demasiadamente ridículo para ser real. No dia anterior, estava ouvindo os relatos empolgados da irmã sobre o seu primeiro encontro com um rapaz dos seus sonhos. Combinaram de passar o final de semana juntos, fariam um piquenique, mas ela temia ter que adiar para o próximo por causa das provas. "Talvez o tenha adiado para sempre".

— Ahh minha irmã... — Ela murmurou, desabando em lágrimas. — Não me deixe sozinha, por favor... — Suplicava, limpando o nariz e o rosto encharcado com a palma da mão. — Eu prometi protegê-la... Por quê, meu Deus?

— Oh querida, eu sinto tanto. — Disse uma voz doce vinda de traz dela. Voz de mulher. — É chegada a hora.

Era a primeira vez que Cassandra estava vendo aquela médica. Tinha a pele morena, cabelo afro e o rosto mais lindo que a professora já viu. Engoliu o choro, respirou fundo e buscou as palavras.

— Eu não tô preparada doutora... — As lágrimas voltaram a sair, insistentes. — Eu não sei se posso...

— Eu entendo, meu bem. — A médica respondeu. Soava tão doce, completamente diferente do médico de antes. — Mas ela não está mais entre a gente, não há nada que possa ser feito. Exceto...

"Exceto...!"

Cassandra engoliu o choro outra vez, uma única palavra fez o chão que havia fugido dos seus pés voltar pro lugar.

— Como assim, doutora? — Cassandra perguntou, afoita. Agarrou o jaleco da médica e o sacudiu como se fosse uma pedinte clamando por alguma esmola. — Não entendo, Doutor Smith disse que era irreversível, ele...

— Ainda há uma opção. — A médica respondeu em um tom tranquilo, depositando a mão macia no braço de Cassandra. — No entanto, para isso nós iremos precisar de algo... Não sei se...

— De algo? — Cassandra interrompeu, chocada. Achava que o plano de saúde estava cobrindo tudo. — O que for preciso doutora, mas peço... por favor, salve a minha irmã! É mais dinheiro? Eu tenho minhas economias se for preciso...

— Não, bobinha. — Ela respondeu, sorrindo. — Nada de dinheiro.

— Então é de quê? — Cassandra estava confusa e agora começava a ficar irritada também. — De quê vocês precisam!?

A mão da médica subiu pelos braços nus de Cassandra até que chegasse ao seu rosto.

— De sua alma, meu doce. — Respondeu.

Editado por Meikai
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Sensacional...

 

Gostei da trama, realmente tem uma pegada diferente, um ar mais maduro, conseguiu me entreter e me fazer imaginar as cenas, pois para mim teve emoção, o ar estranho da professora oriental, a cena de afeto no acolhimento da colega de trabalho, o clima triste na cena do hospital e ainda deixou um ar de expectativa para o próximo capítulo.

 

Ainda mais, no meu ver, teve uma ótima escrita e encaixe do texto. Parabéns.

 

No aguardo do próximo capítulo.

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Sensacional...

 

Gostei da trama, realmente tem uma pegada diferente, um ar mais maduro, conseguiu me entreter e me fazer imaginar as cenas, pois para mim teve emoção, o ar estranho da professora oriental, a cena de afeto no acolhimento da colega de trabalho, o clima triste na cena do hospital e ainda deixou um ar de expectativa para o próximo capítulo.

 

Ainda mais, no meu ver, teve uma ótima escrita e encaixe do texto. Parabéns.

 

No aguardo do próximo capítulo.

 

Fico feliz que tenha gostado. Agradeço os elogios e espero que continue agradando nos próximos, que vão sair logo a seguir ^^

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TERCEIRO CAPÍTULO:

Olhos de Sangue

http://i.imgur.com/uaM4Ss3.jpg

Aaron estava sentado em uma das cadeiras com um copo de café nas mãos e os olhos fixos no caixão à sua frente, a mente, porém, estava muito distante. O último funeral em que esteve fora o do seus pais, há uns 5 anos. Morreram em um acidente de carro, deixando ele e o irmão órfãos. Aqueles dias foram tão cinzas que o professor evitava evocar tais memórias, embora o ambiente em que estava naquele momento tenha contribuído para que elas voltassem à tona.

 

Mas não foram apenas os fantasmas do passado que atormentaram Aaron durante a cerimônia, a ausência de Cassandra também. Faz mais de uma semana que a irmã dela morreu e desde então a sua colega vem se comportando de maneira estranha. Não atende mais as suas ligações, não responde as suas mensagens e nas vezes que ele a procurou, ela não o recebeu. "Ela precisa do tempo dela. É muito cedo ainda", dissera-lhe um dos professores quatro dias depois do enterro de Susanne, justificando as faltas da colega. "É muito cedo ainda", Rickard disse há cinco minutos, justificando a ausência da professora no velório de um dos alunos que ela mais gostava.

 

Quando a sua mente voltou a se alinhar com o corpo, Aaron deixou escapar um suspiro, balançou a cabeça e olhou para trás, flagrando a japonesa com trajes pretos olhando para ele. Estava sentada há três fileiras da cadeira em que ele sentava e ao perceber o olhar dele, abaixou a cabeça. "Jesus do céu, essa menina ta em todo lugar!", pensou, lamentando o fato de Cassandra não seguir o mesmo exemplo.

 

Quando anoiteceu, Aaron saiu de casa e foi até a escola que trabalha para pegar alguns materiais que ele havia esquecido em seu armário e que seriam necessários para o planejamento das próximas aulas. Era domingo e não tinha ninguém na instituição além dos funcionários que trabalhavam com manutenção e segurança. Ao menos era o que ele esperava, embora tenha visto um carro muito parecido com o da professora de biologia estacionado quando estava entrando no prédio. "Outra esquecida como eu, talvez".

 

No caminho passou por um pequeno memorial para o jovem Brandon. Uma criança doce e estudiosa no auge dos seus 13 anos. Ninguém conseguia entender como alguém dessa idade pode ter sofrido um ataque de coração, mas o fato era que ele foi encontrado morto na própria escola. "Se alguém estivesse com ele no momento, quem sabe ele poderia ter se salvado", Aaron lamentou enquanto subia as escadas. "Se eu não tivesse me machucado, meus pais não precisariam voltar daquela viagem e talvez estivessem vivos...", um pensamento teimoso voltou a sua cabeça e logo ele tratou de afastá-lo.

 

Estava no prédio da educação secundária. Havia 4 andares e ele estava no terceiro, onde se localizava a sala dos professores. Abriu a porta com a chave que pegou com um dos seguranças e adentrou ao cômodo escuro, acendendo a luz para que pudesse ir até o seu armário sem que esbarasse nos outros móveis. E lá estavam eles, os dois livros que precisava e o pendrive com os vídeos que desejava rever.

 

De repente, um grito agudo estrondou pelo corredor, assustando Aaron que deixou o material que estava segurando cair no chão. "Vem lá de cima", ele concluiu, abaixando-se para pegar as suas coisas. Olhou para trás pra conferir se algum dos responsáveis pela segurança estava vindo, como não viu nenhum, resolveu ele mesmo ir investigar a sua origem, correndo em direção da escada. O quarto andar estava vazio e ele continuou a correr até a porta que dava acesso ao terraço.

 

Foi recebido por uma rajada de vento gelado que o forçou a se encolher. Não havia lua nem estrelas no céu, o que fazia com que a visão do lugar dependesse de algumas poucas luzes que ainda estavam funcionando. Aaron deu alguns passos em frente, olhando para os lados até que enfim seus olhos encontrassem o que procurava.

 

Em uma das extremidades do terraço, viu uma mulher de costas ter o cabelo dourado soprado pelo vento. "Cassandra...", ele pensou. Tinham a mesma altura, as roupas pareciam com as que ela estava usando da última vez que se viram, mas os cabelos estavam tão emaranhados, como se não fossem penteados há dias. "Não é ela, Cassie é muito vaidosa para estar nesse estado".

 

— Olá... — Ele enfim tomou coragem de falar, dando passos tímidos para frente. — A senhorita está com algum proble...

 

Antes que terminasse a pergunta, o professor de história fora surpreendido por uma visão indesejada. Aos pés da moça de cabelos dourados havia uma mulher que ele se convenceu estar desmaiada, "Professora Christine...", ele deduziu ao notar o cabelo ruivo esparramado pelo chão cinzento e ligá-lo com o carro que vira antes de adentrar esse prédio. "O que diabos está acontecendo aqui!?", perguntava-se, dando passos cautelosos para trás. "Não há sinal de sangue", observou, "Ela tem que estar viva".

Quando a mulher de cabelos dourados decidira parar de fitar o vazio e voltou a atenção para Aaron, aconteceu o que ele mais temia.

 

— Ca-Cassie...! — O professor exclamou, com a boca aberta. A mão que segurava os livros começou a tremer. — O que você está fazendo aqui?

 

Era Cassandra. Aaron a conhecia há pouco tempo, é verdade, mas julgava ser o suficiente para ter certeza que ela era incapaz de ferir qualquer coisa. Relaxou os ombros e voltou a dar alguns passos pra frente. "Deve ser alguma mal entendido".

 

— Cassie eu a procurei tanto, por que você não...

 

Foi quando chegou mais perto que ele notou que havia algo estranho e deteve os seus passos. Embora sustentasse na face uma expressão de dor que Aaron desconhecia, A mulher parecia a mesma se não fosse um detalhe, os olhos se tornaram algo bizarro. O lugar que deveria ser branco estava completamente tomado pela cor vermelha, lembrando-lhe duas piscinas de sangue. A íris continuava lá, duas pequenas esferas — que a distância e a baixa iluminação não permitiram que ele identificasse a cor — nadando num lago vermelho.

 

— O que aconteceu com você? — Aaron falou, após sentir dificuldade de fazer com que as palavras saltassem de sua garganta. Sentiu que poderia estar gostando da colega mais do que ele achou que gostasse. — Vamos... eu ligarei para a emergência. — O que quer que ela tivesse, devia ser tratável.

 

Cassandra enfim saiu do lugar, dando passos curtos e se movendo de forma desengonçada. Ela estendeu um dos braços até ele, como se quisesse desesperadamente encurtar a distância entre os dois. Quando chegou perto o suficiente, Aaron pôde perceber que um líquido roxo brotava dos seus olhos, "lágrimas".

 

— Não chore, vai ficar tudo bem. — Mentiu, não fazia ideia do que iria fazer e ele mesmo estava tendo que se controlar para não entrar em desespero.

 

Quando os dedos pálidos de Cassandra estavam há poucos centímetros do rosto de Aaron, ele sentiu uma mão tocar o seu ombro e puxá-lo com violência. Livros voaram para longe enquanto ele caia de bunda no chão. Diante dele, uma mulher de costas dava um soco tão forte no rosto da sua colega que, de alguma forma inexplicável, fez com que ela voasse para longe, caindo sobre algumas cadeiras que tinham por ali.

 

— Cassie! — Ele levantou, apavorado. — O que você fez!?

 

"Marin...", percebeu. Uma brisa gelada fez com que o cabelo castanho da asiática dançasse no ar.

Ela não é mais a sua amante, senhor. — A japonesa falou. "Senhor?", ela não devia ser tão mais nova que ele e ele não era senhor de qualquer coisa. "Espere aí... amante?", não gostou de tal atrevimento. — É uma criatura decadente que se alimenta de almas para poder ficar forte. Costumo chamá-la de... leviatã.

***

QUARTO CAPÍTULO:

A Ovelha Negra da Família

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— Você só pode ser maluca. — Aaron esbravejou, ameaçando ir até a mulher loira mas sendo impedido por um puxão no braço. "Ouch! Ela é forte", arfou.

— Leviatãs foram criatur... — Ela começou a explicar, mas Aaron não queria ouvir.

— Eu sei o que são leviatãs e o que você acabou de bater não passa de uma mulher doente. — Ele disse, se dando o trabalho de responder a desenhista ninja. "Leviatãs", pensou na estúpida ideia, mas o que viu não se assemelha com nenhuma das versões desse mito que ele conhecia. "Essa mulher anda lendo mangás de mais". Tentou se soltar do aperto da japonesa, mas não teve sucesso. Foi quando notou a professora Christine ainda jogada no mesmo lugar, havia esquecido completamente dela quando vira Cassandra.

Os olhos de Aaron estavam fixos sobre a professora ruiva quando ele sentiu o braço livre novamente. Virou-se para buscar Cassandra, mas tudo que viu foi Marin golpear a barriga da loira com uma rápida sequência de socos, fazendo com que a mesma voasse longe outra vez. Notou que se não fossem as grades de proteção, ela teria passado além da extremidade do terraço.

— Ow, para com essa loucura! — Ele pediu, trêmulo. A mulher tinha uma força fora do normal, "Ou eu estou completamente louco ou ela não pode ser humana".

— Desculpe-me, mas eu não posso. — Ela respondeu, tranquila como se estivesse fazendo um bordado. — Tenho que mantê-lo a salvo até que desperte.

"Despertar? Eu não estou dormindo sua maluca", quis dizer.

E então percebeu que havia mais gente ali, duas pessoas, uma à sua esquerda e outra a direita. Aaron não saberia dizer se as mesmas estavam no lugar o tempo todo ou se acabaram de aparecer, mas se sentia estranhamente desconfortável com a presença de ambas.

— Olá...?

As duas começaram a se aproximar, silenciosas como uma sombra e lentas como uma lesma. Quando chegaram mais perto, Aaron descobriu que conhecia uma delas. A mulher corpulenta de vestido negro e cabelos da mesma cor era a mãe do jovem Brandon.

— JAL! O que está fazendo aqui? — Ele perguntou. A mulher estava chorando em seu ombro algumas horas atrás. "Isso não faz o menor sentido!", pensou, coçando os olhos para se certificar que este não era mais um dos seus sonhos.

— Ela não é mais a... — Marin disse, mas Aaron nem quis ouvi-la.

Elas estavam cada vez mais perto, numa distância em que tornara possível para Aaron notar que ambas tinham os mesmos olhos vermelhos de Cassandra. A que fazia companhia para Jal era uma jovem adolescente com roupão de hospital e a cabeça enfaixada, tinha idade pra ser a irmã de sua companheira... "Mas não é possível, ela está morta!". As duas também tinham uma expressão de sofrimento, como se não quisessem estar ali.

Marin passou pelo professor tão rápido que ele quase não notou. Em um piscar de olhos, a mulher japonesa lutava contra as outras duas, derrubando-as em segundos. "Seja o que for, elas não são oponentes para ela", concluiu.

Sentiu alguém atrás dele, "Cassandra!". Virou-se para tocá-la, mas Marin foi, outra vez, bem mais rápida, caindo do céu com um chute que enterrou a face da mulher loira no piso de concreto. No impacto, o próprio Aaron caiu no chão.

— NÃOO! — Ele gritou. Não era físico mas sabia que aquele movimento era humanamente impossível. Também não era das biológicas, mas sabia que um humano normal não teria sobrevivido a tamanho impacto.

— Nós somos santos de Atena. — Marin se explicou, em pé diante do professor e com a cabeça baixa enquanto o cabelo dançava no ritmo do vento. — Nosso dever é proteger a paz no mundo. É por isso que estamos aqui. — A voz dela era calma e segura.

"Nós", Aaron se perguntou o porquê dela falar no plural, já que não via mais ninguém ali além dos dois e das outras mulheres que a japonesa espancara.

— Sinto muito, mas é a hora de matá-las. — Ela continuou. — Esses monstros estão causando a desgraça dessa era e podem se tornar um problema maior caso obtenham energia suficiente para evoluir.

"evoluir?"

Aaron não entendia o que ela estava dizendo, mas a encarava, confuso. Até tinha se esquecido de se levantar. De alguma forma ela parecia querer protegê-lo, embora ele não entendesse o que aquele trio de mulheres silenciosas podia fazer contra ele.

Então Jal surgiu em suas costas, mas Aaron quase não teve tempo de reagir. A lutadora se adiantou, rápida e feroz, dando um soco tão poderoso no estômago da mulher corpulenta que a fez voar. O corpo da mãe de Brandon fora lançado em alta velocidade rumo a uma das extremidades do terraço até que se chocou com as grades de proteção. Aaron se espantou quando as grades não resistiram ao impacto e cederam, caindo terraço abaixo junto com o corpo da mulher.

"É hora de matá-las", a voz de Marin ecoou na cabeça do professor, fazendo com que ele percebesse que ela falava sério minutos atrás.

— Não! — Ele exclamou, arrastando-se alguns metros pelo chão até que se levantou e continuou correndo até a extremidade em que a mãe de Brandon caiu. Lá em baixo, foi possível ver as grades no chão e o corpo espatifado da mulher. "Pobre Jal, não merecia isso", lamentou.

— Ah não! — Uma voz de mulher soou do alto. E não era Marin. — Que crueldade!

Uma mulher e um homem estavam em pé sobre as grandes chaminés. Ela tinha a pele morena, cabelos emaranhados com um laço simpático de enfeite. Usava um jaleco, batom vermelho e brincos de argola. Ele, um homem branco e loiro que devia ter uns 1,80 de altura, parecia o segurança de alguma celebridade com o seu terno preto e óculos escuros.

— Quem são vocês? — Aaron perguntou, sentindo frio causado pela rajada de vento. Quando encarou Marin, ele a viu pela primeira vez com uma expressão confusa no rosto.

— Minhas pobres víboras. —A mulher de jaleco lamentou.

— Cuidado! — Marin alertou, com a voz tensa. — Parem onde estão! — Ameaçou os dois estranhos, embora tivesse soado mais como desesperada que ameaçadora.

A mulher desconhecida deu um salto de onde estava, pousando tranquilamente entre Aaron e Marin. Os olhos dela estavam fixos sobre o professor, "Não são olhos de sangue", ele percebeu, notando também que ela carregava uma espécie de bengala dourada.

— Pare ou eu...!! — Marin continuou e Aaron não sabia o que fazer. Estava encurralado entre a mulher de jaleco e a borda do terraço.

A desconhecida não deu ouvidos para Marin. "Devia ouvi-la", Aaron pensou, a japonesa não era alguém que ele gostaria de contrariar.

Marin saltou para deter o avanço lento e elegante da outra mulher, mas parou no caminho, caindo de cara no chão feito uma fruta podre. "Ué?". A morena gargalhou e deu de ombros.

— Que atrevimento. Quem é você mesmo? — Ela perguntou, sem olhar para trás ou parar de andar. Marin não respondeu. — Ah, a Águia, não é? — "Águia!", Aaron reparou. — Prata. Não tenho interesse em você, querida. O papo aqui é com meu irmãozinho.

"Irmãozinho?", o professor estranhou, "Não tenho irmãs, tenho apenas um irmão", quis dizer-lhe, mas julgou ser melhor ficar calado. Recordou-se, então, dos seus sonhos... da selva de pedra sob ele, da ave com olhos de rubi e penas brancas e negras tentando se comunicar.

De alguma forma, Aaron se sentia intimidado pela mulher de olhar sorridente. "E que olhos lindos...", reparou. Tinha recuado até onde deu, agora atrás dele havia apenas o penhasco.

— Oiee! — Ela cumprimentou quando ficou de frente para ele. — Amado Irmão, não está me reconhecendo não é? — A voz era doce e divertida. Ela tinha uma mão apoiada na bengala e a outra sobre o peito de Aaron, que ficou com medo de se desequilibrar e cair. — Sa-git-ta-rius. — Ela soletrou no ouvido dele, fazendo com que os pelos do seu corpo se arrepiassem. Estava tão perto que poderia beijá-lo se quisesse.

O professor não fazia ideia do que ela estava falando, mas estava apavorado com o vento soprando atrás dele e enjoado com o hálito e o perfume doce da mulher.

— Eu também renasci! — Ela continuou, empolgada. — Ophiuchus, o filho rebelde, veja só. — Sorriu orgulhosa. — Vamos irmãozinho, desperte e contemple a minha glória.

E então Aaron sentiu uma mão empurrar o seu peito fazendo o chão fugir de seus pés. A vista do terraço deu lugar a um céu escuro e sem estrelas, a rajada de vento transformou-se numa ventania que açoitava o seu corpo. "Não estou voando agora... estou... caindo", percebeu.

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  • 4 semanas depois...

QUINTO CAPÍTULO:



O Despertar



http://i.imgur.com/nEy99YM.png







Os músculos de Marin não reagiam, exceto o coração que batia tão rápido e forte que se tornara audível. "De onde vem esse medo?", ela se perguntava, com a face enterrada no chão gelado e o cabelo cobrindo-lhe quase toda a visão. Ainda conseguia ver alguma coisa, porém; viu, por exemplo, quando a estranha mulher se aproximou do lendário santo de Sagitário e o empurrou para a morte. Ela tentou com todas as suas forças se levantar e detê-la, mas se conseguiu se mover alguma coisa foi apenas poucos centímetros. Águias são predadores habilidosos na natureza, Marin gostava de pensar que era como uma delas, porém, no momento, sentia-se mais como a caça, como uma lebre indefesa que nem ao menos consegue fugir do seu terrível e desconhecido algoz.



"Eu vou morrer aqui", Marin sabia. Estava cercada por dois inimigos com cosmo bem superior ao dela, quase como... santos dourados. "Impossível...", repreendeu-se. O demônio que um dia tinha sido Cassandra estava de pé atrás dela e o outro que um dia fora uma jovem adolescente estava se movendo ao lado da mulher negra, Marin podia sentir a presença nefanda daquelas coisas mesmo com os olhos fechados. "Minha alma será devorada por elas".



De repente, ela sentiu um terceiro cosmo grandioso emergindo no céu. "Será... ele?". Ouviu um silvo sutil e o demônio adolescente caiu no chão.



— Até que enfim, meu irmão. — Ouviu a mulher com o cetro dourado dizer num tom divertido.



Foi quando Marin percebeu que já conseguia se mover outra vez, ajoelhando-se no chão. Olhou para cima e viu uma imagem que quase a fez chorar de alívio. "Ele conseguiu". Aaron pairava no céu com a cabeça baixa, claramente não era mais o mesmo homem que ela conviveu nas últimas semanas. Tinha um grande par de asas de um dourado transparente em suas costas e segurava um arco de mesma cor em uma mão. E o cosmo... o cosmo era o que poderia se esperar de um cavaleiro de ouro. "Aiolos...".



Aiolos sempre fora uma lenda para Marin e ela quase não podia acreditar que esteve tão perto dele por todo esse tempo. Estava tão maravilhada com a visão que nem percebeu que o demônio que um dia fora Cassandra estava em pé ao seu lado. Também não teve tempo de se defender, ouviu o silvar de uma flecha e, no mesmo instante, ela surgiu alojada entre os peitos da demônio-mulher. A flecha desapareceu e a leviatã foi ao chão antes que o jato de sangue roxo que jorrara da cavidade em seu busto se desfizesse no ar. "Uma projeção do cosmo dele, como as asas e o arco", a santa compreendera após presenciar a seta se desmaterializar.



— Aahh não, tão cruel. — A mulher de trajes branco disse, levando a mão à boca. — O filho exemplar e a desgraça da família, que belo encontro, não?



Marin não entendia o que ela dizia nem queria acreditar em quem ela aparentava ser, a única coisa óbvia era que o seu cosmo era assustador. O santo alado apontou o arco para a estranha, concentrando na ponta da flecha o seu cosmo brilhante e quente.



— Você que ousou profanar as almas dessas pessoas. — Aiolos começou a dizer. Sua voz era suave e melancólica, mas imponente, totalmente diferente do Aaron que Marin conhecera. — Eu a sentencio à morte.



E disparou. A flecha, porém, nunca atingiu ninguém.



Marin vira um discreto raio vermelho relampejar no céu, interceptando a flecha antes que ela encontrasse a sua vítima. Na frente da mulher com o cetro dourado, o homem de terno se posicionava de pé, com a mão direita apontada para cima. "Esse cosmo... Eu sei que o conheço, mas...", a águia tinha até esquecido da presença daquele homem, embora soubesse que havia sido ele quem a imobilizara minutos atrás.



—Viu, Sagittarius? É assim que um irmão deve agir com a sua irmãzinha. Não é... amado Scorpius?



"Milo...!??", Marin estava chocada. Por que ele estaria seguindo aquela mulher? "É possível que uma agulha detenha uma flecha?", a dúvida passou por sua cabeça, uma amostra do quão incríveis eram os santos de ouro.



— Milo, saia da frente. Meu problema não é com você. — Aiolos pediu, com outra flecha mirando para a mulher.



Mas Milo continuou com a boca fechada. Aiolos estava prestes a fazer um novo disparo quando o escorpião deu um grande salto, chegando até o santo alado e agarrando-lhe o pescoço. Os dois então despencaram rumo aos fundos da escola, sumindo do campo de visão da amazona de prata.



— Oh... Agora somos só nós duas. — A mulher anunciou, seu tom era de ameaça.



E então ela se virou para Marin, exibindo no rosto um sorriso macabro e emanando um terrível cosmo ameaçador. Aquilo fez a amazona recuar dois passos e assumir uma postura de luta. "Se vou morrer, ao menos morrerei lutando", pensou.



SEXTO CAPÍTULO:



Guerra dos Mil Dias



http://i.imgur.com/IUdHGre.png






Discretas gotas de chuva começaram a cair sobre os dois santos de ouro. Milo segurava o punho que Aiolos usara para atacá-lo e este fazia o mesmo com a mão que o companheiro levantara contra ele; joelhos flexionados, um projetando o seu corpo e força sobre o outro, cosmo emanando dos seus corpos... qualquer indivíduo do Santuário sabia o que tal posição anuncia: a famigerada Guerra de Mil Dias. "Isso deveria ser um crime. Se Atena estivesse viva nessa era, estaria chorando lágrimas de sangue", Aiolos lamentava, lutando para não vacilar e acabar se tornando uma presa do feroz escorpião dourado.



— Pare com essa loucura, Milo! — Pediu o homem que minutos atrás era apenas um professor de história. — Não é comigo que tu deves lutar, sabes muito bem disso! — Exclamou antes de cerrar os dentes.



Outra vez o antigo companheiro de Aiolos preferiu o silêncio como resposta, "ele era tão reservado assim em vida?", perguntou-se o dourado alado. Aiolos não o conhecia muito bem, era essa a verdade. Lembrava-se de quando ele era apenas uma criança na calorosa Grécia e de como algumas pessoas comentavam que algum dia o mesmo seria tão forte que iria conseguir aplicar catorze agulhas em seus adversários de uma única vez; quase mais nada além disso, afinal morrera antes que pudessem lutar juntos. Ainda assim o fizeram, uma vez, diante do muro das lamentações. Naquele dia Aiolos e todos os seus companheiros foram um só. "Irmãos", lembrou-se das palavras de Ophiuchus, "ela tem razão, todos eles foram meus irmãos um dia".



O equilíbrio de suas forças foi interrompido quando Milo tentou golpear o sagitariano com o joelho esquerdo. Prevendo o ataque, Aiolos saltara para trás, pousando sobre um contêiner.



— Aaron — O loiro engravatado enfim disse alguma coisa. O óculos escuro já não cobria mais os seus olhos. — É esse o seu nome não é?



Minutos atrás Aiolos chegara a suspeitar que Ophiuchus estava controlando o escorpião dourado com o seu poder, mas depois que os óculos dele caíram e agora que ele disse as suas primeiras palavras, a dúvida se esvaiu.



"É?", a pergunta deixou o dourado sem resposta e Milo não estava disposto a esperar que ele pensasse em uma. O ex-companheiro saltara na direção de Aiolos que, em resposta, saltou para a direita, desviando do poderoso ataque. Como um meteoro, o escorpião presenteou o contêiner com um soco mortal. Um nuvem de lixo voou pelos ares e antes mesmo que tocasse o chão, o homem estava novamente em cima de Aiolos, tentando acertá-lo com outro soco. O sagitariano projetou suas asas e voou para desviar, dando um giro e surpreendendo o companheiro com um chute no estômago que o fez ser arrastado para trás até que batesse suas costas em um dos postes de iluminação.



—Você sabe muito bem quem eu sou. — O santo alado falou, pairando no ar. A chuva ganhava mais força. — Essa luta não é necessária.



Aiolos sentiu o cosmo de Marin elevar-se. "Está lutando...", concluiu, olhando em direção do terraço da escola. "Ela não tem chances, tenho que ir até lá ou então...". Sua preocupação foi interrompida quando teve que desviar de três raios que vinham em sua direção e agora ascendiam até sumir no céu se assemelhando a três estrelas carmesim. "Agulha escarlate", sabia. O golpe interceptara sua flecha antes. "Mais alguns centímetros e eu poderia estar acabado".



De repente, Aiolos sentiu uma forte pancada nas costas que o lançou de volta ao chão. Recuperou-se poucos centímetros antes de se estabanar, erguendo-se e vendo Milo segurando o enorme poste de luz. "As agulhas foram distrações", percebeu. O Escorpião lançou a imensa barra de metal até ele, que contra-atacou com uma flecha que facilmente dividiu a peça metálica ao meio enquanto seguia rumo ao adversário.



— Aaron. — Milo repetiu, novamente em cima de Aiolos que usou o seu arco para se defender dos socos que ele lhe dava. — Você nunca deixará de ser Aaron.



"Que teimosia!". Agora foi Aiolos que deixara o arco de lado para atacá-lo com socos e pontapés enquanto o mesmo se defendia com seus braços e esquivas. Se dois cavaleiros de ouro lutassem com toda a sua força, não apenas aquela escola como todo o seu entorno já teria sido destruído. Por sorte, o escorpião não queria chamar atenção tanto quanto ele.



— Aiolos de Sagitário. — O ex-professor disse, avançando com os seus ataques. — Esse é quem eu sempre fui.



Milo sorriu pela primeira vez.



— Então por que fala comigo em inglês? — Ele perguntou, com um riso no canto de boca.



E Aiolos vacilou, sendo atingido por um contra-ataque do escorpião. Dois socos no rosto e uma joelhada no estômago. Pela primeira vez durante aquele combate o sagitariano percebeu que o escorpião estava falando em Grego enquanto ele respondia em inglês.



— Pai... Mãe... — O escorpiano murmurava enquanto atingia o ex-companheiro com socos. — Irmãos... Irmãs... Primos... — Um soco a cada palavra que murmurava, sempre em grego. — Tias, tios, avôs, avós, amantes... — Mais alguns socos. — Todas essas coisas que aprendemos a viver sem enquanto cavaleiros não sumiram porque recuperamos a memória. Você é Aaron e nunca deixará de sê-lo.



E o sagitariano enfim conseguiu agarrar os punhos do companheiro dourado. Quando o soltou para tentar atacá-lo, ele reagiu e os dois entraram novamente na posição de guerra dos mil dias.



— Aaron ou Aiolos... Isso não importa. — O professor respondeu em inglês. — Meu inimigo e o meu dever são os mesmos!


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