O PERDÃO
Assim como um bom Maestro, Shion orquestrava com sabedoria centenária as melodias da situação com simples manejos singelos, porém precisos. Conduzia de forma calculada cada movimento seu em resposta a desenvoltura perturbada de Camus, que já por várias vezes se mostrou confuso, e por algumas vezes relutante em ações pecaminosas.
Disparar o “Pó de Diamantes”, era mais uma das suas frenesis motivadas pelo maldito feitiço. Mas do outro lado, Shion parecia compreender o que na verdade estava se passando. Pois Segundo ele mesmo, Shion, conhecia plenamente cada um dos seus cavaleiros, e tais ações demostradas por Camus, não condiziam com a sua verdadeira identidade.
O carneiro dourado parecia ter toda a situação desenhada ao seu favor, tinha ao seu alcance um leque de opções para com o cenário atual que se destacava ao feixe de luz cristalizado do aquariano. Usar uma de suas técnicas mais poderosas para conter o avanço do golpe, foi golpe de “mestre”... literalmente dito.
– Humph!?!
Por mais surpresas que se revelassem nessa peleja, Camus deixou se vencer por mais uma. Por mais uma vez, inconformado assistiu ao seu poderoso golpe sumir num passe de mágica.
“Novamente! Será que não existe meios de vencê-lo?”
Indagava-se o jovem cavaleiro ao perceber que mais uma investida sua fora completamente anulada. Persisti seria o único meio, mas;
“Mas não desisti...re...i... Arghh!!!”
Suas pernas por um instante mesmo trêmulas se enrijeceram, e da mesma forma o estímulo se propagou pelo seu corpo. O suor frio lhe banhava a face como também descia pelos seus braços, tórax e pernas.
– QUEIMA... está queimando!!! – Narrava ele a sensação de ardência que lhe corria por todo o corpo.
“O que está acontecendo... comigo???”
Seus olhos eram inundados pelas mais sinceras lágrimas que fluíam em resposta a dor de sua alma; – Não... NÃO... NÃO POSSO!!!
O velho mestre achou o momento oportuno para agir, e sem delongas disparou um intenso diálogo como se dirigisse diretamente a alma de seu cavaleiro.
Alguns estalos podiam ser ouvidos de seu relutante corpo, que se rendia a fadiga psicológica e dor. Tão logo, seus joelhos mais uma vez se dobram e Camus cai sobre eles apoiando as duas mãos espalmadas ao carpete aveludado.
A voz de Shion parecia perfurar sua mente, ecoava por inúmeras vezes por sua cabeça que se desdobrava para reorganizar seus pensamentos, enquanto o seu corpo permanecia inerte. Via-se também lágrimas despencarem de sua pálida face.
“SAGA... SA... GA!!! Cavaleiro... de... Aquário!!!
Pouco a pouco sua consciência dava sinais de recuperação. Camus sentia seu corpo queimar de dentro pra fora. E isso parecia ser efeito do ultimato provocado pelo Grande Mestre, que, sabiamente guardava essa carta na manga.
O Aquariano por um instante fecha seus olhos, da mesma forma cerra seus punhos. Busca o equilíbrio de sua respiração numa profunda inspiração preenchendo cada vazio de seus pulmões. Tão logo o ar logo lhe escapa pelos lábios, no exato momento em que seus olhos tornam a se abrir.
O silêncio naquele vasto salão era dominante. Então Camus com um pouco de esforço volta a ficar de pé, mas ainda permanecia de cabeça baixa.
– Grande... Mestre... – Sua voz era diminuta, serena como outrora.
– Eu... eu...
Ergueu sua cabeça trazendo consigo um aspecto limpo, seu semblante não transparecia está mais carregado de maldade, assim como antes. Agora, suas expressões faciais recordavam o Camus, sereno, frio e misterioso de antes.
– Grande Mestre, Shion, não consigo mensurar o mal que eu possa ter lhe causado. Na verdade, não sei exatamente o que aconteceu comigo.
– Mas de toda forma... – Ajoelhou-se imediatamente e continuou ; – Peço o seu perdão e o de Athena por minhas ações involuntárias! Não sei como reparar o meu erro, mas me disponho a sofrer qualquer tipo de punição!