O Despertar da estrela.
As manhas na vila transcorria como sempre, colonos carregando seus mantimentos, senhoras lavando as suas roupas sempre com os olhos atentos aos seus filhos, guardas percorrendo as vielas tomando conta da segurança dos moradores, tudo parecia bem normal, mas algo no fundo do meu ser sabia que em breve alguma coisa estaria por vir, porém eu ainda não tinha consciência ao certo do que seria ou do que era, mas tilintou em minha mente por horas, fazendo com que eu despertar-se dos meus sonhos juvenis. Preguiçosamente levantei de minha cama com o sol banhando meu rosto, esfreguei meus olhos e notei que meus amigos e irmãos de lar ainda permaneciam dormindo, respirei fundo deixando apenas um delicado sorriso talhar minha face, coloquei as minhas vestes para assim poder correr até a venda, queria eu comprar algumas tintas antes que esta sensação que estava me assolando desaparecesse por completo, sai do orfanato lentamente, não queria acordar ninguém, na verdade queria fazer uma linda surpresa para os meus.
Caminhava lentamente pela rua principal da cidade, o sorriso parecia não querer deixar o meu rosto, estava muito animado com a criação que faria, este sentimento parecia querer explodir meu coração, mas para isso eu precisaria de um item em especial, um frasco de uma cor única e rara, esta me desolava a cada tentativa, mas não me daria por vencido eu conseguiria esta cor para assim fazer a minha obra. Minha mente viajava durante o trajeto, lapsos da tela já pronta brotava ao fundo, era tão real que eu poderia dizer que a sentia, seu toque, o cheiro da tinta, isso era uma sensação sublime. Adentrei a loja do senhor sem deixar aquele brilho de esperança se apagar de meus olhos, ele sorriu para mim deixando seus bigodes dançar pelo seu rosto cansado, ele entrou em seu estoque para ver se tinha o que eu tanto queria, segurei em meu colarinho como se aquilo pudesse dar uma certa sorte ao senhor em encontrar exatamente o que eu desejava.
Calmamente ele se aproximou de mim e abriu um imenso sorriso, entregou-me o frasco da cor mais próxima da qual eu almejava, olhei para este frasco como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, entreguei a ele as minhas economias que havia feito a muito tempo, ele apenas colocou as mãos na cintura e antes mesmo que eu saísse de seu estabelecimento, afagou os meus cabelos, confesso que não gostei muito da ação dele, porém estava tão imerso em meus pensamentos e naquele objeto que não lhe proferi nenhuma palavra. Guardei em meu bolso como se a minha vida dependesse de tal coisa, parece exagero, mas para alguém em minhas condições não poderia ter reação menor que esta, assim segui por um acesso secundário para chegar o mais rápido que podia no orfanato ao qual eu morava.
Sentia como se estivesse caminhando no céu, meus pés certamente estariam se aconchegando por entre as fofas nuvens, mal conseguia sentir eles, estava totalmente envolvo sob um tipo de névoa invisível aos olhos normais, aliás a qualquer tipo de olhos, era como se eu realmente estivesse sonhando acordado. Ergui meus olhos para aquela imensidão azul, admirando cada detalhe dos raios solares e das nuvens que pareciam brincar no céu naquela manhã tão encantadora, fechei meus olhos e inalei aquele perfume que vinha das flores das varandas de onde eu estava passando, meu sorriso parecia se alargar ainda mais, não sei como isso era possível, mas estava exatamente desta forma. Um som delicado chamou a minha atenção, em meus pés havia um lindo filhotinho, tinha aparecido do nada, ao menos eu não notei quando ele apareceu, o pobrezinho se deitou sob as minhas sandálias choramingando por carinho, como eu poderia resistir a algo tão puro assim, abaixei-me e o peguei em meu colo, foram minutos mágicos que passei com o pequeno.
Mas como todo o encanto este não seria diferente, daquele belíssimo momento que eu estava a ter com a bolinha de pelos em meu colo, este fora roubado por um estouro de búfalos furiosos, bem não eram a bem dizer búfalos, se tratava de alguns moleques desordeiros que viviam causando algazarras no vilarejo. No que estes colocaram os olhos sob mim e ao pequeno, pude notar o ódio que emanava dos olhos deles, certamente algo de ruim eles estavam a buscar, e pelo visto talvez eles tenham pensado que conseguiriam algo comigo ou com o pobre ao meu colo. Se aproximaram tão abruptamente de mim exigindo que eu entregasse o filhote, mas como eu poderia fazer isso, ele pelo visto só tinha a mim para protegê-lo, eu não era muito, mas já bastava para tentar salvaguardara-lo, o segurei com toda a força que eu poderia, meus olhos vertiam em lágrimas, como pessoas poderiam querer o mal de alguém tão indefeso, eu não conseguia entender as pessoas, isto me causava uma profunda tristeza.
Tentei ao máximo negociar pela vida do pequeno, mas parecia de nada adiantar, supliquei, roguei, mas eles só faziam rir e caçoar de minhas palavras. Até meu suado frasco de tinta entreguei a eles para que assim quem sabe nos deixassem em paz, bem isso pareceu dar certo, uma ponta de alívio tocou em meu peito, finalmente eles pareciam ir embora. Mas meu querido amigo surgia inesperadamente não sei de onde vindo em meu socorro, rapidamente ele golpeou os dois que estavam um pouco mais a esquerda, fazendo com que o outro caísse ao chão, posso dizer que eles ficaram furiosos com a atitude do meu irmãozinho, agarrei forte o cãozinho, mas com a fúria do maior fez com que eu não conseguisse mantê-lo seguro, o pequeno fora arrancado de meus braços como um ato de afronta.
Seu choro ao cair sob algumas caixas fez meu coração apertar cada vez mais, lágrimas caiam de meus olhos, corri em direção ao animalzinho, acariciava seus pelos, por força do destino ele não tinha se machucado muito, no outro lado da cena meu irmão brigava com os garotos, não conseguia escutar o que eles diziam, eu queria no entanto que aquilo não estivesse acontecendo, nunca gostei daquele tipo de atitude, violência não era algo que agradava meus ouvidos, supliquei para que eles parassem, mas a cena durou alguns minutos que para mim pareciam mais uma eternidade. Quando tudo parecia finalmente ter acabado, Tenma veio até mim com aquele sorriso maroto de sempre, bagunçando meus cabelos, devolveu-me o fresco que rapidamente cuidei de guardar novamente em meu bolso. Auxiliou-me a levantar e assim seguimos de volta ao nosso amado lar, bem ao menos a gente considerava assim.